Insensivelmente sensível

Saio um instante do computador.

Os olhos dele estão caídos e depressivos hoje.

-Você ta triste?

-E tem como viver alegre desse jeito que to vivendo?

Silêncio.

Um suspiro.

Apenas o barulho de nossas gargantas engolindo a seco.

Mas não, não choramos. Apenas continuamos em silêncio. Inacreditavelmente essas palavras não me atingem. Sim, porque suponho que qualquer um no meu lugar –ta, quase qualquer um- se entristeceria. Mas mesmo não sofrendo por ele estar sofrendo, nesse momento, eu percebo o quanto eu o amo. Apesar de tudo, apesar de todas as brigas e desentendimentos, apesar de achar que a única importância realmente significativa que ele teve na minha vida foi na hora da minha concepção e que depois disso eu teria chegado até aqui muito bem sem ele, talvez até melhor, ainda assim eu percebo que o amo. Amo muito. E eu acredito piamente que toda essa dor vai passar. E embora eu não sofra por ele não gosto de vê-lo assim e se eu pudesse arrancaria com minhas próprias mãos sua angústia. Mas eu não tenho esse poder.

Volto pro meu quarto. Estou pensando se aceito ou não o convite de uma amiga pra ir em uma reuniãozinha na casa dela. Penso que quase sempre, nesses casos, quando eu vou, não me arrependo. Mas esse quase me faz refletir seriamente. Porque eu tenho certeza de que ficar em casa será muito bom. Se eu não tivesse nada a perder, tudo bem, mas...

Noto que enquanto saí recebi um e-mail. Vou olhar e espero do fundo do meu coração que seja uma mensagem importante. Uma resposta, alguém me contando algo, uma viso de alguma pessoa que realmente faça parte da minha vida sobre alguma coisa. Ms não. Afinal eu não conheço nenhuma raqueldiamantesafira.

Resolvo ver que filmes vão passar hoje na T.V. São bons. Mais um motivo pra ficar em casa. Então, eu resolvo ficar. Até porque não quero deixá-lo sozinho.

AnaLuz
Enviado por AnaLuz em 29/09/2007
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