A INFLUÊNCIA DA HIPOCRISIA NAS RELAÇÕES HUMANAS

A espécie humana, de tanto aperfeiçoar suas qualidades artísticas, parece viver em um autêntico picadeiro, fazendo da vida um circo...

Influenciados pelo teatro e pelo cinema, quando somos brindados, algumas vezes, com magníficas interpretações, procuramos imitá-los.

Na tentativa de mesclar o imaginário com a realidade, e, face ao nosso despreparo com o controverso tema, incorremos em sérios erros.

Fingimento parece estar definitivamente integrado ao cotidiano das pessoas, e a hipocrisia consegue fundir-se com sentimentos humanos.

Liberamos as variadas personagens que habitam em nossa mente, diariamente, de forma que, muitas vezes, perdemos o autocontrole.

Uma das características mais marcantes das pessoas é a dissimulação, comum aos políticos do País, sobretudo em épocas mais recentes.

Em meio ao mar de lama em que se transformou a vida pública nacional, face às gravíssimas denúncias de corrupção, surgem os artistas.

Nunca se viu tanta hipocrisia, e a pior de todas consiste nas peremptórias afirmações de que de nada sabem, juram inocência, foi traição.

Como se não passássemos de bobos da corte, espectadores, os palhaços desse circo fazem malabarismos, e algumas vezes até dançam.

Inventam descaradas mentiras , inverossímeis, tripudiam sobre os nobres sentimentos dos eleitores, fazem festa com a desgraça alheia.

A insensatez é tamanha, que tentam nos convencer de que caixa dois e mensalão são ilícitos normais, praticados até por outros meliantes.

De tanto triunfarem as nulidades, de tanto agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem passa a ter vergonha de ser honesto.

A frase acima, extraída de um trecho de um discurso do saudoso Rui Barbosa, torna-se cada vez mais atual, confunde-se com a realidade.

Hipocrisia não é privilégio de nossos políticos, eles são responsáveis pela sua disseminação entre os cidadãos, que assimilam a prática.

Infelizmente, o mal já atinge até Juizes, que pregam a moralidade através de suas sentenças, enquanto, em surdina, praticam nepotismo.

Preços de mercadorias são afixados por seus proprietários alegando descontos de 50% , após sofrerem reajuste de 100% nos valores.

O governo, que propaga austeridade nos gastos por ocasião de reajustes salariais, torna-se ágil para contratar companheiros do partido.

Como também fingidas comportam-se as vendedoras de butiques, quando uma avantajada senhora prova o caro vestido, já fora de moda.

Ridículos tornam-se os falsos médicos, que apalpam mulheres, prescrevem remédios e, muitas vezes, recomendam cirurgias às pacientes.

Incontáveis são as hipocrisias que praticamos, de várias espécies, de diversos graus de intensidade, e com os mais esdrúxulos propósitos.

Sem falar nos pequenos pecados, quando elogiamos o bolo com gosto de fumaça elaborado com tanto amor pela dedicada futura sogra.

Intenções inconfessáveis levam rapazes a fingir hemorróidas estranguladas para livrar-se de acompanhar os pais da namorada à missa.

As nossas autoridades policiais costumam recambiar para delegacias as belas acompanhantes dos delinqüentes, mesmo isentas de culpa.

Numa gradação de crimes hipócritas, certamente os mais graves são perpetrados por nossos governantes, ao definir seus planos de metas.

As verbas orçamentárias, aprovadas pelos congressistas, contemplam meritórias ações, todas voltadas para o desenvolvimento do País.

Sem qualquer resquício de sensatez,os recursos são desviados para a manutenção da máquina pública, para os super salários dos marajás.

Reajustes maiores para os assalariados, e ainda assim inferiores aos dos servidores públicos, ocorrem somente às vésperas de eleições.

E as verbas para a saúde, educação, estradas, saneamento e segurança pública ficam para o próximo mandato, se o homem for reeleito.

Logo o eleitor percebe que desperdiçou seu voto, que seu candidato não passava de um ilusionista, mas aí já é tarde, era só hipocrisia.

A própria Igreja, milenar, digna de todo o respeito, com tantos santos, não consegue livrar-se de pecados de muitos dos falsos padres.

Como homens, não resistem aos rigores impostos pelo celibato e findam por cometer deslizes com as afoitas paroquianas que os atentam.

O que se deduz, quando até a santa Igreja dobra-se às culpas, é que o próprio homem é um ser impuro, falível, capaz de malversações.

Evidentemente que somos capazes de infringir normas, e, para tanto, torna-se necessário o desenvolvimento de boas regras de conduta.

Sem esses mecanismos, que são as leis, o homem fica livre para praticar ilícitos, em detrimento da comunidade, que fica com o prejuízo.

Hipócritas somos todos nós, que temos conhecimento das falcatruas praticadas por nossos políticos, e continuamos a apoiá-los, sempre.

Uma parafernália de leis , criadas pelo homem para sua defesa, mostra-se inócua, sempre que um poderoso é apanhado em contravenção.

Meritíssimos juizes, nobres advogados, senhores legisladores, nosso País corre grave risco, quando a impunidade grassa nas instituições.

A paciência do povo tem limite, senhores, e podemos antever as drásticas conseqüências da insensatez, que continua se generalizando.

Não aceitamos que réus confessos, como Suzane Richthofen , continuem soltos, desafiando a Justiça, graças aos ardilosos advogados.

A situação já alcança níveis inadmissíveis, abrindo caminho para facínoras inescrupulosos, que planejam crimes cada vez mais graves.

Sem o respeito à ética, a hipocrisia poderá causar danosos efeitos, e o perigo maior é que Fernandinho Beira Mar seja eleito Presidente.

João Augusto Maia Gaspar

Em 19.04.2006

jaugustogaspar
Enviado por jaugustogaspar em 24/07/2011
Código do texto: T3115218