QUANDO A MORTE CHAMA

Q.ualquer lugar serviria para ficar

... aquele homem esquecido nem lembrava mais se tinha família

U.m canto qualquer lhe abrigava

... embaixo de um viaduto ou de uma marquise, um banco de praça

A. sua vida não valia nada

... não fazia sentido estar vivendo, dependia sempre de alguém caridoso

N.egava-se a ter prazer na vida

... preferia a solidão das ruas, os olhares curiosos para sua pessoa

D.e vez em quando chorava

... mas não sabia o porquê de chorar, não via motivos para isso

O. seu tempo estava por terminar

...e ele aguardava tranquilamente, sabia que a saúde não ia bem

* * *

A.s esmolas o mantinham vivo,

... qualquer coisa o alimentava, até restos tirados do lixo

* * *

M.ais dia, menos dia ela chegaria

... ela é a morte, ninguém tem dúvida, viria para buscá-lo

O. sono muitas vezes lhe ajudava

... enganava sua barriga vazia tirando a sua vontade de comer

R.eligiosamente procurava um bar

... para tomar somente um café, depois acendia um toco de cigarro

T.inha esse vício, depois a lata de lixo

... ou um pedaço de pão, o que surgisse primeiro, não tinha escolha

E. não tinha nem tempo

... para agradecer, apenas sorrir e mostrar os dentes amarelos

* * *

C.hovia nesse dia fatídico

... o velho casaco o protegia, sentia a força do vento embaixo do viaduto

H.oje ela vem, adivinhava

... tossia feito um louco mas não dispensava o cigarro

A. sua vontade era ver o sol

... mas ele se escondera, não queria iluminar o seu fim trágico

M.ordeu os lábios roxos, sorriu

... foi seu último sorriso acariciando a barba amarelada e suja

A. morte enfim o chamava

... e o levava para seu convívio sem ele fazer a mínima questão

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 30/03/2019
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