"A MEU QUERIDO COMPANHEIRO"

Rosa Magaly Guimarães Lucas

- Eire

Vai...

Tira de ti essa redoma!

Abre os olhos! Vê a vida,

A linda árvore florida,

O mar ao amanhecer...

O sol luminoso

A flutuar no azul do céu,

E a se mirar no espelho dos rios...

Os pássaros a cantar

Canções álacres ou suaves.

Volta a ser o que eras,

Dá uma chance

Àquele homem forte, decidido,

Rude, mas gentil, cheio de amor

Pela vida e por quem nela habita.

Olha teus filhos, teus netos,

À espera do teu renascer,

Sentem saudade

Do pai, do avô que antes era a alegria,

E agora é tomado de melancolia,

Da revolta que se mostra na ira

Com que reages assim,

brusca, intensamente,

Sem ter o que, nem porque.

Creio que por não saber dizer “Não”

Tu te ocultas sobre esse manto feio,

Áspero, andrajoso,

que defende o teu eu interior,

oposto do que a todos mostras ser.

É tão triste te ver assim, calado,

Cerrado em si mesmo, alienado,

Olhos vazios perdidos distantes;

Ah, isso é morrer!

Procuro aquele amor

Todos os dias,

Em ti, e não o vejo...

Ficou lá atrás, na estrada da vida,

Envolvido por névoas, chuva,

Tempestades ou inércia.

Quero-te de volta,

Exijo mesmo,

Pois assim estou me prostituindo,

Vivendo com um homem que não é o meu!

Abre os olhos! Deixa o medo!

Ainda temos a aproveitar

Um pedaço, mínimo que seja,

Dessa nossa vida temporal.

Sei o quanto te custa

Ver-nos velhos, trôpegos,

Eu semi-cega, surda,

Embora ainda a fibra

Me faça viver...

E tu? Trôpego, sem alegria,

Sem saber o porque

De mais um dia

De temor, sofrimentos, de saudades..

Lembra-te, estou certa,

Dos que já se foram,

Dentre eles, nosso filho,

O que por certo,

Fez sumir o brilho,

De nossa vida, do futuro incerto.

Para nós, meu Bem,

Hoje é o futuro,

E temos que vivê-lo

Como o seja,

Mas sem essa morte antecipada

D’alma, buscando a esperança

Que nos segue,

Fazendo reviver dias felizes,

O amor à vida, aos que dela fazem parte,

Ao Deus que nos criou.

O suicídio seja imediato,

Ou a perder de vista

É para os fracos,

Não para nós dois.

Mãos dadas andemos corajosos,

Pois, meu amor,

A eternidade é como infinito,

Fica logo ali, depois da curva,

E ainda falta, espero,

Nem que seja um pouco,

Para chegar lá.

Beijos da tua sempre,

Rosa

Jacarípe,24 de Fevereiro de 2004.

Eire
Enviado por Eire em 28/12/2006
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