Óperas Rock

O rock alternativo e seus adjacentes me fascinam. Sua não-linearidade, mudanças abruptas e riqueza instrumental são o que mais me atrai neste estilo de música.

No meio em que vivo, aprendi a admirar os álbuns dos proeminentes, como Pink Floyd e Genesis.

Estes dois nomes, sozinhos, possuem uma discografia capaz de satisfazer meus prazeres por muito tempo, até que o próprio tempo faça seu costumeiro trabalho e me incite a procurar novas fontes de água fresca.

E por estas veredas caminhei durante anos, garimpando bandas e álbuns, shows e concertos, releituras e regravações. Acontece que, sem procurar, encontrei algo excêntrico – no sentido de anormal para mim. Arranquei a gema da rocha e me coloquei a analisá-la. Era estranha. No início, achei estranha. No entanto, como um admirador de rock que se proponha a ser respeitável, me forcei a ouvir o álbum inteiro algumas vezes. Então eu entendi. Não tinha em mãos um álbum de rock, por isso era uma experiência insólita. Estavam faltando algumas peças naquele quebra-cabeças, peças estas que não existem, normalmente, em um álbum rock.

Tratava-se, simplesmente, das músicas do teatro musical “The Phantom of the Opera”. Não, não torça o nariz ainda, se você está com um certo preconceito – eu te entendo. E eu não dei minha opinião ainda; eu disse que encontrei algo... “estranho”.

Vou explicar as “Partes” para chegarmos ao “Meio” e depois ao “Todo”. Vocês vão entender as aspas e letras maiúsculas.

As “Partes”. De acordo com a Wikipedia (acesso em 05/12/2021), “The Phantom of the Opera” é um musical composto e co-escrito por Andrew Lloyd Webber, baseado no romance de mesmo nome do francês Gaston Leroux. Um musical, ainda de acordo com a Wikipedia, está entre a ópera e o cabaré (eu também não sabia o que é cabaré). Um musical é uma amálgama entre teatro e concerto, eu me arriscaria a definir. Trocando em miúdos e parando com a enrolação, é um teatro cantado, falado, encenado e dançado, acompanhado de música. Por ser um teatro, há uma estória sendo contada, com início, meio e fim. Por ser cantado com música (banda ou orquestra), tem o que os concertos ou shows de rock têm.

Desta forma, este tipo de produto vai além do som. Eu só tive acesso ao som, quando conheci este musical. E precisei ouvir com atenção anormalmente aguçada para entender o inglês – arte em que não sou perito. Aí as coisas começaram a fazer sentido. Percebi que havia uma estória sendo contada. Identifiquei seu tema, suas partes, os conflitos, o desenrolar e a conclusão. E não achei álbum de rock algum com tal característica tão definida. Outra qualidade deste musical, assim como outros, é que há uma série de ritmos base, os quais vão se repetindo ao longo da execução com nuances interessantes e letras distintas.

E o que eu fiz em seguida? Procurei a parte que me faltava, as imagens. Mentira, não fiz isso. Gostei das músicas e continuei ouvindo até partir para outras obras de Webber. Mas antes tenho que explicar uma diferença crucial entre um musical rock (ou ópera rock) e um álbum de rock, além das já mencionadas.

Fazendo jus à sua definição, um musical rock pode ser apresentado num teatro ou em forma de cinema. Isso aconteceu com O Fantasma da Ópera, que estreou nos teatros do West End londrino em 1986 e, em 2004, ganhou uma versão para o cinema. Feitos semelhantes não se aplicam a um álbum de rock, de acordo com meus humildes conhecimentos (estou aberto a correções, por favor). Desta forma, gosto de dizer que o produto ópera rock espalha-se num espectro muito amplo da arte.

Então, o que eu fiz em seguida? Continuei ouvindo e procurei por outras obras do mesmo compositor. Mas antes disso eu ouvi muitas vezes a trilha sonora do mencionado filme de 2004. Então, fui parar no musical “Cats”, também de Webber, o qual também somente ouvi. Diversas vezes e devo dizer: não é rock, mas é delicioso, faz sentir-se como criança gargalhando e como adulto viciado em heroína. De “Cats” pulei para o famoso “Jesus Christ Superstar”.

É aqui que chego ao “Todo” sobre o qual escrevi antes. Eu passei pelo “Meio” me esgueirando, vocês nem notaram. Explico. Primeiro, disse sobre as “Partes” que definem uma ópera rock, tratando de dar explicações mais esmiuçadas. Depois, falei sobre minhas experiências com a música somente, sem as imagens. A isso eu chamei de “Meio”, que diz respeito à minha experimentação particular e incompleta sobre esta coisa.

O “Todo” vem com “Jesus Christ Superstar”. Eu devo dizer, tentei ouvir o álbum pelo Spotify, remasterizado de 2005, duas vezes antes de conseguir chegar ao fim. Ouvi as primeiras seis faixas e achei um bocado “pop” pro meu gosto. Na segunda tentativa, fui até a faixa oito ou nove, com a mesma impressão. Da terceira vez eu dei raça e fui até o fim. Bastou. Apaixonei-me. Procurei no Youtube e encontrei o filme de 1973 do diretor Norman Jewison. Estava feito, cheguei ao “Todo” que inventei. Pus meus melhores fones de ouvido e assisti ao filme maravilhado, com um sorriso no rosto do início ao fim, mesmo com as propagandas da plataforma de vídeo. Jesus Cristo Superstar é uma verdadeira ópera rock, para os amantes do verdadeiro rock! Ao contrário de O Fantasma da Ópera, Superstar usa de vocais menos eruditos – por erudito quero dizer os sopranos e tenores, você me entende. E, claro, muita guitarra, baixo e bateria.

Terminado o filme, já fui logo procurando um vídeo teatral, ansiando ver outras atuações. Foi aí que descobri mais uma maravilha: uma versão do Superstar, mais puxada para show de rock que para teatro. O que quero dizer é que encontrei um show onde os artistas não estão a caráter e não há cenário: há um maestro, a orquestra e os cantores que vão entrando e saindo conforme pede o enredo. Tudo lembra um grande show de rock. O espetáculo a que assisti, logo após terminado o filme e também no Youtube, foi realizado em Pardubice, República Checa, 2004. Em sua maior parte estava em Checo, é verdade, mesmo assim assisti e me assombrei! Obviamente, existem várias outras apresentações gravadas com qualidade – em inglês e talvez até em português. Mas eu já havia dedicado uma tarde inteira ao Superstar e resolvi tomar um banho e comer um pouco.

“Jesus Christ Superstar” é uma ópera rock de 1970 de Andrew Lloyd Webber com letras de Tim Rice (vale a pena levantar a ficha destes nomes). Além do filme de 1973, há outro do ano de 2000, ao qual quero muito assistir.

Todas estes dados foram levantados da Wikipedia em 05/12/2021.

Continuarei a ouvir as obras de Webber, repetidas vezes, e os filmes e gravações dos shows. Está dada minha opinião sobre óperas rock!

See you!