A noite
Quando o disco do sol transpõe o mundo
Deixa um rastro vermelho no poente.
Que depois vai se apagando lentamente
Transforma-se num gesto moribundo.
O escuro da sombra é oriundo,
Pela volta que a terra faz no dia
Quando um lado Escurece outro alumia
No compasso que a terra vai girando
Passa a brisa na noite derramando sentimento saudade e poesia
Quando o sol se debruça vagaroso
Geme o bronze da terra solitária
Baixa a noite tristonha temerária
Desdobrando seu monte pesaroso
Uma nuvem atravessa o céu mimoso
Transpirando neblina muito fria
Toda relva se sente mais sadia
Recebendo sereno e balançando
Passa a brisa na noite derramando
Sentimento saudade e poesia
Foge a luz morre o dia a treva desce
E um manto negro no mundo se espalha
Pra o descanso do homem que trabalha
Num profundo repouso permanece
Fecha os olhos cochila e adormece
Confiante num Deus que tudo cria
O espírito servindo de vigia
E a matéria esquecida ressonando
Passa a brisa na noite derramando
Sentimento saudade e poesia
O silencio que fica zero horas
Deixa o mundo num gesto duvidoso
Para o quadro ficar silencio
Os rumores do mundo vão embora
É a lua uma deusa que namora
Debruçada no véu da noite fria
Entre as dobras das nuvens se enfia
E as estrelas do céu lhe acompanhando
Passa a brisa na noite derramando
Sentimento saudade e poesia
No arrojo do vento impetuoso a montanha estremece a mata geme
Nos profundos covis a fera treme Pio o mocho que é o ser mais pesaroso
E o réptiu se faz silencioso no veneno da boca se confia
Esperando com geito se desvia dando voltas no corpo e se enrrolando
Passa a brisa na noite derramando sentimento saudade e poesia
Na medida em que a terra se alonga vai o sol descambando o firmamento
Implantando na alma o sentimento e a história da vida se prolonga
Muito longe o gemer de uma araponga nos desperta maior melancolia
O vigário rasando ave Maria e as pancadas do sino pontilhando
Passa a brisa na noite derramando sentimento saudade e poesia
Tenho medo da noite porque é protetora de todos malfeitores
Das misérias, dos crimes, dos horrores, dos escândalos de um triste cabaré.
Onde todo dá honra perde a fé
E a pureza da alma não se cria entre os laços impuros da orgia
Vê se a honra enforcada se ultimando
Passa a brisa na noite derramando sentimento saudade e poesia
Alta noite é profunda solidão todos os poros do céu transformam em gelo
E o ar se carrega em desturvelo transformando em neblina e serração
Molha a relva e goteja pelo chão pelos poros da terra se enfia
Dando vida ao arbusto que se cria pela casca da arvore penetrando
Passa a brisa na noite derramando sentimento saudade e poesia
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