Candyman

“Vão dizer que suas dúvidas derramaram sangue inocente. Mas eu me pergunto: para que serve o sangue senão para ser derramado?”.

Candyman, Candyman, Candyman... É melhor parar por aqui antes que o senhor das sombras apareça, vaticinado pelo enxame de abelhas, desabitando as sombras com o gancho no lugar de uma das mãos. O objeto cortante, banhado com o sangue de tolos incautos, permanece afiado o bastante para alanhar da virilha ao pescoço, em movimento único, extirpando até a alma também fadada agora a seguir a lenda, ocultando-se na escuridão.

A premissa não é bem essa, mas foi prazeroso brincar um pouco de Clive Barker, o homem por trás do obscuro personagem que ganhou vida no cinema, com o ótimo “O Mistério de Candyman”, sendo o assassino sobrenatural encarnado excepcionalmente por Tony Todd.

Tudo começou lá em 1985, quando Barker assinava o conto The Forbidden (O Proibido em tradução literal), incluído em uma das coletâneas de textos assinadas pelo autor inglês. A trama mostra Hellen Buchanan, uma pesquisadora da universidade, realizando incursões pelo conjunto habitacional Spector Street, uma região tomada pela violência e penúria.

O que levou Hellen até Spector Street foi a condição de galeria do gueto a céu aberto, um dos focos de sua pesquisa. Logo, a protagonista acaba adquirindo fascínio por um estranho retrato, um grafite que adorna a parede de um dos cômodos das inúmeras unidades abandonadas, que pode ter relação com assassinatos os quais a habitação serviu de palco.

Doces para um doce - a frase rabiscada por todos os cantos de Spector Street tem também função predominante na narrativa, gravitando o tema da lenda urbana e ao mesmo tempo apresentando um monstro original, o “homem dos doces”, um símbolo da cultura pop. Estabelece ainda as formas como as lendas sobrevivem diante da cultura popular, na oralidade ou através dos desenhos.

Existem diferenças entre a novela literária e a adaptação cinematográfica, mas de alguma maneira a essência da narrativa está devidamente preservada. Vale o convite para se debruçar sobre as duas obras, traçando as desemelhanças e símiles entre livro e filme, uma tarefa deveras deleitosa.

Rafinha Heleno
Enviado por Rafinha Heleno em 11/02/2022
Reeditado em 31/01/2023
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