Foi assim que me salvei.

por duas horas eu esperei

agora não espero mais

a vida me prometeu

disse que uma oportunidade viria

todos me disseram que as coisas iriam se acertar

que tudo iria mudar

a maré viria pro meu lado

meus planos se realizariam

e a corda afrouxaria no pescoço

mera engano tolo

eram palavras mal usadas

só para reconfortar

um peito que um dia bateu tranqüilo

hoje aflito padece

inerte defronte essa magoa

que como câncer vai ganhando novas proporções

devastando tudo que sobrou

desertificando o vale

fazendo do peito erosão

devastação que acabou com a alimentação do ecossistema

sem comida o canibalismo foi inevitável

devorei tudo que eu fui

quando cheguei bem perto do osso

entendi aonde o ser é mais gostoso

enxerguei quem fui

e que nem tudo esta morto

já engordei alguns quilos

no melhor estilo sul-matogrossense

comendo mandioca

com arroz carreteiro

sopa paraguaia

bebendo tereré

pra recuperar a identidade

feijão preto

que é comida de gente de verdade

vou me curar

depressão pra mim é falha geológica

meu é forte

se recupera

aterrando a erosão

sem dar brecha pra vacilão

sou pé no chão

batido vermelho de terra

feito Terena misturado com negão

sangue forte de paraguaio

com swing de negão

meu novo nome

é recuperado

recuperação

o homem revigorado

com ação nas mãos.

Marco Cardoso
Enviado por Marco Cardoso em 08/09/2006
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