EDUCAÇÃO MODERNA SOB A ÓTICA DE ROUSSEAU: E SUA CONTRIBUÍÇÃO PARA ERA CONTEMPORÃNEA

EDUCAÇÃO MODERNA SOB A ÓTICA DE ROUSSEAU: E SUA CONTRIBUÍÇÃO PARA ERA CONTEMPORÃNEA

SILVA, Maria do Socorro

RESUMO

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa de natureza qualitativo-exploratória, relacionado com a visão do revolucionário iluminista Jean Jacques Rousseau, o estudo discorre sobre a prática educacional regida por leis absolutistas na visão do filósofo versos pensadores da era contemporânea que comungam os mesmo ideais que beneficiam a educação. Com base nas obras do próprio Rousseau e de teóricos contemporâneos que discutem a transformação da escola tradicional voltada aos interesses da monarquia, prima-se por uma escola moderna que atenda a necessidade dos aprendizes independente da classe social a que pertençam. Também se discute a obra de Rousseau ”Emílio”, que se tornou um mito para mudança a prática educacional. O autor propõe uma educação natural e integral do educando que lhe proporcione a liberdade e a felicidade. Finalmente demonstra-se o resultado da luta desses pensadores por uma escola mais humanitária em que todos sejam livres e felizes.

Palavras-chave: Rousseau. Indivíduo. Educação moderna.

1. INTRODUÇÃO

O século XVIII foi palco de ideais que moldaram o pensar da sociedade, principalmente na França e na Inglaterra onde o chamado Iluminismo nasceu como fonte filosófica do racionalismo e do empirismo. Estas correntes filosóficas defendiam segundo PADOVANI (1990), um método crítico, uma atitude demolidora da tradição, para instaurar a luz, a evidência, a clareza e a distinção da razão. Para OLIVEIRA (2009), o termo Iluminismo indica um movimento de ideias que tem suas origens no século XVII, mas que se desenvolve especialmente no século XVIII, denominado por isso o “Século das luzes”. Este movimento visa estimular a luta da razão contra a autoridade absolutista, isto é a luta da “luz” contra as “trevas”. Daí o

nome de Iluminismo, tradução da palavra alemã AUFKLARUNG, que significa aclaração, esclarecimento, iluminação.

As ideias dos filósofos expandiram-se no meio cultural em geral, atingindo diferentes setores. As pessoas, na França e em outros países, passaram a reunir-se em salões destinados à atividade científica. Tornavam-se cada vez mais numerosas as coleções de animais, plantas e pedras reservadas a estudos; nos gabinetes de física ou nas academias filosóficas, dos duques, padres, médicos, magistrados e as pessoas da sociedade passaram a desfrutar o gosto pela ciência.

Tornou-se moda, principalmente entre os membros da elite, participar dos eventos científicos. As pessoas faziam donativos para terem seus nomes citados em livros publicados; os jornais dedicavam longas colunas às obras produzidas pela ciência, muitos ganhavam a vida percorrendo as cidades e demonstrando suas descobertas científicas. Foi neste contexto de transformação do pensamento tradicional para o transcendental que muitos filósofos se destacaram com suas ideias inovadoras, entre eles, Rousseau, considerado um dos expoentes do iluminismo.

As investigações de Rousseau concentram-se no homem, procurando compreender a natureza por meios subjetivos como as emoções e os sentimentos. As concepções de Rousseau dizem respeito aos valores morais e aos caminhos pelos quais o homem atinge a felicidade individual e social. Em suas obras “Rousseau defendeu a ideia de que o homem primitivo, na “idade de ouro”, vivia feliz, dotado de sentimento e possibilidades de desenvolver virtudes sociais”. Diante disso, é possível que a educação moderna tenha sido influenciada pelo senso moral e humanitário defendido por Rousseau e tantos outros pensadores da era contemporânea que se dedicam a inovação da educação.

1.1 Quem foi Jean Jacques Rousseau?

Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 1712. Ficou órfão logo ao nascer, sua mãe morreu no parto. Viveu com o pai por um tempo, depois com parentes maternos e aos 16 anos partiu para uma vida de aventuras. Na província francesa de Savoy onde conheceu uma baronesa bondosa, de quem ele mais tarde se tornou amante. Converteu-se a sua religião, o catolicismo negando o legado calvinista o qual era adepto, deixando-o para trás. O filósofo em sua vida adulta sobrevivia com atividades obscuras que foram de pequenos delitos à tutoria de crianças ricas. Em Paris, encontrou-se com filósofos iluministas, que provavelmente o influenciaram, então, começou a carreira como escritor. Após algum tempo conheceu uma lavadeira (Thérèse Levasseur) com quem teve cinco filhos, isso se deu em 1745, seus foram dados para adoção. Diante disso, segundo os historiadores “remorsos decorrentes marcariam grande parte de sua obra”.

Em 1756, já sendo famoso por suas escritas, Rousseau passou a viver discretamente recolhido no campo até 1762. Nesse período de recolhimento ele produziu as obras mais célebres tais como (Do Contrato Social, Emílio e o romance A Nova Heloísa), que despertaram a ira de poderosos, como monarquistas e religiosos. A partir daí viveu fugindo de perseguições até que recobrou a paz nos últimos anos de vida, sendo suas ideias publicadas na era da Revolução Francesa, acabou por serem ligadas ao tão importante marco na história moderna.

De acordo com os lemas dos revolucionários iluministas, liberdade, igualdade e fraternidade, apenas o último não foi alvo da profunda reflexão do filósofo, desse modo o pensador teve em Robespierre um dos líderes da revolta contra o absolutismo, o mais devoto de seus admiradores, de acordo com estudos publicados. Rousseau morreu em 1778 no interior da França durante a Revolução, sendo 11 anos mais tarde, com a transferência de seus ossos para o Panteão de Paris.

2. Princípios de Rousseau

Para Rousseau o princípio fundamental que define sua obra até o presente é o de que o homem é bom por natureza, porém, está submetido às influências nefastas advinda de uma sociedade corrupta. Segundo o autor, o fracasso da civilização em promover o bem comum é a desigualdade, que pode ser definida em dois tipos: às características individuais de cada ser humano e aquela causada por circunstâncias sociais. Sendo refletidas desde os relacionamentos afetivos aos sociais.

O primeiro tipo de desigualdade é natural, para o filósofo, enquanto o segundo deve ser combatido. As consequências nocivas da desigualdade teria gradativamente suprimido a liberdade do homem e com artifícios de manipulação se cultua as aparências e regras de polidez, camuflando desse modo o bem maior que é a liberdade do ser humano.

Rousseau diz que o homem abre mão da própria identidade como humano quando este renuncia sua liberdade, se privando do mais essencial instrumento que o leva a felicidade. Para o indivíduo resgatar a liberdade usurpada pela sociedade, o pensador reza uma reflexão interior do sujeito em direção ao autoconhecimento. Deve-se salientar que tal resultado não se consegue por meio da razão, mas, através da emoção em transcendência com a natureza.

Segundo OLIVEIRA (2012), por causa de suas ideologias escritas Rousseau foi exilado condenado a viver de retiradas, ora em um país ora em outro, teve suas obras rejeitadas na França, Genebra e Berna (principalmente os livros de Emílio e o Contrato Social), que causou indignação ao arcebispo de Paris, talvez por uma passagem que se refere a um membro religioso. É possível que tal fragmento tenha provocado à assertiva do arcebispo, a quem Rousseau rebateu a afirmação de que seu livro havia sido escrito para orientação aos pais e mães e professores, sua resposta foi através das “Cartas escritas da montanha,” (2006, p. 148).

[...] essa assertiva não é desculpável, posto que manifestei no prefácio e várias vezes, ao longo do livro, uma intenção bem diferente. Trata-se de um novo sistema de educação, cujo plano submeto à análise dos sábios e não de um método para os pais e as mães, com o qual nunca sonhei. Se alguma vez, por meio de imagens bem comuns, pareço dirigir-lhes as palavras, é para me fazer melhor entender ou para me explicar com menos palavras. É verdade que escrevi meu livro a partir da solicitação de uma mãe, mas essa mãe, ainda que tão jovem e tão amável, tem sabedoria e conhece o coração humano; por sua aparência é um ornamento de seu sexo e, por seu talento, uma exceção (OLIVEIRA 2012, p.13 apud ROUSSEAU, 2006 p. 284).

Neste sentido, fica claro o objetivo do autor com relação à sua obra, deixando a entender que o conteúdo do livro é apenas de princípios pedagógico, retirando a interpretação de cunho moral. Nesse contexto o Emílio passaria a ser um novo sistema educacional a ser analisado.

2.1 Educação segundo Rousseau

O filosofo percebia o jovem como um ser completo, um ser pensante capaz de fazer suas escolhas, e na infância instruiu-lhe vária fases do desenvolvimento cognitivo. “Foi por tanto, um precursor da pedagogia de Maria Montessori (1870-1952) e John Dewey (1859-1952)”. A partir daí, uma nova concepção de educação foi sistematizada, assim, surgiu a “escola nova” defendida por vários estudiosos dos séculos XIX e XX. Vale salientar que desde então, a escola nova vem transformando velhos conceitos/padrões em novas maneiras de pensar a educação.

O pensador defende a educação infantil baseada na liberdade, em que a criança possa viver cada fase de sua infância, sem que esta seja transformada em um adulto em miniatura. Segundo o autor, até os 12 anos o homem/mulher não tem formado sua personalidade como um todo, ou seja, o ser humano em processo de descoberta e formação das emoções do corpo físico, a objetividade e a autoafirmação ainda não é consolidada. A criança nesse estágio é dependente da vontade dos adultos e a liberdade para ela não tem significado. Nesse sentido, "Vosso filho nada deve obter porque pede, mas porque precisa, nem fazer nada por obediência, mas por necessidade", escreveu o filósofo.

O livro de Rousseau tinha como objetivo a crítica sobre a educação voltada para elite e tinha como expoentes os jesuítas. O autor reprovava os métodos de ensino utilizados na escola tradicional, pois, aulas era à base da repetição e memorização de conteúdos humanísticos, a escola era espaço de disciplinamento com professores autoritários detentores do conhecimento e da verdade absoluta, pregava-se o dualismo escolar suscitando dessa forma a divisão de classes. Embora, nos dias atuais a escola nova tenha se estabelecido e ocupado espaço na educação, a seleção de indivíduos continuam direcionando quem deve ou não entrar para o âmbito científico ou profissional. Mesmo na era contemporânea vive-se ainda numa sociedade classes como na era antiga, com uma diferença apenas, essa é uma sociedade disfarçada com democracia. Com isso, há um conflito entre o tradicionalismo e a teoria da democracia com relação à realidade escolar. De um lado, a teoria da democratização do ensino e inclusão com uma escola humanitária e construtivista, por outro lado, a realidade nas escolas mostra uma verdadeira contradição ao postulado escola nova, as estruturas espaciais não são adequadas, com turmas numerosas, poucos recursos e baixos salários dos docentes, enfraquecendo, dessa forma, os resultados desse novo modelo de educação.

O pensador pregava uma aprendizagem significativa pela experiência ou realidade social por parte dos alunos, a quem caberia conduzirem pelo próprio interesse o aprendizado, os conteúdos respeitam o desenvolvimento mental e o cognitivo da criança. A escola deveria se preocupar com a formação do cidadão para vida em sociedade, ou seja, do que instruir, no entanto, a educação deveria se preocupar com a formação moral e política dos aprendizes. No Brasil em 1932, houve o manifesto dos pioneiros da educação, Esses ideais condizem os da escola renovada diretiva, tendo como defensores vários teóricos como Anísio Teixeira, Lorenço Filho, Fernando de Azevedo entre outros. Esses teóricos defendiam que todos têm direito a educação com aprendizagem significativa baseada na experiência e na realidade social. Porém, devido a baixa qualidade no ensino público, a maioria das escolas públicas não tem atingido seus objetivos satisfatoriamente.

2. Obras de Rousseau

Segundo estudiosos, com relação ao bom selvagem, “o pensamento de Rousseau pode ser tomado como uma doutrina individualista ou uma denúncia da falência da civilização, porém não é bem isso”. O mito que envolve a figura de seu personagem tem revelado o estado do ser humano natural sem as pérfidas influencias sociais. Vale ressaltar que o filosofo não pretendia menosprezar os resultados positivos já adquiridos, mas, indicar outra maneira de conduzir o homem a realizações e o uso fruto dos direito sociais através da educação moderna.

Desse modo, o modo mais fácil de garantir a liberdade tão necessária ao homem é através da democracia, concebida e regida para que todos se submetam voluntariamente a lei, considerando que esta foi elaborada em comum acordo, já que a vida em sociedade é uma condição humana de sobrevivência. Em 1762, Rousseau decide publicar duas de suas principais obras, (Do Contrato Social e Emílio) o primeiro, expõe sua concepção de natureza política e o segundo, um novo padrão de educação em que apresenta um detalhado prognóstico da formação de um jovem fictício desde a infância até 25 anos. "O objetivo de Rousseau é formar tanto o homem como o cidadão", diz Maria Constança Peres Pissarra, professora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "A dimensão política é crucial sem seus princípios de educação”.

Porém essa nova concepção de educação segundo Piffer autora contemporânea:

Contudo, um dos maiores impasses ao cumprimento dos direitos sociais efetivados e reconhecidos universalmente é a atual implantação das políticas neoliberais, as quais implicam no efetivo processo de esvaziamento desses direitos, resultando em drásticas consequências sociais verificadas na atualidade – pobreza, exclusão social e desemprego. (PIFFER 2010, P. 2).

Diante disso, percebe-se que o legado deixado por Rousseau através de seus ensaios foi de grande valor para educação, porém, sua filosofia não foi aplicada com sucesso no processo educacional como um todo. É notório a violência e o descaso com relação às classes sociais menos favorecidas tanto no âmbito escolar quanto no social.

Sendo assim a forma naturalista como o Emílio de Rousseau é descrito é contraditória quanto à pedagogia do âmbito escolar em todas as épocas, já que alguns escritores afirmam que, “Não há escola em Emílio, mas a descrição, em forma vaga de romance, dos primeiros anos de vida de um personagem fictício, filho de um homem rico, entregue a um preceptor para que obtenha uma educação ideal”. O personagem do ensaio foi educado de forma natural em contato com a natureza, sendo desse modo protegido de coerções sociais. Percebe-se, nesse sentido, que o Emilio provavelmente não se relacionava com o mundo exterior em tempo integral, de outro modo não teria como se proteger das influencias de uma sociedade maliciosa. Rousseau ao planejar uma educação moderna visando à liberdade e a felicidade humana, desafia o poder monopolizado e revoluciona a concepção retrógrada de educação. Afirma o autor:

Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas. (DOBROVOSKI, p. 3 apud. ROUSSEAU, 1973, p.10).

Em o método natural e educação negativa, Rousseau dividiu a vida do jovem personagem de seu livro Emílio em cinco fases: lactância (até 2 anos), infância (de 2 a 12), adolescência (de 12 a 15), mocidade (de 15 a 20) e início da idade adulta (de 20 a 25). Para a pedagogia, apenas os três primeiros períodos são interessantes, esses são abordados nas teorias da psicogenética de Piaget e Wallon. Rousseau desenvolve sua teoria de educação como um processo secundário à evolução natural do aprendiz, e por isso chamado de método natural.

O objetivo do autor é possibilitar o desenvolvimento próprio do jovem sem a interferência distorcida da sociedade, com efeito até os 12 anos, quando, de acordo com autor, ele ainda não pode contar com seu lado racional. “O filósofo chamou o procedimento de educação negativa, que consiste em suas palavras, não em ensinar a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro”. Nesse sentido, só quando indivíduo atingir a idade adulta saberá se defender sozinho de tais perigos. No entanto, alguns autores afirmam que a aprendizagem se dá por meio da repetição e pela imitação sem mencionar nada sobre os atos mentais. Lacomy esclarece que:

Normalmente o professor não compreende adequadamente o que se passa de fato no interior do sujeito quando ele aprende. Por exemplo, para alguns autores, a aprendizagem ocorre por meio da repetição e pela imitação, referindo-se apenas a comportamentos observáveis e mensuráveis; nada fala, portanto, sobre as operações mentais próprias do processo de construção do conhecimento que leva à aprendizagem. LACOMY (2008, p.15).

Diante dessas afirmações percebe-se que o conceito de aprendizagem é complexo e apresenta muitas controvérsias quanto a sua aquisição. Enquanto outros defendem que a aprendizagem é um fenômeno pelo qual o sujeito transforma informações em conhecimentos, mudando seu comportamento e crença. Sendo assim, a aprendizagem para muitos estudiosos modernos é algo que resulta da ação individual e pela interação do sujeito ao meio social, portanto, a aprendizagem não deve ser entendida apenas com a passagem da ignorância ao saber. Lacomy menciona que:

É importante entendermos que, para a aprendizagem ocorrer, é necessário que haja uma interação ou troca de experiências do indivíduo com o seu meio ambiente ou comunidade educativa. As crianças, por exemplo, aprendem a partir da interação com os adultos e com crianças mais experientes. Por meio dessas interações, a criança vai construindo, gradativamente, significados para as suas ações, sua experiências e objetos ao seu redor. LACOMY (2008, p.17).

De acordo com Lacomy as explicações sobre o processo de conhecimento no dia atuais são baseadas nas teorias de Piaget (1896-1980), Vygotsky (1886-1934), que defendem o interacionismo e o construtivismo social em que a aprendizagem se dá por meio dos processos de descobertas. Em contra posição aos behavioristas na perspectiva cognitivista a aquisição do conhecimento é a aprendizagem. Os comportamentalistas compreendem que a aprendizagem acontece através da mudança ou aquisição de comportamentos causada por estímulo e resposta. Dessa forma, o estudo se organiza em módulo com metas esclarecidas, alunos passivos e professor transmissor de conteúdos.

4. Educabilidade entre o desejo e o poder

Educar não completa em apenas na transmissão de conteúdo aos estudantes educar faz parte da própria vida, é um conjunto de ações que vai além dos postulados transmitidos pelas normas ou titulares da educação. O aprender e o ensinar fazem parte da vida de todos os seres vivos. “As aves aprendem a fazer seus ninhos, os vegetais aprendem a virar para o lado da luz, aprendem simplesmente a vida”.

Para Rousseau não basta que o seja um ser pensante para ser considerado humano, pois, segundo ele, os animais também pensam apenas não possuem capacidade física para executá-las da mesma forma que o homem. Nesse sentido, o dever da educação é formar seres humanos conscientes de seus deveres e direitos. Sabe-se que os aprendizes manifestam diferentes tipos de atitude em relação à aprendizagem. Estudos mostram que uma atitude positiva pode levar o aprendiz a obter bons resultados no aprendizado. Porém, não é só a atitude positiva do aluno que conta, mas também a família, professores e os demais colaboradores no âmbito escolar devem ter a mesma forma de atitude para que o aprendiz sinta-se cada vez mais motivado a desempenhar bem seu papel de aprendiz bem sucedido e com autonomia.

Diante disso, é importante ressaltar que a relação professor/aluno é parte crucial no desenvolvimento da aprendizagem do aluno juntamente com a metodologia de ensino adotada por ele em sala de aula. Sendo assim as ações docentes devem ser pensadas e elaboradas antes de serem executadas. Sabe-se que na educação há muitos fatores que influenciam de forma negativa no sucesso dos alunos com relação a aprendizagem, sendo que uns são mais ou menos propensos que outros ao insucesso. As autoras DIAS e GOMES (2008, p. 153), afirmam que, “Em estudos realizados, a inteligência parece exercer certa influência no sucesso do aprendiz.”.

Acredita-se na possibilidade de educar um ser incompleto para vida?

Já que o homem não pode ser visto como um ser pronto para a vida como um todo, essa é a pergunta pela educabilidade que se coloca para a pedagogia na atualidade. Aprender e ensinar passam a serem fenômenos não mais explicáveis pela vontade ou intervenção divina. Eles acontecem na natureza e devem-se identificar por meio de leis tal qual ocorre para o movimento dos astros e o fluxo de sangue do corpo humano. Direitos de homens e mulheres devem encontrar em si algum valor intrínseco que garanta vida na sociedade. A ideia de dignidade humana, que subjaz à formulação dos direitos humanos modernos, substitui a ideia de honra. A segunda está vinculada a determinado tipo de convenção e institucionalidade, enquanto que a primeira tem sua razão de ser na própria natureza do indivíduo.

Essa compreensão da pessoa e da educação implica colocar a criança ou o educando como centro do processo de aprendizagem. Os conhecimentos cumulados e o educador estão a serviço de um ser em crescimento e não de um programa a ser vencido. Em outras palavras as unidades formadoras são responsáveis pela formação do caráter intelectual e da personalidade do indivíduo, enquanto o social permite a interação e a sensibilidade acerca da realidade do mesmo.

As ideias de Rousseau e outros precursores da escola nova contradiz ao postulado absolutista, o que suscita uma divisão de categorias na educação gerando um novo estilo de confrontar a realidade em sociedade. Na verdade essa divisão existia desde a antiguidade como esclarece as autoras Melo e Urbanetz:

[...] como uma característica das sociedades divididas, desde a antiguidade até a sociedade capitalista, portanto, uma concepção crítica deve pressupor a sua superação... As três ultimam questões apontadas como conteúdos da didática dos anos 80 são pertinentes a um conceito de didática mais ampliada que apenas técnicas e meios de lecionar melhor em sala de aula, por isso a reduz a uma atividade meramente técnica, o que não abrange o seu conteúdo como prática social. Melo e Urbanetz (2012, p.21).

Desse modo, desde a década de 20 a luta por melhoria na qualidade ensino tem sido travada até o momento atual. Pensadores revolucionários vêm ajudando a transformar a educação desde então. Com suas teorias renovadas nos auxilia na árdua jornada que é o ensino numa sociedade de classes. Essa compreensão da pessoa e da educação implica colocar a criança ou o educando como centro do processo de aprendizagem. Os conhecimentos cumulados e o educador estão a serviço de um ser em crescimento e não de um programa a ser vencido. Como esclarece os autores:

Nesse contexto mais amplo é que professor e aluno têm a possibilidade de se tornarem sujeitos do processo, como atores e autores no sentido de responsáveis pelos papeis que desempenham na organização. Isso pressupõe uma atuação efetiva e uma mudança significativa, ou seja, o professor na utiliza mais apenas o livro didático como guia de sua ação pedagógica, ele pensa na sua tarefa e no que está desenvolvendo e planeja coletivamente com clareza onde quer chegar. MELO E URBANETZ (2012, p.86).

Nesse sentido, percebe-se o aluno como sujeito pensante e protagonista sua própria aprendizagem, sendo o professor apenas um mediador/orientador no processo de ensino/aprendizagem. Os autores contemporâneos abordam a importância da relação professor/aluno e a transformação da educação em geral. Enquanto Rousseau, ao criar o mito do bom selvagem, acabou dando argumentos para negar a importância ou o valor da educação. Afinal, a educação é antes de tudo ação intencional para moldar o homem de acordo com um ideal ou um modelo que a sociedade ou um segmento dela valoriza. A educação aceita a natureza, mas em princípio não a toma como suficiente e boa. Se você comparar, por exemplo, as ideias de Rousseau e as de Émile Durkheim (1858-1917) citado por LUCENA (2010, p. 8), verá que, nesse sentido, eles estão em extremos opostos. Para o Durkheim, a função da educação era introduzir a criança na sociedade.

A educação assegura a diversidade, permitindo especializações. A especialização do trabalho provoca nas crianças sobre um primeiro fundo de ideias e de sentimentos comuns. Com efeito, a educação é para a sociedade o meio pela qual ela prepara, no íntimo das crianças, as condições essenciais da própria existência. A educação entende Durkheim, é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social, tendo por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de talentos físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente se destine. (LUCENA 2010, p. 8).

Nesse sentido, segundo o autor, a interação social é um fator crucial para o desenvolvimento da criança tanto intelectual como emocional e social. Fica claro a dicotomia entre as ideias de Rousseau e Durkheim com relação a inserção da criança a âmbito educacional. Porém, ambos concordam em um aspecto em pensar sobre os sistemas educativos e sua prática.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pensamento pedagógico rousseauniano não estabelece uma relação de tranquila aceitação do progresso moderno. Ao contrário, mantém com o progresso das ciências e das artes modernas uma relação bastante conflituosa a frente da sua época que influenciaria ou desafiaria vários socialistas, estudiosos e religiosos. Diz ele que não poderia condenar as ciências e as técnicas, mas a imoralidade de seu tempo. A conclusão a que Rousseau chega é que no estágio da evolução em que se encontra a humanidade não resta outra saída, senão, a de assumir a educação da criança. Porém, essa educação deve ter uma perspectiva naturalista, de outro modo, o preconceito, a autoridade e as instituições sociais em que o homem encontra-se submerso sufocaria nele a natureza, sendo assim, ela não mais seria por ele percebida. A natureza murcharia como uma planta que não é regada nem cuidada, ela existe, porém, sem maior relevância para tal ser. É possível observar que a filosofia educacional de Rousseau tem um conceito que aborda educação, política, noções de natureza e a qualidade de vida do indivíduo em sociedade. Percebe-se ainda, uma preocupação do autor com a criança em sua formação educacional, assim como a do homem para vida em sociedade, evidenciando tanto o lado pedagógico da política quanto o lado político da pedagogia, indicando as várias faces da ação na formação humana. Diante disso, a instituição escolar, colocada em segundo plano passaria cumprir seu papel no desenvolvimento do homem como ser realmente humano, um cidadão crítico e participativo nas ações sociais.

REFERÊNCIAS

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Maria Lais Silva
Enviado por Maria Lais Silva em 23/07/2015
Reeditado em 28/07/2015
Código do texto: T5320675
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