CAI O MITO : ZIDANE TOMOU A COROA DO REI DO FUTEBOL

Comoção nacional – o País estarreceu-se diante da mais desastrosa atuação dos atletas de sua seleção, na vergonhosa derrota para a França.

Afinal, tínhamos o Fenômeno, o Grande Nome da Copa, o Melhor Jogador, além de tantas consagradas estrelas em atividade , no futebol .

Irradiava em todo o País uma sensação de revanche, pois ainda não apagáramos da memória a triste derrota sofrida, na Copa do Mundo de 98.

O orgulho nacional, ferido naquela ocasião, precisava ser amplamente vingado, e somente uma vitória consagradora poderia nos redimir...

Milhões de brasileiros antegozavam a felicidade que lhes seria proporcionada por seus jogadores, reconhecidamente os melhores, até então.

Incendiavam os jornalistas e emissoras de televisão a população inteira, e a certeza da grande conquista, para lavar a honra nacional, era geral.

Tocados os acordes dos dois belíssimos hinos, percebemos que allons enfants de la Patrie parecia evocar sentimentos, em todo o Planeta.

Os brasileiros, ao que nos parece, não demonstravam o mesmo frisson que percorria a alma dos adversários, ao le jour de gloire est arrivé.

Zidane, certamente o maior jogador de futebol após Pelé, assimilava cada verso que ouvia, experimentando o sabor da vitória, na despedida.

Iniciada a partida, uma só equipe jogava, e , conduzidos pelo divino maestro, executavam com perfeição a missão que lhes haviam confiado.

Deliravam os franceses, diante da monumental exibição dos azuis, que encantavam o Mundo, justamente frente aos grandes favoritos ao título.

A nação brasileira assistia, perplexa, envergonhada, o decepcionante desempenho de sua seleção, e não encontrava justificativa para tal apatia.

Não era somente o prenúncio da derrota que nos entristecia, era sobretudo o desamor à gloriosa camisa, que tantas vitórias havia conquistado.

E, à medida que o tempo transcorria, rezávamos para chegar à disputa das penalidades máximas, pois no jogo éramos amplamente superados.

Thierry Henry sabia que Zidane colocaria a bola exatamente naquela posição, e lá estava ele, o carrasco, para executar o tiro de misericórdia.

O lançamento, apesar da grande distância, foi perfeito, assim como todas as demais jogadas do excepcional jogador, a lenda viva do futebol.

Movimentos suaves, tal qual um bailarino, Zidane era constantemente procurado pelos companheiros, e servia a todos com rara desenvoltura.

O toque de bola, os dribles, os lençóis, jogadas de efeito, tudo era magistralmente executado pelo craque, para desespero de nossos patrícios.

Urge que se afirme, a bem da verdade e em defesa nosso brilhante passado , que aqueles que ali estavam eram apenas versões fantasmagóricas.

A nação brasileira e o restante do mundo esportivo podem testemunhar que os representantes do legítimo futebol brasileiro não foram à Copa.

Como tiveram coragem de vestir camisas que pertenceram a Pelé, Garrincha, Vavá e Nilton Santos os moleques apáticos que ali estiveram ?

O País inteiro se pintou de verde e amarelo, mas o verde de nossas matas e da esperança sucumbiu, quando amarelaram diante dos adversários.

Rigorosamente, não conseguiram inspirar confiança, mesmo quando ganhavam a duras penas de equipes sem expressão no cenário esportivo.

O medo foi se instalando, mas vínhamos sendo enganados pelo treinador, que afirmava que o importante é ganhar, levando sempre vantagem.

Afinal, os cinco títulos mundiais conquistados davam-nos a certeza de que pelo menos o respeito deveria ser esperado , dos antagonistas.

Decorridos menos de quinze minutos de jogo, nossa agonia foi se transformando em angústia, a cada vez que Zidane tinha a bola aos pés.

O pior é que sabíamos que, entre os reservas, não tinha jogador capaz de reduzir a enorme superioridade técnica que nos separava da França.

Robinho e Cicinho eram os depositários da esperança de milhões, mas infelizmente nada puderam fazer, pois a vantagem já era insuperável.

Enfim, para aumentar nosso desespero, concluímos que o time já entrou derrotado, e o resultado constituía apenas uma mera formalidade.

Insensíveis aos sentimentos de um povo eternamente apaixonado por futebol, os consagrados ídolos decidiram simplesmente assistir Zidane.

De nada valeu tanto sofrimento, se os principais atores do espetáculo eximiram-se em campo de qualquer responsabilidade ante o acontecido.

O povo logo percebeu , para sua felicidade, que o Brasil não esteve em campo, pois os que vestiram as gloriosas camisas decidiram não jogar.

Foram à Alemanha apenas cumprir um reles compromisso agendado, expondo a contragosto as ricas canelas para as botinadas de adversários.

Urge que sejam tomadas providências, considerando a importância que assume para o povão os resultados obtidos pela seleção de futebol.

Transtornado, o brasileiro comum ainda não conseguiu assimilar as imagens que assistiu, decepcionado com tamanha falta de entusiasmo.

Enquanto Felipão esbravejava, espumava, exigindo empenho de seus comandados, e afinal conseguiu levar sua seleção a uma bela vitória,

Boquiaberto, Parreira apenas olhava o relógio e algumas vezes esboçava um leve bocejo, incapaz de uma atitude corajosa, para salvar-nos.

Os ricos rapazes escolhidos para representar o País, a maioria jogando em milionários times europeus, pareciam insensíveis à tragédia.

Logo esquecem o passado de agruras, quando iniciam o contato com a bola, em campinhos tão modestos quanto o povo que os idolatrava.

João Augusto Maia Gaspar

Em 03.07.2006

jaugustogaspar
Enviado por jaugustogaspar em 25/07/2011
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