Sinopse: Comunicação - um novo personagem dentro de casa.

[...]

Vivemos hoje, na expressão de J. Thompson, uma sociedade midiada e uma cultura midiada: não há instância de nossa sociedade que não tenha uma relação profunda com a mídia, começando pela economia, passando pela educação, religião etc. e chegando à própria política. Quatro afirmações que ajudam a compreender a importância do fenômeno dos meios de comunicação:
1. A comunicação, hoje, constrói a realidade (i. é) alguma realidade, algum fato existe, ou deixa de existir, se é, ou não, veiculado pelos meios de comunicação. A mídia tem, na contemporaneidade, o poder de instituir o que é, ou não, real, existente.
2. A mídia não só diz o que existe e o que não existe, mas dá uma conotação valorativa, de que algo é bom e verdadeiro. Numa sociedade massificada como a nossa, onde nove famílias detêm 90% da mídia e onde apenas alguns conseguem erguer a cabeça acima do nivelamento massificante produzido pela comunicação, quem está nos meios... é gente, e gente boa.
3. A mídia, hoje, propõe a agenda de discussão (i. é) temas e assuntos que são falados são colocados à discussão pela mídia (que) tem o poder de selecionar e criar a pauta, podendo incluir apenas temas que lhe interessam e excluir os que podem vir a contestá-la.
4. Nos dias de hoje, ao menos a partir dos últimos 30 anos, pode-se dizer que existe um novo personagem dentro de casa, que está presente em nossas vidas e com quem nós mais estamos em contato. A média de horas diárias que o brasileiro fica diante da TV é de 3,9 e para as crianças  chega a nove horas diárias. Pois é com este personagem que nós passamos, hoje, a nos relacionar e que, queiramos ou não, tem a ver com a constituição e construção de nossa subjetividade. Ele é o único, praticamente, que fala; estabelece com os interlocutores uma comunicação vertical, de cima para baixo; não faz perguntas, apenas dá respostas etc.
Uma distinção importante (que) se deve estabelecer entre mídia impressa e mídia eletrônica (rádio e televisão). A mídia impressa (revistas e jornais) são empresas privadas (e) seus donos dão a orientação que desejam. Os controladores dessa mídia são os próprios leitores (que) assinam as publicações (ou) cancelam sua assinatura. Neste contexto afirmar que (revistas ou jornais) são neutros só pode servir para iludir leitores e assinantes. Coisa completamente distinta, são os meios de comunicação eletrônicos, como o rádio e a televisão aberta (que) são um serviço público, isto é, eles não podem ter donos, são concessões outorgadas por um determinado período de tempo, para prestar um serviço público, do mesmo modo como são serviços públicos as estradas, os correios, o telefone etc. 
Os que detêm tais meios (rádio e TV) não podem apresentar apenas suas opiniões
(pois) os meios de comunicação eletrônicos , além de informar e de fornecer entretenimento, têm também como atribuição fundamental educar, conforme a Constituição Federal de 1988.
Vejamos duas questões que estão intimamente ligadas à problemática da mídia eletrônica: a questão da democracia e a questão da ética. Quando falamos em democracia vêm a nossa mente, de imediato, os antigos gregos. Eles se reuniam para discutir e decidir quem exerceria a coordenação e como deveriam ser as principais políticas públicas. Cada pessoa valia um voto (mas) nem todos eram considerados cidadãos (e) devemos distinguir ao menos três níveis de participação no planejamento, na execução e nos resultados. No que diz respeito à execução são os trabalhadores que praticamente constroem a riqueza da nação. Quanto à participação nos resultados constatamos (haver) má distribuição de renda. A questão central é (é) planejamento, pois é da participação nesse nível que dependem as outras duas, isto é, quem faz o que e com quanto cada um fica, (mas) a participação no planejamento só é possível, nos dias de hoje, através da mídia. Aliás, essa é a tarefa fundamental da mídia nas sociedades modernas: ser porta voz dos seus membros na construção da cidade que se quer. (no) caso do Brasil, um pequeno número de famílias detém mais de 90% de tudo que é veiculado (e) algumas organizações chegam a produzir, elas próprias, até 90% do que divulgam, (um) absurdo só comparável a uma situação em que alguém detém o serviço de telefonia e só ele poder telefonar; ou alguém que detém a concessão de uma estrada, mas só ele se permite nela andar.
É
ainda importante acrescentar a questão ética, dos direitos humanos. O primeiro é o direito à informação, isto é, o direito de ser bem informado e buscar essa informação, livremente (e) o principal é o direito à comunicação, isto é, o direito que todo ser humano possui de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento.
Em nível mundial pode-se ver o exemplo da Inglaterra, onde os meios de comunicação estão nas mãos da sociedade civil  representando todos os segmentos da sociedade. São independentes do governo e não devem nada ao mercado. Por isso gozam de liberdade e podem questionar qualquer instituição, qualquer grupo, inclusive o governo. Quando há alguma crítica a fazer, é a própria sociedade civil, através de seus representantes, que interpela essa mídia. O exemplo inglês, de uma mídia pública, constituída e gerida pela sociedade civil, entre o estado e o mercado, é considerado como a melhor experiência mundial.”
[...]

Guareschi, Pedrinho in Psicologia Social Crítica como prática de liberdade; 5ª edição, EDIPUCRS, 2012, Porto Alegre. Páginas 81 – 88.
Consulte: http://www.eticanatv.gov.br  
Telefone: (0800.619619)