Sincero sorriso

Carlos namorava Bruna. Mais de um ano de namoro e ele teve que ir morar em

outra cidade, não muito distante, para estudar.

Segundo os amigos, era um amor verdadeiro. Bruna era um pouco mais nova que

Carlos, mas suas afinidades e seu sentimento não tinham idade. Carlos e

Bruna haviam se conhecido por acaso numa festa na casa de Carlos. Bruna

procurava o banheiro e pediu informação a Carlos que, na hora perguntou quem

a tinha convidado, sem dizer que era o dono da casa. Ela dissera que estava

acompanhando Ana Cláudia, amiga de Carlos. Depois disso não se viram até o

fim da festa. Havia muitas pessoas, inclusive uma ex- namorada de Carlos

chamada Alice que havia chegado de surpresa com a intenção de tentar renovar

o namoro.

Perto do final da festa, havia poucas pessoas restantes, Carlos chamou Bruna

pra dançar com a intenção de fazer ciúmes à Alice. Começaram a conversar e

Bruna disse que queria ser apresentada ao dono da casa antes de ir embora,

nesse instante Carlos se apresentou como dono da casa e pediu que ela

ficasse até o fim da festa, pois ele a deixaria em casa depois.

Alice saiu sem se despedir, deixando o caminho livre para o novo romance que

nascia. Depois desse dia nunca mais Carlos e Alice se viram.

No dia da mudança de Carlos, Bruna não foi vê-lo em casa. Encontraram-se

numa igreja próxima a casa dele e lá se despediram, prometendo continuar o

namoro mesmo em cidades diferentes.

Os primeiros dias foram muito angustiantes para os dois, mas saber que ainda

tinham um ao outro os mantinham fortes.

Apesar da dedicação total aos estudos, aos poucos Carlos começou a sair de

casa e conhecer novas pessoas.

Um dia, no caminho do cursinho, Carlos encontrou com Igor, antigo amigo seu

que não via há muitos anos. Na mesma semana Igor convidou Carlos para uma

festa. Nesta festa Carlos conheceu Rebeka, prima de Igor, e conversaram

longamente, descobrindo afinidades e iniciando uma amizade.

Não demorou muito para o inevitável rompimento do romance de Carlos e Bruna,

apesar de ainda gostar muito dela e, posteriormente ele descobrir que ela

também gostava dele. O amor é como uma planta que quando paramos de regar

ela morre. Por mais que se gostassem, a falta de contato os afastou e os fez

aproximar de novas pessoas.

Sempre que podia, Carlos ia ver Rebeka. Cada dia os dois se tornavam mais

próximos até que Carlos começou a sentir por ela algo mais que amizade.

Chegaram as férias de verão e Carlos fez uma longa viagem de férias,

perdendo o contato com Rebeka, mesmo ligando sempre que possível.

O que se seguiu foi uma série de desencontros entre os dois. Rebeka teve

outros relacionamentos e Carlos também. Coincidentemente, sempre que Carlos

estava só e ia a procura de Rebeka ela estava com alguém e sempre que ele

estava namorando ela sumia.

Depois de alguns anos, Carlos conheceu Fabiana. Namoraram por muito tempo e

pensavam até em casamento. Era um relacionamento conturbado pelo ciúme de

Fabiana e durante certo tempo, depois de alguns anos, Carlos começou a se

questionar sobre a intenção de casamento que tinham combinado.

As brigas constantes denunciavam o inevitável. Em um desses desentendimentos

Carlos e Fabiana romperam. Ela resolveu viajar, passar alguns dias fora para

pensar no relacionamento. Ele ficou, tinha compromissos profissionais que o

impediam de viajar, como ele mesmo desejava. Sair do ambiente onde ele havia

se habituado a freqüentar com ela era uma maneira de pensar melhor.

Por obra do acaso, estava Carlos em casa, assistindo TV quando resolveu ir à

casa de sua vizinha, Roseane, para pedir emprestado um CD dos Beatles que

ela tinha e ele gostava de ouvir para relaxar de vez em quando. Quando

chegou lá foi surpreendido por um pedido inusitado. Roseane, que não sabia

dirigir direito, apesar de ter um carro que havia ganhado a pouco tempo do

pai, perguntou se Carlos dirigiria para ela para lhe fazer um favor.

Desconfiada do namorado, ela pediu para Carlos ir com ela a um barzinho que

ele costuma freqüentar, a fim de dar um flagrante nele, que supostamente

estava com outra.

Quando chegaram ao bar, Ricardo, namorado de Roseane, realmente estava lá,

só que sozinho. Roseane inventou uma desculpa para que Ricardo não soubesse

que ela ira lá por desconfiança e ficaram, os três bebendo chope e

conversando normalmente.

Para surpresa de Carlos, depois de algum tempo no bar, Rebeka, chegou

acompanhada de umas amigas e amigos, porém sem namorado. Ele se aproximou, cumprimentou o pessoal e começaram a conversar. Não demorou muito e os dois

estavam intimamente ligados pelos lábios em um beijo que tinha um misto de

saudade, ânsia e felicidade.

No decorrer da noite pouco foi conversado. Rebeka havia bebido um pouco

demais, talvez pra criar coragem, e começou a se sentir mal. No outro dia

Rebeka viajou sem se despedir de Carlos que não sabia bem o que tinha

acontecido, apesar de ter gostado muito.

Foi uma semana de angústia. Carlos não sabia de ligava pra Fabiana ou pra

Rebeka. No fim, não foi necessária sua decisão. Fabiana voltou de viagem e

depois de uma longa conversa voltaram o namoro.

Na semana seguinte Rebeka chegou, Carlos foi vê-la e ela soube que ele

havia voltado pra Fabiana. Igor, primo de Rebeka e amigo de Carlos, tentava

convencer Carlos a mudar de idéia, deixar Fabiana e iniciar uma nova vida

com Rebeka. Era difícil se desvincular do relacionamento já tão longo e,

apesar de todas as brigas, eles até que se gostavam.

Carlos não teve coragem de jogar um namoro de quase quatro anos para se

aventurar em uma nova paixão. Era muito jovem para entender a importância de

se reavaliar relacionamentos desgastados e recomeçar. Era muito velho para

se admitir imaturo e inexperiente em relação a sua vida amorosa. Em sua luta

entre o orgulho e a vaidade, foi penalizado seu coração.

Depois de um certo tempo Carlos e Fabiana romperam definitivamente. Ele

ficou um tempo sozinho e ela pouco mais de um ano depois se casou com Abel.

Desde então a vida amorosa de Carlos resumia-se a namoros de três meses,

vários deles. Nunca passavam disso e, quando passavam não tinham intensidade

ou verdade. Era como se ele tivesse sido contaminado por um vírus que o

impedia de amar alguém.

Alguns anos depois ele reencontrou Rebeka, ela estava namorando Ângelo,

amigo em comum dos dois. No dia em que Rebeka descobrira, Carlos sentiu-se

mal. Chorou escondido e viu a ponta do iceberg que eram as suas atitudes no

passado e as conseqüências delas.

Como não era muito verdadeiro, o namoro de Ângelo e Rebeka não durou muito

e, a partir de então, Carlos iniciou um processo de reaproximação. Sempre

que podia ia visitar Rebeka e conversavam por horas. O assunto não

importava. Ele só queria estar perto dela para tentar recuperar a

cumplicidade que tinham em tempos atrás e aos poucos descobrir se o que

sentia por ela era amor, paixão ou simplesmente amizade.

O tempo foi passando e o contato entre os dois foi sempre morno.

Nem esquentava, pois não tinham coragem de inflamar o assunto, apesar de ter

muito que se explicar sobre o passado dos dois, nem esfriava, pois estavam

sempre em contato.

Até que finalmente, um dia, Carlos criou coragem e foi até a casa de Rebeka

para conversarem. Sem rodeios, ele foi direto ao assunto, relembrando

imediatamente o dia em que tinham ficado no barzinho. A partir daí,

desenrolou-se uma conversa franca sem meias palavras e conseguiram colocar

tudo em pratos limpos.

Conversaram por horas e horas até chegarem à conclusão de que ela não sentia

por ele mais do que amizade, e ele estava erradamente apaixonado por ela por

uma série de outros fatores, não os que geralmente nos fazem sentir paixão

por alguém, mas os que nos fazem sentir carinho e amizade. Ele havia

confundido isso. Poderiam até ter tido um romance, mas o amor entre os dois

foi como um trem que só passou uma vez e ele deixou ir embora para embarcar

em outra estação. Rebeka jamais esquecera esse episódio e não o perdoava por

isso. Neste dia finalmente conseguiram se acertar e decidiram iniciar uma

nova vida. Iriam a partir de então buscar a amizade que não existia entre os

dois, pois durante sua vida toda só haviam procurado um amor que não existia

mais, assim sendo, nunca namoravam e nem sequer conseguiram virar bons

amigos.

Carlos e rebeka se abraçaram longamente, ele se despediu com um sorriso

sincero e foi embora. Levou um tempo para ele se acostumar com a idéia.

Decidiu deitar no sofá e dormiu um sono profundo embalado pelo som de Zeca

Baleiro cantando “telegrama” no som e lhe fazendo sentir o fio da meada da

vida de volta às suas mãos.

Ganhara uma amiga sincera e estava finalmente livre para procurar seu grande

amor.

Braulio Filho
Enviado por Braulio Filho em 23/07/2006
Código do texto: T200121