Quantas fronteiras precisamos atravessar para atingir o estado de excelência?

“Ricardo Lugris na página 38 do seu livro Montar e Partir, editora Europa (lançado em outubro/2021), transcreve um descuido por não circunstanciar geopoliticamente no seu planejamento, um pequeno país comunista chamado Transnistria, situado da região ao sudeste da Moldávia. A fronteira foi extremamente hostil a sua chegada. Nas suas inúmeras tentativas de se fazer entender em atravessar o pequeno país para chegar a Moldávia, acabou irritando o soldado e foi submetido a um impasse e colocado numa espera indeterminada. O comentário no livro sobre como lidar com a situação, levou-me a um grande clássico da literatura contemporânea e de muito sucesso por seu conteúdo filosófico tratado de maneira profunda e divertida: “ZEN e a arte de Manutenção de Motocicletas”, de Robert Pirsig.

Ricardo diz: “Nesses casos, como não sou principiante, sei que minha paciência sempre será superior à de meus interlocutores, assim como o meu tempo disponível para solucionar o problema.”

Pirsig utiliza a palavra qualidade com o mesmo sentido da palavra grega areté. Atingir o seu máximo através do engajamento, virtude e sabedoria. Segundo Pirsig, estar engajado é a condição necessária para a excelência. No seu livro ele dá exemplo de amigos motociclistas frustrados com a mecânica da motoe. Eu colocaria um exemplo mais apropriado com a passagem do Ricardo Lugris. Temos que resolver um problema de matemática e temos dois estudiosos para encontrar a solução. Um, pressionado pela dialética que impõe a qualidade de nossas vidas através das instituições (inclusive religiosas e universitárias), percebe que só chegará na sua excelência com a solução do problema, pra isso tem que resolvê-lo. É, segundo Pirsig, uma armadilha da desmotivação, a frustração pode desabar o seu estado de excelência. O outro, como defende o autor de Zen, estará engajado no problema, ou seja, não é observador separado do objeto, ele estará dentro do objeto, deixando de ser protagonista e fazendo parte de um todo. Esse não tem porque se preocupar com as frustações, com os erros, com o tempo, porque o estado de excelência é uma procura sem compromisso com resultados, é simples assim, engajamento. Ricardo Lugris, nos mostra o engajamento e o seu estado de excelência quando ele reconhece que tem paciência (enfrentar as frustações) e tempo (não preocupado com resultados). Esse engajamento na viagem de motocicleta explica o sucesso e a eterna motivação. Ricardo viajou mais de 700.000 kms e quando lhe perguntam quando e aonde será sua próxima viagem, ele não tem todas as respostas, somente uma: Ele vai viajar, porque o engajamento não tem a espera do resultado. O estado de excelência está em fazer parte da viagem, da cultura, dos povos, das paisagens, por isso ele é contínuo como se você estivesse na hora, no local e no tempo certo, pra sempre!

O livro Montar e Partir é uma prosa imperdível. No meu primeiro contado, li 100 páginas initerruptamente, quase sem perceber. Recomendo o livro, mesmo sem ter terminado a leitura. A construção da prosa é extremamente cuidadosa para deixar o leitor prazerosamente preso às páginas. São vários relatos que encantam. Tomar chá na companhia de locais no interior da Turquia, pode ter sido considerada umas das conversar mais emocionantes da sua vida sem ter trocado uma única palavra, apenas com acenos, gestos e expressões, incrementados pela hospitalidade do povo turco. A literatura para mim é a maior das artes, então suba na sua moto, cerre os punhos, toque-os nos de Ricardo Lugris monte e parta nessa viagem incrível.”

puccinelli
Enviado por puccinelli em 19/11/2021
Reeditado em 19/11/2021
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