A ÁGUA QUE MANTÉM O HOMEM VIVO, PODE MATAR

A sobrevivência do homem depende fundamentalmente da água, desde sua concepção, quando o líquido amniótico supre suas carências.

A partir dessa fase, o vínculo entre o homem e a água torna-se indissolúvel, pois da qualidade da água que utilizamos depende a vida.

Grupos de pessoas vão se constituindo à margem dos rios, formando vilas e posteriormente cidades, constituindo harmônica interação.

Umbilicalmente unidos, inseparáveis, o homem utiliza o rio para extrair seu alimento, servindo ainda como eficiente meio de transporte.

A busca permanente de alcançar o destino leva o rio a contornar serras, irrigando terras, que produzem frutos, que alimentam o homem.

Quem não conhece a importância do Rio Amazonas para as populações ribeirinhas ? O transporte fluvial na região é fonte de progresso.

Utiliza-se o rio para transporte de madeira, desde a floresta até as serrarias, como meio mais econômico de conduzir gigantescos troncos.

E o rio fornece ainda o alimento, constituindo-se peixes e crustáceos importante fonte de suprimento de proteínas da população indígena.

Menino ainda, em Fortaleza, constatava a alegria de meu pai, com a chegada do inverno, quando a família deslocava-se a Maranguape.

Ao pé da bonita serra, no Sítio Trianon, apreciávamos, da varanda do casarão, a força do rio, arrastando árvores e tudo em seu caminho.

Num ambiente de puro encantamento, víamos o espetáculo proporcionado pela natureza, ao transformar simples riacho em caudaloso rio.

Tínhamos a certeza que, passados as chuvas, relâmpagos e trovões, o rio assumiria seu próprio leito, e a fartura seria mera conseqüência.

E, a partir de então, pude perceber a razão da felicidade de meu pai, sempre que as primeiras chuvas anunciavam a chegada do inverno.

Maranguape, o Sítio Trianon, reuniões da família e amigos, lideradas por meu pai , são belas lembranças que guardo, inesquecíveis.

O espetáculo das águas pode ser ainda contemplado, em toda a sua plenitude, nas cataratas do Rio Iguaçu, um panorama de rara beleza.

Haverá maior satisfação que apreciar a majestosa natureza, através das verdes e fertilíssimas terras onde se encontram as Serras Gaúchas?

O passeio às cidades de Gramado e Canela, ou às vinícolas de Bento Gonçalves e Garibaldi, prova-nos que Deus tem preferências.

Molhada pela chuva quase que o ano inteiro, aquela região parece permanentemente abençoada, onde até o ar que se respira é saudável.

E o que dizer do pantanal matogrossense, transformando-se num autêntico viveiro de milhares de espécies da fauna e da flora nacionais?

Mas quanta fartura, que País tão rico em recursos naturais e tão carente de dirigentes comprometidos com o desenvolvimento da Nação.

Viver em harmonia com a natureza, entretanto, é fundamental para a sobrevivência do homem, e nem sempre temos consciência disso...

Indústrias lançam nas águas uma infinidade de produtos químicos, resultantes de seu processo produtivo, em desrespeito à própria vida.

Venenos de toda espécie, como o vinhoto, resultante da industrialização do álcool combustível, contaminam as águas dos rios e riachos.

O ser humano é vilão e vítima, nesse processo de degradação do elemento principal e fundamental à vida, demonstrando sua ignorância.

Pobres de nossas crianças, as maiores vítimas de nossos erros, e que pagam até mesmo com as próprias vidas pela falta de saneamento.

Os esgotos a céu aberto, encontrados em qualquer cidade brasileira, comuns em épocas de chuvas, lançam no ambiente perigosos vírus.

Despejados no asfalto, pela força das águas, os dejetos são elevados pelos pneus dos carros em movimento, e as doenças proliferam.

E as crianças, devido às fracas defesas imunológicas, findam por contrair os vírus de terríveis doenças, causadoras de tanto sofrimento.

Morando em Fortaleza, na Região Nordeste, pobre em recursos destinados à saúde pública e ao saneamento, a situação é preocupante.

A população infantil, padecendo de várias doenças, com a chegada das chuvas sofre horrores, o os hospitais não conseguem dar conta.

Tragédias são tão comuns, nessa época, que findam por se banalizarem, a despeito de preciosas vidas estarem correndo sérios riscos.

A visão do atendimento de urgência de um hospital infantil torna-se dantesca, com as vítimas das terríveis viroses, dengues e difteria.

Registre-se, por oportuno, o meritório trabalho de médicos, atendentes e enfermeiros, que se desdobram, apesar dos miseráveis salários.

João Augusto Maia Gaspar

Em 23.04.2006

jaugustogaspar
Enviado por jaugustogaspar em 25/07/2011
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