OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA SERÃO SACIADOS

O evangelista Mateus presenteou a humanidade com belas passagens, dentre as quais o Sermão da Montanha, pronunciado por Jesus ...

Subindo à montanha, Ele sentou-se e seus discípulos se aproximaram e ouviram o magnífico discurso, a mais bela página da História.

Quanta importância assume, sobretudo na atualidade, a frase: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Um casal que teve o filho arrastado por um carro, uma senhora cuja filha foi baleada nas costas, são exemplos recentes de sofrimento.

E à nossa lenta e combalida Justiça compete saciar as imensas necessidades dessas e de outras vítimas, que padecem dilacerantes dores.

Tanto sofrimento infringido a essas criaturas, e a origem reside no próprio indivíduo, causa e efeito, agente e paciente de todo o mal.

Esses rapazes que trucidaram o menino e os bandidos que balearam a garota, certamente nasceram pobres, já se sentiram discriminados.

Moram em um País no qual o fosso entre pobres e ricos cada vez mais se agiganta, gerando a violência que explode com tal intensidade.

Fome e sede com certeza já sentiram, muitas vezes, assim como odiaram os filhinhos de papai que viam passar em seus luxuosos carros.

Os tênis de marcas famosas e as roupas de griffe que os viam usar, nos shoppings, constituíam bens que sabiam que jamais possuiriam.

Mochilas garbosas nas costas, corpos atléticos de ginastas, garotas lindas e de cabelos de seda, eram sonhos de consumo irrealizáveis.

E o ódio somente aumentava, à medida que percebiam que as diferenças tendiam a se agravar, vivendo num país de tantas injustiças.

Evidentemente que não pretendo justificar as barbaridades cometidas, mas apenas entender as causas desse comportamento criminoso.

Se as estatísticas demonstram o aumento de crimes envolvendo jovens, constata-se que a distribuição da riqueza nacional está errada.

Evidentemente que entre os mais abastados existem desvios de conduta, e a morte do casal Richtoffen é um exemplo inequívoco disso.

Deve-se salientar, contudo, que essas são exceções à regra, comparando-se com os crimes praticados cotidianamente, por adolescentes.

E, sobretudo aos governantes, compete a adoção de providências urgentes, envolvendo renomados juristas e representantes da sociedade.

Devemos atribuir à criminalidade na adolescência a relevância que o fato está a merecer, sobretudo considerando as graves perspectivas.

E, no momento em que se discute a reformulação do sistema penal, torna-se imperioso que conheçamos as causas, a origem do problema.

Jovens como os que praticaram os hediondos crimes, com certeza não tiveram acesso à educação, e certamente viviam na marginalidade.

Unidos pela vadiagem, queriam apenas roubar o carro da senhora, passear no pobre bairro onde moram e até mesmo pegar umas gatinhas.

Sentindo que poderia ser apanhado pela Polícia, o guiador, ex-detento, imprimiu velocidade ao carro, independente do mal que causava.

Toda a tragédia que se desenvolveu em seguida, causando comoção ao País, teve origem na insatisfação dos rapazes marginalizados.

Imbuídos de propósitos afins, os bandidos que assaltaram o Banco e balearam a garota, queriam apenas a posse do que lhes era negado.

Como se sentiam ameaçados em sua fuga, trocaram tiros com os perseguidores, e a bela menina tornou-se mais uma vítima da violência.

A garota , ao que soubemos, perdeu os movimentos das pernas e o garoto morreu tragicamente, em conseqüência do atrito com o solo.

Sempre que analiso um crime, independente de sua gravidade, reporto-me à verdadeira causa, originada da sangria aos cofres públicos.

E associo a criminalidade à roubalheira indiscriminada, à subtração de recursos destinados à educação, saúde e segurança do cidadão.

Refiro-me às construções de suntuosos prédios públicos em um país de tanta pobreza, para atender interesses de políticos inescrupulosos.

Assim como ao dinheiro desviado da população para a compra de carros de luxo, onde desfilam os prefeitos de cidadezinhas do interior.

O povo que elege esses crápulas é sempre o maior prejudicado, e, por falta de emprego, vê seus filhos enveredarem na vil marginalidade.

Sem escola, sem dinheiro, sem rumo e sem qualquer perspectiva, muitos jovens brasileiros encontram por alternativa o tráfico de drogas.

Assim, como conseqüência desses desajustes, assistimos à formação de uma geração que caminha a passos largos para um futuro nefasto.

Como também podemos vislumbrar o aumento da violência a níveis insuportáveis, se não forem revertidas as causas desses desajustes.

Insegurança já representa a principal causa da má qualidade de vida em nossas cidades, conforme nos demonstram as recentes pesquisas.

Assaltos à mão armada acontecem à luz do dia, e policiais também se tornam vítimas de bandidos, mais organizados e melhor armados.

Diante de tantas mazelas, desrespeitando o povo sofrido, deputados insistem novamente no aumento de suas nababescas remunerações.

O País precisa reverter essa gravíssima situação, abrindo vagas nas escolas e gerando empregos, principalmente para os jovens carentes.

Somente decisões corajosas poderão saciar os que têm fome e sede de justiça, conforme pronunciou o Senhor, no Sermão da Montanha.

Em 17.03.2007

João Augusto Maia Gaspar

jaugustogaspar
Enviado por jaugustogaspar em 21/07/2011
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