ele e ela...
Depois que chegou ao portão do prédio dela, não sabia se entregava ou não o raio da carta. Engraçado, agora com o endereço em mãos - e nos olhos, vivia o dilema que já tinha passado antes.
Dentro de si, brigava:
"Entrega esta merda e vamos embora"
"Lá vem você me apressar"
"Você já tocou a campainha. Agora é só convencer o porteiro que não somos assaltantes e tudo vai ficar bem"
"Não vai. Como a gente vai saber que ela recebeu?"
"A gente vai saber"
"E se o porteiro abrir a caixa e comer o chocolate?"
"Ele não vai fazer isso"
"E se.."
"E se você ficasse quieto e, só por um momento, confiasse?"
"A gente já veio até aqui. Já escreveu essa carta ridícula e agora, por mais que a gente torça, está nas mãos do nosso amigo aí entregar e concretizar o plano"
"O plano é se ferrar, não é? Diz pra mim que a gente vai se dar bem uma vez com ela..."
"Cara, a gente já se deu bem. Conhecendo-a, convivendo com ela e se aproximando"
"Que bonito, cara..."
"Não, filho, é a realidade. A gente, às vezes, dá sorte só de ter algumas pessoas perto da gente"
"Mas..."
"Queremos mais"
"Exatamente"
"Mais que amigos. E lembre-se: o gostar não pode diminuir a amizade. É nessa hora que precisaremos ser mais que namorado. É preciso ser amigo"
"Cara, como você diz coisas bonitas"
"Falar é fácil"
"Entrego?"
"Já devia ter feito isso. O porteiro abriu pra gente tem cinco minutos"
"Tá"
E, finalmente, conseguiu reunir a coragem necessária para se fazer uma coisa por amor. Era só uma carta. Boba e ridícula dentro de um envelope verde. Uns chocolates, uma flor e só. Tudo dentro de uma caixinha. Poderia até ser pouco pra ela. Ou muito. Sei lá.
Quando se faz coisas assim, se tem a confiança de uma criança que dá os primeiros passos. Ficar em pé nunca é certo. Mas e daí se cair? Levanta.
Ela valia cada tombo.
"A gente fica pra ver ela descendo pra pegar a caixa?"
"Não"
"Mas..."
"A gente fez a nossa parte. Acredite"