Das Vantagens de Ser Louco

“Além de não ter que se preocupar, conquistar ou sofrer pelos "amebos", as amebas não precisam trabalhar. Ah, vantagem das vantagens! Viver a vida numa boa, sem precisar batalhar pelo pão de cada dia! E na hora do "crescei e multiplicai-vos" ? Tudo simples e fácil. Sem dor.”

(Renivaldo Costa)

Ando relembrando coisas que li e me marcaram, uma delas “Das vantagens de ser ameba”, escrita por Renivaldo Costa... Isto fez-me questionar (não sei bem o porquê): que linha separa os loucos dos ditos seres sãs?

Certamente há ai algo que supostamente nenhum sábio atreve-se a responder, entretanto, nós, seres desprovidos de uma sapiência digna de ser considerada mínima inteligência, julgamos “ele é louco!”.

Ser louco... O que é ser louco?

Loucura seria sinônimo de liberdade? De um prazer desprovido de qualquer barreira, qualquer imperfeição orientada pela estética sócio-corporal que nos envolve?

Ou seria a simples imperfeição do criador apossada de pobres corpos inocentes?

Ou mesmo a fúria deste Ser maior, punindo-os com tal... Como dizer... Aberração? Maldição?

Não sei. Mas se soubesse, talvez não ligasse.

“Ah se eu tivesse o prazer de ter a liberdade de fazer o que quero, dizer o que quero pintar cantar e gritar palavras quem nem sei o significado, mas que o corpo diz em silêncio quando a raiva alisa minha testa, ou quando a paixão prende minhas pernas finas, impedindo os passos à frente.”

Sábio homem, que vendo mundo torna-se louco... Loucura, bem sei, é ir de encontro ao que nos prega a sociedade, ao que nos empurra ao mito da estética social perfeita, do café sempre com pão e manteiga, do trabalho, a responsabilidade de procriar e dar origem a pequenas porções de idiotas futuros, que teimam, por uma regra que não me atrevo a explicar, em serem bons cidadãos, amantes do carnaval, da Globo (ou qualquer outra rede de TV), do futebol do domingo e do terno sempre impecável...

Já dizia um certo louco, “malandro é aquele que percebe um modo de quebrar os elos dessa forte corrente imposta pelo cotidiano herdado a milhões de anos, e faz-se segundo sua própria vontade...este sim, é o mais perfeito dos loucos!”.

Renivaldo nos diz das vantagens de ser uma ameba, ah Renivaldo, se tu soubesses o quão bom é ser louco, jamais pensaria em ser ameba e correria a quebrar os espelhos de tua casa, a esquecer teus sapatos sempre prontos a te guiar e libertar-se-ia, finalmente, destes cabrestos invisíveis que prende-nos a uma vida comum.