Tremelique

Eu tinha só onze anos quando o conheci.

E me apaixonei. De verdade.

Não dessas como agora que voce sente a falta do peso sobre si e a perna entrelaçada,querendo a pessoa ali ;

Mas eu o queria comigo também, em todos os momentos...Como toda paixão. Desesperadamente.

Na cantina na hora de comer um lanche, trocando um olhar na quadra de esportes,não faltando na aula porque só ia por ele, sentindo o seu sorriso quando eu ligava e ficava muda porque não sabia o que falar....

E ligava sempre, mesmo sempre não sabendo o que falar....

Os anos foram passando e eu sempre ali...

Mandando cartões, dando parabéns em aniversário, soprando meu amor, como chuva fina, garoa paulista, que mesmo levinha, é presente e dá para molhar...

Dessas que marca a gente. Molha a alma.

E marcou. Ele me disse hoje.

Foram cinemas combinados que eu passei tardes inteiras me arrumando e ele não foi, horas esperando em um ponto de encontro e não apareceu...

Foram imensas, enormes, inúmeras, contínuas, periódicas, escandalosas, pesadas, grossas, ímpares, pares, preciosas, incontáveis, lágrimas que derrramei...

Muitas vezes escondida, abafando com a mão para minha mãe não perceber; Mas ela percebia. E pegou raiva mortal dele. rs

E quando adolescente, lá pelos 16 anos, lágrimas agora escancaradas como cachoeiras, comportas inteiras,

abertas nos ombros de alguma amiga.

É muito estranho quando voce faz de alguém o motivo de voce existir, de sua felicidade, e a um simples sorriso, voltar para casa como se flutuasse...

E então, vieram os beijos, os amassos nas escadas do meu prédio,foi a água mole em pedra dura, maçãs carameladas no jardim, nome escrito em baixo do tênis, e muita açúcar na geladeira, não sei, teve cartas de amor também, até que marcamos um dia na casa dele.

Concreto, concluído, terminado. Fato. Consumado.

Foi bom porque me entreguei por amor, foi bom porque depois de anos eu merecia ser com alguém especial, foi bom, porque ainda, mesmo com 17, eu o amava tanto e ele foi tão cuidadoso e presente, especial comigo....

Foi ótimo, porque foi por amor.

Mas tem um poema chamado "roleta russa" e diz: "..a vida gira....gira.....gira...."

Cansada de lágrimas, dei atenção a quem me quis.

Ele veio algumas vezes....Mas não tantas o sufiente, como eu fiz por ele, e fiquei com aquele, caminhos diferentes.

E vieram os outros....

Caminhos desencontrados e de novo achados, mas agora amigos.....

E rimos então, relembramos o passado, e trouxemos mais dez anos este carinho ao lado.

Agora eu não tinha mais meu porquinho tremelique, agora não era mais a adolescente da escada, era uma mulher com feridas totalmente curadas.

Incrível mas foram 20 anos nesta trajetória ás vezes parceira, ausente, sem notícias,as vezes paralela, mas sempre camarada.

Quando me liga no presente já sei o que falar, até peço para desligar...

Mas hoje ao me dizer tudo que sempre quis escutar, ao me pegar de surpresa no meio da tarde de um domingo em casa sem nada para fazer, e dizer tudo que me disse....

Hoje que somos universos opostos mas com amor ainda verdadeiro.

De amigos....

Mas eu.....como nos versos de Encandescente....(A Carta), já não esperava resposta.

Tragam meu tremelique, de volta.

Hoje novamente, ele me deixou sem palavras.

24/08/06

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