"Cidade dos homens" e "Linha de passe"

E a noção de Sujeito pós-traumático

Conforme estudos realizados acerca da noção de homem pós-traumático, em uma rápida análise às obras cinematográficas “Cidade dos homens” e “Linha de passe”, ambas ambientando enredo em favelas brasileiras, sendo a primeira, numa carioca, e a segunda, numa de São Paulo, percebe-se que as zonas periféricas, marginais são uma das grandes marcas da cena artística, cultural e midiática brasileira contemporânea, caracteriza-se numa produção de ficções cinematográficas que abordam os territórios periféricos, os sujeitos excluídos socialmente e as culturas marginalizadas (favela, o morro, o gueto, o subúrbio e o sertão) que ganham visibilidade nos meios de comunicação de massa como objeto de análise psíquico, social, filosófico e escatológica do homem estereotipado, os estigmas econômicos, sociais e culturais que marcam estes territórios de miséria e exclusão social, retratando as condições de vida destes sujeitos sociais, as culturas e territórios que vivem à margem de um centro de poder político, econômico, social e cultural no Brasil, dando-nos fleches reais de seu cotidiano, de sua realidades, sempre no limite.

Em “Cidade dos Homens” (2007), as personagens principais, Laranjinha e Acerola são dois amigos que cresceram juntos em uma favela do Rio de Janeiro e agora, ambos, com dezoito anos, veem-se obrigados a assumir as responsabilidades da maioridade: Acerola tem um filho de dois anos para cuidar, mas sente-se preso pelo casamento e lamenta a em “Cidade dos homens”, mas que diante da realidade que lhes é imposta encontram-se tão destruídos psiquicamente, que a disciplina, a religiosidade que almejava reger e controlar é substituída por uma nova vertente que se direciona à multiplicidade em si, uma tomada de poder massificante, não direcionada ao homem-corpo, mas ao homem espécie, o que o autor vem a denominar de “biopolítica” da espécie humana, a figura do indivíduo que é explorado mas e destituído de todo conteúdo substancial é vítima contumaz desse sistema de coisas que o leva a ultrapassar o linear entre o certo e o errado, tal como Dario que falsifica sua carteira de identidade para continuar podendo participar das peneiras dos times e ter a possibilidade de ingressar no futebol; Denis, que para ter o capital, engessa a educação recebida e entra no crime; Dinho que se rende à bebida e à violência quando é agredido verbalmente pelo patrão, esquecendo-se de sua fé; Reginaldo, que por um dia nublado realiza seu sonho dirigindo um ônibus roubado. Ali, mediante a todos os traumas que a vida cotidiana lhes impõe, as personagens, em uma situação pós-traumática, pensando em como lidar com aquilo, reagem e sobrevivem... E filosoficamente, pensar no homem pós-traumático é ater-se à realidade do ser humano hoje, fruto da marginalização e discriminação social da biopolítica que aceita como natural o sacrifício do homo sacri.

Bibliografia

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: UFMG, 2002. ______. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1974- 1975). São Paulo: Martins Fontes, 1999. ______. Sécurité, territorie, population: cours au Collège de France (1977-1978). Paris: Seuil/Gallimard, 2004. FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. São Paulo: Imago, 1999.

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 06/09/2015
Reeditado em 06/09/2015
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