Prometeu Acorrentado: A força de continuar pensando por si mesmo

Prometeu, deus titã da era antes dos deuses olímpicos é o deus que mais ajudou Zeus em sua ascensão ao trono e a derrotar o deus titã, Cronos, seu irmão e aprisioná-lo para sempre. Após Zeus ter assumido o lugar de deus do Olimpo, ele planeja destruir toda a humanidade, mas Prometeu o aconselha a não fazer isso, mas Zeus já não o ouve, ele esquece-se de tudo o que o deus titã fez por ele e não lhe dá ouvidos. Inconformado com o fim da humanidade Prometeu rouba o fogo sagrado (conhecimento) e entrega aos homens dando assim a eles o conhecimento sobre a matemática, as ciências, as letras e a como eles podem lidar com a natureza. Completamente fora de si, Zeus ira-se contra Prometeu e o castiga o acorrentando em um local onde nunca mais ele possa se libertar.

Prometeu então é preso, acorrentado no Cáucaso por Hefesto acompanhados de Crato e Bia (poder e violência, servos de Zeus), devido ao deus ferreiro possuir um grande apreço por Prometeu, os dois acompanhantes tem o papel de o censurarem toda vez que o mesmo ponderar em prender o deus titã. Alem de estar preso Prometeu recebe um outro castigo terrível, o de um pássaro devorar seu fígado todos os dias e a noite o órgão se regenerar para que possa ser devorado novamente ao amanhecer. Triste e preso, Prometeu se queixa para as Oceânides da ingratidão do deus olímpico e da ingratidão dos homens por tudo que ele fez por eles, que dando o conhecimento aos homens e fazendo o que achara certo acabou por receber um castigo terrível.

Porém Prometeu não se rebaixa a Zeus, mesmo sendo punido pelos seus atos e afirma nunca arrepender-se do que fez e nunca humilhar-se a Zeus pedindo seu perdão, pois ele sabia que o que fez era o certo. Prometeu também afirma que Zeus não durará para sempre e que o destino de Zeus já esta premeditado, e que ele esperará o dia em que isto acontecerá e então será libertado.

Em sua terrível estadia no Cáucaso, Prometeu encontra-se com Io, outra que também sofre terríveis coisas devido ao comportamento excêntrico dos deuses, pois devido ao ciúme de Hera, Io deverá pelo resto da vida fugir de uma espécie de besouro que vive a atormentá-la. Prometeu pede a Io que siga até o rio Nilo, pois ali ela dará a luz a um filho do qual nas próximas gerações terá como descendente Herácles, que o livrará de seus tormentos.

Mesmo sofrendo, Prometeu continua a falar de suas previsões e que Zeus ainda cairá e ele será liberto. Instigado Zeus pede a Hermes que faça com que Hermes fale sobre essa sua profecia, entretanto Prometeu nega isso, mesmo sendo ameaçado de martírios piores do que os que já recebe, até então que Hermes desiste e Zeus então despeja sua ira no deus titã mais uma vez.

Mas o eu podemos tirar dessa tragédia para que possamos ser tocados por ela? Podemos obter várias interpretações, mas todas as que teremos, mesmo que falem de deuses, serão todas acerca de sentimentos e ações humanas e como Prometeu, tal como os outros personagens trágicos, os tem de forma sublime.

Vemos em primeiro momento a traição que ocorre entre Prometeu e Zeus, onde um trai o outro, um pelo roubo, outro pela ingratidão, mas esse não é a ação mais interessante dessa história. Temos a ação humana do compadecimento pela espécie humana, em que Prometeu rouba o conhecimento e dá aos homens, ao ponto de que Zeus ao ver os homens possuindo tal característica, decida desistir da idéia de aniquilá-los. O deus titã que nada tinha a ganhar com os homens e em momento estes lhe faziam algo de útil, teme seus futuros, pensa no inferior a ele e não deseja um destino cruel aos mesmos.

Por não desejar seu fim, Prometeu defende seu ideal que os homens não sejam extintos e paga por seu erro, sem castigar ninguém por isso. Entretanto, Prometeu lamenta-se por tanto ter feito e nada recebido em troca, mas espera o dia em que será livre outra vez. Prometeu tem suas idéias, tem suas convicções e mesmo que saiba que as abandoná-las pode ajudar a diminuir seu sofrimento, ele continua firme no que acredita, sem jamais deixar-se desviar do que acredita ser o certo. Ele sabe que no fim as coisas estarão certas e aguarda este final.

Eis o ponto chave dessa tragédia, ao meu ver, quantas pessoas suportam castigos para defender suas idéias? Quantas pessoas ainda possuem idéias diferentes sem o medo de serem julgadas malucas por pensarem diferente? De não acharem mais um lugar na sociedade que todos tanto almejam após exporem a sua opinião? Ninguém é humano o suficiente para tais ações, cada um prefere viver igual porque o diferente sempre é motivo de chacota, de piadas, de preconceito. E não precisamos ir longe para percebermos isto, basta pegarmos o exemplo que Platão deu em sua alegoria da caverna, onde aquele que pensou diferente foi morto por aqueles que não acreditavam no que ele dizia.

Prometeu foi humano ao assumir o que pensava, ao passar pelos sofrimentos que teve e mesmo assim defender o que ele achava certo, e eis o que também devemos fazer, sermos humanos o suficiente para defender o que acreditamos, mesmo que isto nos custe a própria liberdade, tal como foi com o deus titã.

Ellen Koteski
Enviado por Ellen Koteski em 26/04/2011
Código do texto: T2931972
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