TENTANDO DESCOBRIR A CAUSA DA CORRUPÇÃO

Tenho ouvido algumas vezes, até mesmo de pessoas esclarecidas, que o poder corrompe...

Evidentemente que tal afirmação merece estudo antropológico, por abranger a espécie humana.

Não obstante o pouco tempo e recursos disponíveis, dediquei-me à busca das verdadeiras causas.

Tateando em revistas especializadas e livros, não me foi possível atinar sequer com uma pista.

Afinal, estudiosos e intelectuais, via de regra, não são familiarizados com o controverso tema.

Na mesma linha de raciocínio, concluí que inquirir professores seria absoluta perda de tempo.

Decidi ampliar o horizonte de minha pesquisa e interroguei populares, no afã de descobrir.

O povo brasileiro, ao que pude concluir, há muitos anos busca a resposta, sem obter sucesso.

Desistir de meu intento não me pareceu correto, pois já começava a me empolgar com o trabalho.

Especializei-me em colecionar recortes de jornais, sempre que o tema corrupção merece destaque.

Sobretudo em épocas recentes, amplas reportagens tratam do assunto, com farta documentação.

Como pesquisador, acabei enveredando pelos excelentes noticiosos das emissoras de televisão.

Obviamente que tomei cuidado para não ver novelas, pois a realidade entre nós é mais fascinante.

Brasília, por se constituir o centro das decisões do País, é fonte permanente e inesgotável de notícias.

Recentemente, um deputado forneceu o mais rico material para meu estudo, com graves denúncias.

Investigando todo o acervo disponível, decidi deslocar-me àquela aprazível Cidade, para constatações.

Reuni as suadas economias, combinei com minha mulher, e enfim chegamos a Brasília, sede do Poder.

A lembrança de Juscelino está no próprio ar que se respira, e o Memorial JK é justíssima homenagem.

Como estava imbuído de objetivo definido, tive que renunciar aos passeios turísticos pela Cidade.

Assim é que limitei-me a museus e bibliotecas, constatando que esses lugares não abrigam corruptos.

Uma vez decidido, resolvi visitar o Congresso Nacional, maravilhosa obra do gênio Oscar Niemeyer.

Sem perceber, gastei uma semana inteira investigando, tinha pistas e suspeitos, mas faltava a causa.

Afinal, de acordo com peritos criminais, não há crime sem causa, restava ainda o principal : o motivo.

Dinheiro curto, lanchávamos nos shoppings da Cidade, onde boutiques ostentam griffes luxuosas.

Até lanchas são vendidas, caríssimas, expostas em salões de granito, para deslumbramento dos ricaços.

Começei então a perceber que finalmente encontrara a última peça que faltava em meu quebra-cabeça.

O raciocínio lógico me levou a concluir que, para possuir uma lancha, necessitam-se pré-requisitos :

Realmente, trata-se de veículo aquático, normalmente utilizado para lazer, e de caríssima manutenção.

Reconheço que lá os funcionários são regiamente pagos, mas não têm casas à beira do Lago Paranoá.

Universo restrito , o dos felizes possuidores dessas maravilhosas máquinas, autêntico sonho de consumo.

Pais ricos presenteiam seus filhos com esses brinquedinhos, que os ostentam nos bares do Pier 21.

Como nem todos podem comprá-los, não têm onde guardar, nem podem mantê-los, a conclusão é óbvia.

Assim é que, após aprofundados estudos, cheguei à causa da endêmica corrupção em nosso País ! ...

O lamentável foi constatar que os idealizadores de Brasília não reservaram lugar para enjaular corruptos

João Augusto Maia Gaspar

Em 28.07.2005