PESQUISA SOBRE A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

Olá pessoal,

O texto abaixo trata-se de uma postagem enorme, oriunda de várias pesquisas sobre a obra de Paulo Freire , acima referendada. Com pesquisas diversas sobre o título Pedagogia da Autonomia. A mim, só coube organizar nesse espaço, como consulta e para revisitar a minha Tese de Conclusão de Curso.

Introdução à Pedagogia da Autonomia

O autor Paulo Freire foi um respeitado e conceituado educador brasileiro. Ele desenvolveu o método de alfabetização popular chamado “Método Paulo Freire”. Também criou o MOVA – Movimento de Alfabetização, que é um programa público de apoio a educação em salas comunitárias, adotado por várias prefeituras.

Paulo Freire foi dotado de grande inteligência e senso crítico. Foi professor, ocupou vários cargos governamentais: diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco; diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife; Supervisor para o programa do partido para alfabetização de adultos; Secretário de Educação da cidade de São Paulo.

Ele foi exilado na Bolívia na época da ditadura. Trabalhou no Chile no movimento de reforma agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas. Anos mais tarde retornou ao Brasil.

Com o pensamento crítico aguçado mirou suas críticas ao sistema tradicional de educação. Por esse motivo elaborou novos métodos de ensino e lançou várias obras literárias com ricos conteúdos para a área de educação.

A educação por ele pautada foi fundamentada na ética, no respeito e na dignidade e foi uma constante preocupação durante a sua vida. Não há docência sem discência, dizia o mesmo. Paulo Freire criticava as formas de ensino tradicionais. Defendia uma pedagogia fundada na ética, no respeito, na dignidade e na autonomia do educando. Questionava a função de educador autoritário e conservador, que não permitia a participação dos educandos, suas curiosidades, insubmissões, e as suas vivências adquiridas no decorrer da vida e do seu meio social. Colocou vários argumentos em prol de um ensino mais democrático entre educadores e educandos, defendia que somos seres inacabados, e em constante aprendizado.

Todos, quer sejam educadores ou educandos devem estar abertos a curiosidade, ao aprendizado durante seu percurso de vida. Nesse sentido destacou a importância dos educadores e suas práticas na vida dos alunos. Atitudes, palavras, simples fatos advindos do professor poderão ficar marcados pelo resto da vida de uma pessoa contribuindo positivamente ou não para o seu desenvolvimento. Enfatizou a cautela quando o assunto for educação , pois educar é formar. Destacou a importância do educador e sua metodologia. Ressaltou que o educador deve estar aberto também a aprender e trocar experiências com os educandos, pois a vivência dos educandos merece respeito.

Em seus métodos atuais enfatizou que a curiosidade dos educandos é um aspecto positivo para o aprendizado, pois é um fator importante para o desenvolvimento da criticidade. O ensino dinâmico desenvolve a curiosidade sobre o fazer e o pensar.

Paulo Freire destacou a necessidade do respeito, compreensão, humildade e o equilíbrio das emoções entre educadores e educandos em seus métodos de ensino. No capítulo dois da “Pedagogia da Autonomia “ , Paulo Freire abordou a questão da ética entre educador e educando. Discursou sobre a prática de ensinar. “Ensinar não é transferir conhecimento”, é respeitar a autonomia e a identidade do educando. Para passar conhecimento o educador deve estar envolvido com ele, para envolver os educandos; deve estimular os alunos a desenvolverem seus pensamentos. Forneceu argumentos mostrando que desta forma é possível o desenvolvimento da crítica. Ele se voltou para a teoria do pensar certo. Constatou as diferenças de forma de tratamento às pessoas em relação ao seu nível social.

Defendeu que educar é também respeitar as diferenças sem discriminação, pois , esta é imoral, negou radicalmente a democracia que fere a dignidade do ser humano. Qualquer forma de discriminação deve ser rejeitada. Abordou algumas definições que são necessárias para o desempenho do bom ensino tendo por conseqüência o maior aproveitamento no aprendizado. A ética, o bom senso, a responsabilidade, a coerência, a humildade, a tolerância são qualidades de um bom educador.

Ele também abordou a questão do professor defender seus direitos e exigir condições para exercer sua docência, pois dessa forma estará exercendo sua ética e respeito por si mesmo e pelos seus alunos, posto que ensinar é uma especificidade humana.

No capítulo terceiro da obra referendada, Paulo Freire abordou o tema da autoridade do educador. É muito importante a segurança e o conhecimento do professor para se fazer respeitado. Distinguiu a autoridade docente democrática da autoridade docente mandonista. Protestou em relação à minimização da população mais carente quanto à imposição de colocá-los em situações ditas como fatalísticamente imutáveis pela sociedade mais favorecida, com o objetivo de obter alienação, resignação e conformismo. Traçou argumentos a favor da recriação de uma sociedade menos injusta e mais humana. Apontou que o Professor exerce uma grande importância para que haja um movimento de mudança social. Delineou algumas atitudes de atuação do professor em sala de aula que pudessem fazer florescer uma nova consciência aos futuros educandos. Mostrou que há necessidade de decisão, ruptura e escolhas para alcançar os objetivos. Como professor critico impôs a decência e a ética como fatores qualitativos para obter o respeito dos alunos , e acompanhá-los.

Os professores têm uma séria responsabilidade social e democrática. Estes devem abstrair-se da sua ignorância para escutar os educandos, sem tolí-los. Indicou que há uma necessidade de mudanças na postura dos profissionais para enfim colaborar com a melhoria de condições e qualidade de vida, e assim desarticular qualquer forma de discriminação e injustiça, pois a educação é uma especificidade humana que intervém no mundo. Traçou aspectos necessários aos educadores para dar oportunidade aos educandos de desenvolverem sua criatividade, o senso de crítica, respeito, e liberdade. Demonstrou que a pedagogia da autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e responsabilidade. Criticou as atividades consideradas anti- humanistas. Discutiu também sobre a intervenção da globalização que vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando a pobreza de milhões. A preocupação com o lucro deixa a desejar as questões de ética e solidariedade humanas. Inclusive, Paulo Freire citou que o desemprego no mundo não é uma fatalidade como muitos querem que acreditemos e sim o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos, deixando de ser algo a serviço e bem estar do homem.

A obra de Paulo Freire “Pedagogia da Autonomia” pode ser base de conhecimento para a vida. É um livro de conteúdo valioso que ensina as práticas educacionais e faz-se útil nesse conhecimento. Os pedagogos  devem partir do princípio de que nós todos somos seres incompletos, que precisamos estar em busca de novos conhecimentos, sejam eles técnicos, práticos ou através das pessoas que convivemos ou que passam por nosso caminho.

Para sermos respeitados temos de ter segurança no conhecimento. Pedagogo - assim como todas as profissões humanísticas (grifo meu) é parte de um conjunto de práticas sociais e éticas ligadas aos seres humanos, na maioria das vezes em situações de fragilidade física e/ou emocional. Dessa forma, necessitam de segurança no conhecimento adquirido para passar confiança àqueles que deles necessitam.

O pedagogo(a) confiante no que faz traz segurança àqueles que cuidam e no que administram. Além de todo o conhecimento técnico científico, o bom pedagogo deve saber administrar sua equipe de forma democrática com autonomia e autoridade respeitando as vivências adquiridas de sua equipe como um todo e individualmente. Deve haver o respeito, a compreensão, a humildade e o equilíbrio das emoções entre pedagogos e professores, equipe e clientes para o desenvolvimento de um ambiente amistoso, edificado na responsabilidade, bom senso, coerência e humildade. Deve dar oportunidade a sua equipe de desenvolver a criatividade, a capacidade de decisão e responsabilidade.

A pedagogia também está envolvida com aspectos econômicos-sociaisculturais, por isso é necessária uma boa conscientização desse profissional para a obtenção de resultados positivos a serviço do bem estar do Homem. Deve abster-se de qualquer forma de discriminação sendo um ser neutro nessa particularidade, tratando todos com igualdade, pois , está centrada na clientela. Por esse motivo, faz-se necessário que todos sejam aliados na luta por uma assistência de qualidade e acessível a toda população. Educação é um direito de todos.

A pedagogia também exerce um importante papel na educação. Envolvida nas medidas que possibilitam a compreensão da importância de suas ações. É importante que esses profissionais estejam inteirados e integrados com o conhecimento seguro para passar confiança e credibilidade, utilizar meios de linguagem de fácil compreensão para entendimento da população, ouvir, aceitar críticas, dar liberdade de opinião a essas pessoas tão discriminadas pela sociedade e tão carentes de atendimento. Dessa forma, envolver os cidadãos na conscientização de seus direitos, para que façam que as autoridades tomem as devidas providências.

*Conclusão*

O conhecimento adquirido através da obra de Paulo Freire é com certeza um fator auxiliador no desenvolvimento das práticas educacionais e de vida.

Esta obra é um convite ao exercício da auto-avaliação e conscientização de valores sociais, respeito, da forma de educar e de agir.

Compreensão, ética e responsabilidade

Através deste livro obtemos a certeza de que devemos lutar pelos nossos direitos, com o objetivo de viver e fazer outros viverem dignamente. É uma obra que merece respeito tanto de educadores, educandos, e também todos os envolvidos com o comprometimento de mudar para melhor, de contribuir para a conscientização de um mundo melhor.

É um alerta para o aperfeiçoamento como indivíduos e cidadãos. Ter competência para atuar com segurança. Ter humildade para aprender. Ter compreensão para escutar, ter carinho para doar amor. Ter autoridade para se fazer respeitar com democracia.

É um estímulo que deve ser aperfeiçoado todos os dias. Fazer o que se gosta. Batalhar pelo que se quer. Defender o que ou quem necessita. Questionar o que vem sendo a nossa vida, e mudar para melhor. De contribuir para uma sociedade mais benevolente e justa.

Fazer como Paulo Freire preocupar-se, lutar para fazer a diferença. Pois, a grandeza de um Homem não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência de que não sabe e está disposto a aprender!

Bibliografia

FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

Autor: Lucia

https://pedagogiaaopedaletra.com/resumo-livro-pedagogia-autonomia-paulo-freire/

“”””””””””””””””””””””

Abaixo o mesmo assunto pesquisado em outra fonte.

“””””””””””””””””””””

A AUTONOMIA

 

           Etimologicamente autonomia significa o poder de dar a si a própria lei, autós (por si mesmo) e nomos (lei). Não se entende este poder como algo absoluto e ilimitado, também não se entende como sinônimo de auto-suficiência. Indica uma esfera particular cuja existência é garantida dentro dos próprios limites que a distinguem do poder dos outros e do poder em geral, mas apesar de ser distinta, não é incompatível com as outras leis. 

          Autonomia é oposta a heteronomia, que em termos gerais é toda lei que procede de outro, hetero (outro) enomos (lei). Ferrater Mora (1965) define autonomia como uma realidade que é regida por uma lei própria. Ainda sugere dois sentidos para o termo autonomia: o sentido ontológico se refere a certas esferas da realidade que são autônomas em relação às outras, por exemplo, a realidade orgânica é distinta da inorgânica, o sentido ético se refere a uma lei moral que tem em si seu fundamento e a razão da própria lei. O último sentido de autonomia foi desenvolvido por Kant. Segundo Abbagnano (1962, p. 93), é bastante usada a expressão "princípio autônomo" no sentido de que o princípio tenha em si, ou coloque por si mesmo, a sua validez ou a regra de sua ação. 

     

      Mas a definição que nos parece mais apropriada por designar melhor o sentido de autonomia é a do Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia: "Etimologicamente autonomia é a condição de uma pessoa ou de uma coletividade cultural, que determina ela mesma a lei à qual se submete".(LALANDE, 1999, p. 115). 

          Como a autonomia é "condição", como ela se dá no mundo e não apenas na consciência dos sujeitos, sua construção envolve dois aspectos: o poder de determinar a própria lei e também o poder ou capacidade de a realizar. O primeiro aspecto está ligado à liberdade e ao poder de conceber, fantasiar, imaginar, decidir, e o segundo ao poder ou capacidade de fazer. Para que haja autonomia os dois aspectos devem estar presentes, e o pensar autônomo precisa ser também fazer autônomo.

           O fazer não acontece fora do mundo, portanto está cerceado pelas leis naturais, pelas leis civis, pelas convenções sociais, pelos outros, etc, ou seja, a autonomia é limitada por condicionamentos, não é absoluta. Dessa forma, autonomia jamais pode ser confundida com auto-suficiência. 

               Se autonomia é a condição de quem determina a própria lei, a condição de quem é determinado por algo estranho a si é heteronomia. Segundo Lalande (idem), heteronomia é "Condição de uma pessoa ou de uma coletividade que recebe do exterior a lei à qual se submete". Situações como ignorância, escassez de recursos materiais, má índole moral, etc, impõe determinações que limitam ou anulam a autonomia, sendo caracterizadas, portanto, como heteronomia. A autonomia exige uma existência que não é de antemão determinada, a fim de que o sujeito possa exercer o poder de determinar-se.

 

           Apesar de o conceito de autonomia ter sido definido e adquirido centralidade na modernidade, especialmente com Kant, já no pensamento grego era desenvolvida uma noção de autonomia. Ao longo da história essa noção vai adquirindo significados diferentes e, assim, vai sendo elaborada. Por isso, para entendermos a concepção de autonomia de um autor, precisamos olhar a qual heteronomia ele se opôs e o contexto histórico e teórico que o envolvia. 

(http://www.pucrs.br/edipucrs/online/autonomia/autonomia/cap.1.html)

 

RESUMO DA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

PAULO FREIRE

Parte 1

 

Para se entender o que trata o livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, precisamos verificar a análise de cada um dos termos que formam a expressão “pedagogia da autonomia”. Depois que fizermos essa verificação podemos obter um melhor entendimento da relação que a obra no total mantém com o tema da liberdade humana, além de ser necessário, também, que entendamos a não conclusão humana neste estudo da pedagogia baseada na autonomia.

Partindo para os significados dos termos da expressão, podemos concluir que incluso na palavra pedagogia se encontra uma menção ao método a ser adotado na arte da educação; na arte de ensinar. Logo verificamos que na expressão “pedagogia da autonomia”, sendo a pedagogia o método — a obra Pedagogia da Autonomia deve tratar de um método de ensino baseado na autonomia. O que se pergunta agora é a que tipo de autonomia a expressão se refere.

Há uma parte do livro chamada de "primeiras palavras" em que o autor cita o princípio da inconclusão do ser humano como base para essa mencionada pedagogia da autonomia. A relação entre inconclusão humana e a expressão “pedagogia da autonomia” pode ser importante para se entender a que autonomia a expressão se refere. Neste caso, o termo inconclusão se refere à falta de essência humana no próprio ser humano. O homem é constantemente colocado como um ser inerentemente social para poder ser humano no sentido de humanidade.

A humanidade do ser humano é colocada como um fator histórico, passado pelas gerações para as gerações e em constantes mudanças. Esse princípio comprovável de incompletude humana é o que serve de base para a criação do termo e da idéia “pedagogia da autonomia”.

Alguns, no entanto, podem se perguntar que relação há entre a falta de essência no ser humano e a pedagogia da autonomia como método. Isso, na realidade, ocorre porque, dada a falta de essência e completude, o homem precisa ser socializado. Mas a socialização idealizada por Paulo Freire vai além de um simples preenchimento para essa falta de essência intrínseca no homem.

A socialização idealizada por ele se direciona para uma continuação de inconclusão, mesmo após a fase de socialização “completa”. Ele entende que o homem deve ter os meios necessários para poder fazer uma análise crítica e em movimento de sua própria socialização. Isso tem algo a ver com o tema da liberdade humana. Vejamos por quê.

Partindo do princípio de que o homem é sem essência. Chegaremos à idéia de que ele precisa preencher essa lacuna para poder ser humano. Logo verificamos que esse preenchimento é preconceituoso, visto ser um elemento cultural, histórico, mutável. Agora seguimos para a questão do desenvolvimento da capacidade de crítica do indivíduo. Exatamente neste ponto, chegamos ao entendimento do termo Pedagogia da autonomia.

Ora, se nós entendemos que o homem aprende nada mais que preconceitos (no sentido de conceitos culturais concebidos anteriormente ao indivíduo e a ele transmitidos), devemos conceber a idéia de que ele precisa obter uma forma ou um método que o capacite a julgar tais preconceitos. E tal julgamento deve ser de uma forma baseada na ética universal, isto é, em defesa incondicional da vida.

Porém nos perguntamos: Pode tal método ser realizado de uma forma em que não haja os meios de ensino para isso direcionados? Portanto, o livro Pedagogia da Autonomia trata justamente disso: como os educadores e educadoras podem direcionar os seus métodos e ideais para uma educação baseada no princípio e direito da liberdade do ser humano de poder rever, avaliar e até mesmo mudar ou complementar os preconceitos para ele passados pelos fatores culturais em que foi criado.

Esse tema de liberdade do ser humano de poder escolher eticamente quais são os fatores que irão continuar fazendo parte de sua essência, justamente pelo fato de sua essência ter sido formada por outrem, é importantíssimo na e para a educação. Isso deve ser melhor analisado, pelo menos no estudo de um dos capítulos do livro Pedagogia da Autonomia.

 

Parte 2

Comentário ao Capítulo 1.7

 

Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação

Em toda a obra Pedagogia da Autonomia Paulo Freire cita

de modo continuado a expressão “pensar certo”. Porém, isto não implica o “pensar certo” entendido formalmente, como se algo fosse inerentemente verdade. O pensar certo deve se referir ao uso consciencioso da capacidade de pensar. Isso fica claro na seguinte citação: “Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo.” (Freire, 2007, p. 27) Ora, esta expressão “pensar certo” é utilíssima na prática da educação. Isso nos remete para algo muito além das salas de aula, para algo quase que transcendental - o sentido das coisas.

Nós notamos que tudo do que fazemos, precisamos dar um sentido para uma efetivação plena da atividade. Uma atividade que para nós não tenha sentido não traz felicidade, contentamento. Isso ocorre até mesmo na questão da existência humana! Aqui podemos pensar de um modo mais profundo em uma análise plena dos problemas dos jovens e, por extensão, da educação e da sociedade: não seriam tais problemas causados pela incapacidade da sociedade de prover um sentido duradouro nas atividades dos seres humanos? Nós podemos facilmente imaginar tal premissa na prática, na realidade existencial. Vamos a alguns exemplos.

Paulo Freire nos diz que: “É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico.” (freire, 2007, p. 35) Vejam aqui que o autor nos apresenta um problema existencial bem sério que diz respeito aos fatores que retiram os sentidos das coisas mais importantes da vida: o desencontro entre o novo e o velho. Isso é puramente observável! O novo (aceitação de costumes, diferenças de raças, diferenças de personalidades, diferenças de culturas, etc.) muitas  vezes é encarado como algo a ser descartado ou evitado — e às vezes até mesmo perseguido! Já o velho — interessante esse paradoxo — deve ser descartado pelo fator “cronológico”, isto é, porque já é velho… Nós conseguimos perceber aqui que, em ambos os casos, o fator de critério de aceitação não foi a observação da qualidade, do sentido de que essas coisas “novas” ou “velhas” trazem para o ser humano em questão. Isso é grave! Rejeição preconceituosa do novo traz tolhimento social e, inversamente, a rejeição impensada do velho traz modismo, uma coisa vã e sem sentido duradouro.

Com efeito, Freire diz: “O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo.” — Freire, 2007, p. 35. Como pode alguém desejar ser um educador ou educadora sem estar disponível àquilo que é novo ou aquilo que é velho porém, importante para as pessoas? Lembremo-nos: o que deve servir de pedra de toque na aceitação ou rejeição do novo ou do velho é o sentido que tais coisas trazem para a vida das pessoas. Não seria possível fazer com que o sentido de cada pessoa fosse usado como “chamariz” para um melhor interesse dela própria na educação? Por exemplo, que sentido existe para um adolescente em estudar História ou Sociologia?… — Isso muitas vezes leva a uma rebeldia negativa, causadora da falta de interesse e de baixa no nível de educação. Nós podemos e devemos imaginar, na verdade, como as matérias em questão devem ter um sentido na vida desses jovens. Ninguém faz nada sem um sentido. Se alguém o fizer, deve ser por um interesse material: aquilo que Paulo Freire chama de “educação bancária”.

E sobre a discriminação? Isso retira muito o sentido de vida das pessoas. Que sentido existe para um jovem em ir para a escola estudar, sabendo que ele está ali para aprender técnicas que lhe são passadas, não para melhorar o sentido de sua vida, mas para poder “vencer na vida” e continuar sustentando o sistema ao qual está implantado? Aliás, esta educação - “educação bancária” ,

promove a discriminação, pois não gera humanos com um sentido na vida, mas simples seres que farão parte da história de lutas de classes herdada por nós desde tempos de outrora! Se os jovens, ou seja lá quem for, não enxergarem na educação, um sentido de lutas para poderem melhorar a sua própria existência e o bem-estar global, eles jamais empregarão a sua vitalidade de forma inteligente, de forma benéfica.

Vejam as seguintes afirmações freirianas todas-carregadas de sabedoria e de sentido; ele diz:

“Não há inteligência… que não seja também comunicação

do inteligido… A tarefa coerente do educador que pensa certo é exercer como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado.” — O grifo é nosso. Freire, 2007, pp. 37, 38.

Essas afirmações parecem trazer algum sentido existencial para o ser humano na questão do estudar. Notem que não se trata de um simples passar de informações, mas uma troca de informações, uma tentativa de complementação ou de diálogo. Pelo visto, Freire visualizava a relação entre professores e estudantes muito mais como uma relação entre seres humanos amigos numa mesma missão do que uma mecânica relação de “nós falamos e vocês escutam”. Ele ainda diz: “O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico.” (Freire, 2007, p. 38 ) Mas,em que sentido “não polêmico”? Ora, como disse ele mesmo, a inteligibilidade deve se ‘fundar na dialogicidade’. Deve-se tentar um entendimento mútuo, baseado na ética universal, e não uma simples medição de opiniões na direção “sou professor e estou certo, me provem o contrário”.

Bem, é impossível sintetizar a grande obra Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, em poucos comentários direcionados unicamente a um dos capítulos da obra. O certo é que, a obra, como um todo, produz uma forma, um método, uma pedagogia baseada na liberdade de pensamento do ser humano, na liberdade dele poder descobrir um sentido para a sua existência no próprio ato de estudar. Aliás, como já dito tantas outras vezes, se não houver sentido, não há educação, não há nada.

(https://marcondeslucena.wordpress.com/universidade/filosofia/)

 

 

 

 

 

Resumo do livro - PAULO FREIRE “ PEDAGOGIA DA AUTONOMIA”Resumo do livro:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011. 

Leia também: Livros Paulo Freire donwload gratis

 

 CAPÍTULO 1 - NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA

 

A reflexão crítica da prática é uma exigência da relação teoria/ prática, sem a qual a teoria irá virando apenas palavras, e a prática, ativismo.

Há um processo a ser considerado na experiência permanente do educador. No dia-a-dia ele recebe os conhecimentos – conteúdos acumulados pelo sujeito, o aluno, que sabe e lhe transmite.

Neste sentido, ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

 

 

Ensinar é mais que verbo-transitivo relativo, pede um objeto direto: quem ensina, ensina alguma coisa; pede um objeto indireto: à alguém, mas também ensinar inexiste sem aprender e aprender inexiste sem ensinar.

Só existe ensino quando este resulta num aprendizado em que o aprendiz se tornou capaz de recriar ou refazer o ensinado, ou seja, em que o que foi ensinado foi realmente aprendido pelo aprendiz.

Esta é a vivência autêntica exigida pela prática de ensinar-aprender. É uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética.

Nós somos “seres programados, mas, para aprender” (François Jacob). O processo de aprender pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente que pode torná-lo mais e mais criador, ou em outras palavras: quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói e desenvolve a “curiosidade epistemológica”, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto.

 

1. ENSINAR EXIGE RIGOROSIDADE METODOLÓGICA

 

O educador democrático, crítico, em sua prática docente deve forçar a capacidade de crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Trabalhar com os

educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis, é uma de suas tarefas primordiais. Para isso, ele precisa ser um educador criador, instigador, inquieto, rigorosamente curioso, humilde e persistente. Deve ser claro para os educandos que o educador já teve e continua tendo experiência de produção de certos saberes e que estes não podem ser simplesmente transferidos a eles.

Educador e educandos, lado a lado, vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber. É impossível tornar-se um professor crítico, aquele que é mecanicamente um memorizador, um repetidor de frases e idéias inertes, e não um desafiador. Pensa mecanicamente. Pensa errado. A verdadeira leitura me compromete com o texto que a mim se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito.

Só pode ensinar certo quem pensa certo, mesmo que às vezes, pense errado. E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiados certos de nossas certezas. O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos a beleza de estarmos no mundo e com o mundo, como seres históricos, intervindo no mundo e conhecendo -o .Contudo, nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho, e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã.

Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o momento em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente, e o momento em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente.

É a prática da “do-discência” : docência- discência e pesquisa.

 

2. ENSINAR EXIGE PESQUISA Não há ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e para comunicar o novo.

 

3. ENSINAR EXIGE RESPEITO AOS SABERES DO EDUCANDO A escola deve respeitar os saberes socialmente construídos pelos alunos na prática comunitária. Discutir com eles a razão de ser de alguns saberes em relação ao ensino dos conteúdos. Discutir os problemas por eles vividos. Estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos. Discutir as implicações políticas e ideológicas, e a ética de classe relacionada a descasos.

 

4. ENSINAR EXIGE CRITICIDADE Entre o saber feito de pura experiência e o resultante dos procedimentos metodicamente rigorosos, não há uma ruptura, mas uma superação que se dá na medida em que a curiosidade ingênua, associada ao saber do senso comum, vai sendo substituída pela curiosidade crítica ou epistemológica que se rigoriza metodicamente.

 

5. ENSINAR EXIGE ESTÉTICA E ÉTICA Somos seres históricos – sociais, capazes de comparar, valorizar, intervir, escolher, decidir, romper e por isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos sendo. Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado.

Pensar certo demanda profundidade na compreensão e interpretação dos fatos. Não é possível mudar e fazer de conta que não mudou. Coerência entre o pensar certo e o agir certo. Não há pensar certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda, assumir a mudança operada

 

6. ENSINAR EXIGE A CORPOREIFICAÇÃO DA PALAVRA PELO EXEMPLO

O professor que ensina certo não aceita o “faça o que eu mando e não o que eu faço”. Ele sabe que as palavras às quais falta corporeidade do exemplo quase nada valem. É preciso uma prática testemunhal que confirme o que se diz em lugar de desdizê-lo.

7. ENSINAR EXIGE RISCO, ACEITAÇÃO DO NOVO E REJEIÇÃO A QUALQUER FORMA DE DISCRIMINAÇÃO - O novo não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, nem o velho recusado, apenas por ser velho. O velho que preserva sua validade continua novo.

A prática preconceituosa de raça, classe, gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.

Ensinar a pensar certo é algo que se faz e que se vive enquanto dele se fala com a força do testemunho; exige entendimento co-participado. É tarefa do educador desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzindo nele compreensão do que vem sendo comunicado. O pensar certo é intercomunicação dialógica e não polêmica.

 

8 ENSINAR EXIGE REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA - Envolve o movimento dinâmico, dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. É fundamental que o aprendiz da prática docente saiba que deve superar o pensar ingênuo, assumindo o pensar certo produzido por ele próprio, juntamente com o professor formador. Por outro lado, ele deve reconhecer o valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição.

Através da reflexão crítica sobre a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática. E, ainda, quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a razão de ser como estou sendo, mais me torno capaz de mudar, de promover-me do estado da curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica. Decido, rompo, opto e me assumo.

 

9. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO E A ASSUNÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL - Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar condições para que os educandos em suas relações sejam levados à experiências de assumir-se. Como ser social e histórico, ser pensante, transformador, criador, capaz de ter raiva porque capaz de amar.

A questão da identidade cultural não pode ser desprezada. Ela está relacionada com a assunção do indivíduo por ele mesmo e se dá, através do conflito entre forças que obstaculizam essa busca de si e as que favorecem essa assunção.

Isto é incompatível com o treinamento pragmático, com os que se julgam donos da verdade e que se preocupam quase exclusivamente com os conteúdos.

Um simples gesto do professor pode impulsionar o educando em sua formação e auto-formação. A experiência informal de formação ou deformação que se vive na escola, não pode ser negligênciada e exige reflexão. Experiências vividas nas ruas, praças, trabalho, salas de aula, pátios e recreios são cheias de significação.

 

CAPÍTULO 2 - ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONHECIMENTO

 

. . . mas, criar possibilidades ao aluno para sua própria construção. Este é o primeiro saber necessário 

à formação do docente, numa perspectiva progressista. É uma postura difícil a assumir diante dos outros e com os outros, face ao mundo e aos fatos, ante nós mesmos. Fora disso, meu testemunho perde eficácia.

 

1. ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO INACABAMENTO - Como professor crítico sou predisposto à mudança, à aceitação do diferente. Nada em minha experiência docente deve necessariamente repetir-se. A inconclusão é própria da experiência vital. Quanto mais cultural o ser, maior o suporte ou espaço ao qual o ser se prende “afetivamente” em seu desenvolvimento. O suporte vai se ampliando, vira mundo e a vida, existência na medida em que ele se torna consciente, apreendedor, transformador, criador de beleza e não de “espaço” vazio a ser preenchido por conteúdos.

A existência envolve linguagem, cultura, comunicação em níveis profundos e complexos; a “espiritualização”, possibilidade de embelezar ou enfear o mundo faz

dos homens seres éticos, portanto capazes de intervir no mundo, de comparar, ajuizar, decidir, romper, escolher. Seres capazes de grandes ações, mas também de grandes baixezas. Não é possível existir sem assumir o direito e o dever de optar, decidir, lutar, fazer política.

Daí a imperiosidade da prática formadora eminentemente ética. Posso ter esperança, sei que é possível intervir para melhorar o mundo. Meu “destino” não é predeterminado, ele

precisa ser feito e dessa responsabilidade não posso me eximir. A História em que me faço com os outros e dela tomo parte é um tempo de possibilidades, de problematização do futuro e não de inexorabilidade.

 

2. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO DE SER CONDICIONADO

 

É o saber da nossa inconclusão assumida. Sei que sou inacabado, porém consciente disto, sei que posso ir mais além, através da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente. Lutando deixo de ser apenas objeto, para ser também sujeito da História.

A consciência do mundo e de si como ser inacabado inscrevem o ser num permanente movimento de busca. E nisto se fundamenta a educação como processo permanente.

Na experiência educativa aberta à procura, educador e alunos curiosos, “programados, mas para aprender”, exercitarão tanto melhor sua capacidade de aprender e ensinar, quanto mais se façam sujeitos e não puros objetos do processo.

 

3. ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA DO SER DO EDUCANDO

 

. . . à sua dignidade e identidade. Isto é um imperativo ético e qualquer desvio nesse sentido é uma transgressão. O professor autoritário e o licencioso são transgressores da eticidade. Ensinar, portanto, exige respeito à curiosidade e ao gosto estético do educando, à sua inquietude, linguagem, às suas diferenças. O professor não pode eximir-se de seu dever de propor limites à liberdade do aluno,

nem de ensiná-lo. Deve estar respeitosamente presente à sua experiência formadora.

 

4. ENSINAR EXIGE BOM SENSO - Quanto mais pomos em prática de forma metódica nossa capacidade de indagar, aferir e duvidar, tanto mais crítico se faz nosso bom senso. Esse exercício vai superando o que há de instintivo na avaliação que fazemos de fatos e acontecimentos. O bom senso tem papel importante na nossa tomada de posição em face do que devemos ou não fazer, e a ele não pode faltar a ética.

 

5. ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA E LUTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS EDUCADORES - A luta dos professores em defesa de seus direitos e dignidade, deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Em conseqüência do desprezo a que é relegada a prática pedagógica, não posso desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem. Necessito cultivar a humildade e a tolerância, afim de manter meu respeito de professor ao educando. É na competência de profissionais idôneos que se organiza politicamente a maior força dos educadores. É preciso priorizar o empenho de formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política, e repensar a eficácia das greves.

Não é parar de lutar, mas reinventar a forma histórica de lutar.

 

6. ENSINAR EXIGE APREENSÃO DA REALIDADE - Preciso conhecer as diferentes dimensões da prática educativa, tornando-me mais seguro em meu desempenho. O homem é um ser consciente que usa sua capacidade de aprender não apenas para se adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade.

A memorização mecânica não é aprendizado verdadeiro do conteúdo. Somos os únicos seres que social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Para nós, aprender é aventura criadora, é construir, reconstruir, constatar para mudar, e isto não se faz sem abertura ao risco.

O papel fundamental do professor progressista é contribuir positivamente para que o educando seja artífice de sua formação, e ajudá-lo nesse empenho. Deve estar atento à difícil passagem da heteronomia para a autonomia para não perturbar a busca e investigações dos educandos

 

7. ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA - Esperança de que professor e alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e também resistir aos obstáculos à alegria. O homem é um ser naturalmente esperançoso. A esperança crítica é indispensável à experiência histórica que só acontece onde há problematização do futuro. Um futuro não determinado, mas que pode ser mudado.

 

8. ENSINAR EXIGE A COVICÇÃO DE QUE A MUDANÇA É POSSÍVEL É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é, está sendo. Meu papel histórico não é só o de constatar o que ocorre, mas também o de intervir como sujeito de ocorrências. Constato não para me adaptar, mas para mudar a realidade.

A partir desse saber é que vamos programar nossa ação político-pedagógica, seja qual for o projeto a que estamos comprometidos. Desafiando os grupos populares para que percebam criticamente a violência e a injustiça de sua situação concreta; e que também percebam que essa situação, ainda que difícil, pode ser mudada. Como educador preciso considerar o saber de “experiência feito” pelos grupos populares, sua explicação do mundo e a compreensão de sua própria presença nele. Tudo isso vem explicitado na “leitura do mundo” que precede a “leitura da palavra”.

Contudo, não posso impor a esses grupos meu saber como o verdadeiro. Mas, posso dialogar com eles, desafiando-os a pensar sua história social e a perceber a necessidade de superarem certos saberes que se revelam inconsistentes para explicar os fatos.

 

9. ENSINAR EXIGE CURIOSIDADE - Procedimentos autoritários ou paternalistas impedem o exercício da curiosidade do educando e do próprio educador. O bom clima pedagógico-democrático levará o educando a assumir eticamente limites, percebendo que sua curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro, nem expô-la aos demais. Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, não aprendo nem ensino. É fundamental que alunos e professor se assumam epistemologicamente curiosos. Saibam que sua postura é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou ouve.

O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais metodicamente “perseguidora” do seu objetivo. Quanto mais a curiosidade espontânea se intensifica e se “rigoriza”, tanto mais epistemologicamente vai se tornando. Um dos saberes fundamentais à prática educativo-crítica é o que adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea para curiosidade epistemológica.

CAPÍTULO 3 - ENSINAR É UMA ESPECIFICIDADE HUMANA

 

1. ENSINAR EXIGE SEGURANÇA, COMPETÊNCIA PROFISSIONAL E GENEROSIDADE - A Segurança é fundamentada na competência profissional, portanto a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. A autoridade deve fazer-se generosa e não arrogante. Deve reconhecer a eticidade. O educando que exercita sua liberdade vai se tornando tão mais livre quanto mais eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas ações. Testemunho da autoridade democrática deixa claro que o fundamental é a construção, pelo indivíduo, da responsabilidade da liberdade que ele assume. É o aprendizado da autonomia.

 

2. ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO - A maneira como os alunos me percebem tem grande importância para o meu desempenho. Não há como sendo professor não revelar minha maneira de ser, de pensar politicamente, diante de meus alunos. Assim, devo preocupar-me em aproximar cada vez mais o que digo do que faço e o que pareço ser do que realmente estou sendo. Minha presença é uma presença em si política, e assim sendo, não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos, minha capacidade de analisar, comparar, avaliar; de fazer justiça, de não falhar à verdade. Meu testemunho tem que ser ético. O espaço pedagógico neutro prepara os alunos para práticas apolíticas. A maneira humana de se estar no mundo não é, nem pode ser neutra.

 

3. ENSINAR EXIGE COMPREENDER QUE A EDUCAÇÃO É UMA FORMA DE INTERVENÇÃO NO MUNDO - Implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto seu desmascaramento. Como professor minha prática exige de mim uma definição. Decisão. Ruptura. Como professor sou a favor da luta contra qualquer forma de discriminação, contra a dominância econômica dos indivíduos ou das classes sociais, etc. Sou a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Não posso reduzir minha prática docente ao puro ensino dos conteúdos, pois meu testemunho ético ao ensiná-los é igualmente importante. É o respeito ao saber de “experiência feito” dos alunos, o qual busco superar com eles. É coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço.

 

4. ENSINAR EXIGE LIBERDADE E AUTORIDADE - A autonomia vai se constituindo na experiência de várias e inúmeras decisões que vão sendo tomadas. Vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser por si, é processo; é vir a ser. Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca porque há sempre alguém decidindo por mim. Quanto mais criticamente assumo a liberdade, tanto mais autoridade ela tem para continuar lutando em seu nome.

 

5. ENSINAR EXIGE TOMADA CONSCIENTE DE DECISÕES - A educação, especificidade humana é um ato de intervenção no mundo. Tanto intervenções que aspiram mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, etc. quanto as que pelo contrário, pretendem imobilizar a História e manter a ordem injusta.

A educação não vira política por causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é política e sua raiz se acha na própria educabilidade do ser humano, que se funde na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. O ser humano, assim se tornou um ser ético, um ser de opção, de decisão.

Diante da impossibilidade da neutralidade da educação, é importante que o educador saiba que se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental ela pode. O educador crítico pode demonstrar que é possível mudar o país. E isto reforça nele a importância de sua tarefa político-pedagógica. Ele sabe o valor que tem para a modificação da realidade, a maneira consistente com que vive sua presença no mundo. Sabe que sua experiência na escola é um momento importante que precisa ser autenticamente vivido.

 

6. ENSINAR EXIGE SABER ESCUTAR - Aprendemos a escutar escutando. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, e sem precisar se impor. No processo da fala e escuta, a disciplina do silêncio a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que falam e escutam é um “sine qua” da comunicação dialógica. É preciso que quem tem o que dizer saiba, que sem escutar o que quem escuta tem igualmente a dizer, termina por esgotar sua capacidade de dizer. Quem tem o que dizer deve assim, desafiar quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda.

O espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala.

Não há inteligência da realidade sem a possibilidade de ser comunicada. O professor autoritário que recusa escutar os alunos, impede a afirmação do educando como sujeito de conhecimento. Como arquiteto de sua própria prática cognoscitiva.

 

7. ENSINAR EXIGE RECONHECER QUE A EDUCAÇÃO É IDEOLÓGICA

Ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para opacizar a realidade, ao mesmo tempo que nos torna “míopes”. Sabemos que há algo no meio da penumbra, mas não o divisamos bem. Outra possibilidade que temos é a de docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na verdade é, e não a verdade distorcida.

Por exemplo, o discurso da globalização que fala da ética, esconde porém, que a sua ética é a do mercado e não a ética universal do ser humano, pela qual devemos lutar se optamos, na verdade, por um mundo de gente.

A teoria da transformação político-social do mundo, deve fazer parte de uma compreensão do homem enquanto ser fazedor da História, e por ela feito, ser da decisão, da ruptura, da opção. Seres éticos.

Os avanços científicos e tecnológicos devem ser colocados a serviço dos seres humanos. Para superar a crise em que nos achamos, impõe-se o caminho ético.

Como professor, devo estar advertido do poder do discurso ideológico. Ele nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir a curiosidade, de distorcer a percepção dos fatos, das coisas. No exercício crítico de minha resistência ao poder manhoso da ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando sabedoria indispensável à minha prática docente. Me predisponho a uma atitude sempre aberta aos demais, aos dados da realidade, por um lado; e por outro, a uma desconfiança metódica que me defende de tornar-me absolutamente certo de certezas.

 

8. ENSINAR EXIGE DISPONIBILIDADE PARA O DIÁLOGO Como professor devo testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao discutir um tema, analisar um fato. Aberto ao mundo e aos outros, estabeleço a relação dialógica em que se confirma a inconclusão no permanente movimento na História. Postura crítica diante dos meios de comunicação não pode faltar. Impossível a neutralidade nos processos de comunicação. Não podemos desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, discuti-la.

 

9. ENSINAR EXIGE QUERER BEM AOS EDUCANDOS Querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Essa abertura significa que a afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Seriedade docente e afetividade não são incompatíveis. Aberto ao querer bem significa minha disponibilidade à alegria de viver. Quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e minha docência, tanto mais alegre e esperançoso me sinto.

Veja também: A série de vídeos discute didaticamente cada um dos capítulos e subcapítulos de Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, de Paulo Freire. 

(http://paraosprofessores.blogspot.com.br/2013/09/resumo-do-livro-paulo-freire-pedagogia.html)

 

 

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire.

Introdução

Na introdução do livro ,Freire, esclarece o público alvo (docentes formados ou em formação), insistindo que formar um(a) aluno(a) é muito mais que treinar e depositar conhecimentos simplesmente e, ainda que, para formação, necessitamos de ética e coerência que precisam estar vivas e presentes em nossa prática educativa, pois esta faz parte de nossa responsabilidade como agentes pedagógicos. Ele fala da esperança e do otimismo necessários para mudanças e da necessidade de nunca se acomodar, pois "somos seres condicionados, mas não determinados". Paulo Freire apresenta três temas básicos para construir a Pedagogia da Autonomia, que leva à formação para vida, são eles: a) não há docência sem discência; b) ensinar não é transferir conhecimento e; c) ensinar é uma especificidade humana. O tema central da obra é “a formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativa progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos”.

1°. Não há docência sem discência- “dosdicência”

Freire aponta que existem diferentes tipos de educadores: críticos, progressistas e conservadores, mas, apesar destas diferenças, todos necessitam de saberes comuns tais como:

• conseguir dosar a relação teoria/prática; • criar possibilidades para o(a) aluno(a) produzir ou construir conhecimentos, ao invés de simplesmente transferir os mesmos; • reconhecer que ao ensinar, se está aprendendo; e não desenvolver um ensino de "depósito bancário", onde apenas se injetam conhecimentos (informações) nos alunos! Saber “despertar no aluno a curiosidade, a busca do conhecimento, a necessidade de aprender de forma crítica”.

Destaca a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa, pois sem ela a teoria pode ir virando apenas discurso; e a prática, ativismo e reprodução alienada. Quando diz que não há docência sem discência, quer dizer que: quem ensina ‘aprende o ensinar’, e quem aprende ‘ensina o aprender’, sendo este posicionamento muito importante para o autor.

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Desse modo, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno, as duas atividades se explicam e se complementam; os participantes são sujeitos e não objetos um do outro.

Aprendendo socialmente h e mulheres descobriram que é possível ensinar

Procura também mostrar que a teoria deve ser coerente com a prática do professor, que passa a ser um modelo e influenciador de seus educandos: não seria convincente falar para os alunos que o alcoolismo faz mal à saúde e tomar bebidas alcoólicas, deve-se ter “raiva” da bebida, pois a emoção é o que move as atitudes dos cidadãos. Várias vezes, o autor fala da “justa raiva” que tem um papel altamente formador na educação. Uma raiva que protesta contra injustiças, contra a deslealdade, contra a exploração e a violência. Podemos definir esta “justa raiva” como aquele desconforto que sentimos mediante os quadros descritos acima. 1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica.

O educador comprometido com sua proposta de educação deve afirmar a rigorosidade do método com o qual trabalha, tendo clareza em seus objetivos e com um discurso que não pode ser diferente da prática. A educação democrática não pode usar o método transferidor, não pode limitar o ensino à transferência de conteúdos verificada na definição de educação bancária. Uma das principais obrigações é o ensinar a pensar certo o que não quer dizer que o ensinado vai ser o que o professor tem como certo, como sua verdade, mas sim, dialogar sobre essas possíveis verdades. Tanto educador quanto educando devem ser sujeitos na construção do conhecimento. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Educador e educando devem negar a passividade, o “depósito” de conteúdos em um “recipiente vazio”. Educar é substantivamente formar.

Só quem pensa certo, mesmo que as vezes pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo. Uma das condições para isto é não estarmos demasiados certos de nossas certezas.

1.2 Ensinar exige pesquisa. De acordo com Paulo Freire, não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. O professor tem que ser pesquisador. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. É preciso pesquisar para se conhecer o que ainda não se conhece e comunicar ou anunciar novidades. Há o dever de respeitar os saberes do educando e os das classes populares. É preciso discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade, a violência, a convivência das pessoas, implicações políticas e ideológicas. O conhecimento da realidade é muito importante. Freire afirma que não há distância entre ingenuidade e criticidade; ao ser curioso, há crítica. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. O professor, assim como o aluno, é movido pela curiosidade. Para o autor, o pensar certo, do ponto de vista do professor, implica no respeito ao senso comum existente no educando, durante o processo de sua necessária superação. O respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando contribuirão para que ele possa sair da consciência ingênua e passe a ter uma consciência crítica. 1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. É preciso estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos. Respeitar e utilizar esses saberes. 1.4 Ensinar exige criatividade. A curiosidade é inerente ao processo de ensino-aprendizagem. Não há criatividade sem curiosidade. 1.5 Ensinar exige estética e ética. Se, se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é formar.

1.6 Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo. A prática educativa em si deve ser um testemunho rigoroso de decência e de pureza, já que nela há uma característica fundamentalmente humana: o caráter formador. Para isso, o professor deve se utilizar, como diz Freire, da corporeificação das palavras, como exemplo, e ainda destaca a importância de propiciar condições aos educandos, em suas relações uns com os outros ou com o professor, de treinar a experiência de ser uma pessoa social, que pensa, se comunica, tem sonhos, que tem raiva e que ama. Isto despe o educador e permite que se rompa a neutralidade do mesmo. Com esta postura o autor quer dizer que a educação é uma forma de intervenção no mundo, que não é neutra, nem indiferente.

Vc sabe com quem está falando?

1.7 Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação.

Pensar certo é fazer certo, é ter segurança na argumentação é saber discordar do seu oponente sem ser contra ele ou ela, sem qualquer tipo de discriminação. Ao educador, cabe desafiar o educando e produzir sua compreensão do que sendo comunicado. 1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. A prática docente crítica envolve o movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. O “pensar certo” tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática (práxis). É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.

Na prática de não fumar, opto, decido; nesta prática assumo risco e aí se concretiza materialmente!

1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural. Ao nos assumirmos não estamos excluindo os outros, significa assumir-se como ser histórico e social, pensante, transformador e criador. A questão da identidade cultura é fundamental na prática educativa e tem a ver diretamente com assumir-nos enquanto sujeitos. A construção de um saber junto ao educando depende da importância que o educador dá a parte social, à comunidade à qual ele trabalha para conseguir aproximar os contextos a realidade vivida, compondo assim um dialogo aberto com o aluno. Dado o exposto, Freire simplifica: “não há docência sem discência”.

ir além dele. Esta é a diferença entre o ser condicionado e o ser determinado 2 - Ensinar não é transferir conhecimentos. Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. 2.1 Ensinar exige consciência do inacabamento. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre homens e mulheres o inacabamento se tornou consciente. A História de qual fazemos parte é um tempo de possibilidades, não de determinismo. 2.2 Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado. Somos seres condicionados, mas conscientes do inacabamento, e, por isso, sabemos que podemos Dito em poucas palavras por Freire: “o que está condicionado, mas não determinado”. Nossa presença no mundo não é a de quem nele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História. Assim como as barreiras são difíceis para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sabemos também que os obstáculos não são eternos. Assim, homens e mulheres se tornam educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão. Passamos assim, a ser sujeitos e não apenas objeto da nossa história, pois não devemos ver situações como fatalidades e sim estímulo para mudá-las. 2.3 Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um, é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. Saber que devo respeito a autonomia e a identidade do educando, exige de mim uma prática que seja em tudo coerente com este saber. 2.4 Ensinar exige bom senso. Quanto mais praticamos de forma metódica a nossa capacidade de indagar, duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos podemos nos tornar e com isso o nosso bom senso pode ir se tornando mais crítico. O exercício do bom senso vai superando o que há nele de instintivo por meio da avaliação que fazemos dos fatos e dos acontecimentos em que nos envolvemos. O educador precisa do bom senso em seu trabalho. 2.5 Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores.

A luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que faz parte dela. Uma das formas de luta contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação, de um lado, é a nossa recusa em transformar nossa atividade docente em puro bico, e de outro, a nossa rejeição a entendê-la e a exercê-la como prática afetiva de “tias e de tios”. 2.6 Ensinar exige apreensão da realidade. A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade para nela intervir, recriando-a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto do nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo das plantas. Aprender, para nós, é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Portanto é importante que a realidade seja sempre um dado presente no processo ensino-aprendizagem. 2.7 Ensinar exige alegria e esperança. Há uma estreita relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança faz parte da natureza humana. A esperança de que (juntos) professor e alunos podem aprender, ensinar, produzir, e, juntos igualmente resistir aos obstáculos é a nossa alegria. O ensinar busca a conscientização das pessoas, pois o ser humano que tenha esperança é capaz de mudar realidades. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica, sem ela não haveria História, mas puro determinismo. 2.8 Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Aqui, Freire, fala da necessidade de não aceitar o determinismo como um modo de explicação das desigualdades no mundo, mas como sujeitos interventores. Não visa a adaptação e sim a intervenção (mudança) na realidade. Como educadores devemos conhecer nossos alunos, não podemos desconsiderar os saberes dos grupos populares e a realidade histórico-político- social vivida por eles, pois todos estão inseridos num ciclo de aprendizagem. A essa atitude, corresponde a expulsão do opressor de dentro do oprimido. Mudar é difícil mas é possível, e a partir disto vamos programar nossa ação político-pedagógica. EX: o que nos traz o conhecimento sobre a realidade dos terremotos. 2.9 Ensinar exige curiosidade. O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjeturar, de comparar. O fundamental é que professores e alunos saibam que a postura deles (professor e alunos), é dialógica, ou seja, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente1 curiosos. Mas, não podemos esquecer, que a curiosidade, assim como a liberdade deve estar sujeita a limites eticamente assumidos por todos. Minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro e expô-la aos demais.

3. Ensinar é uma especificidade humana Neste capítulo, Freire mostra a necessidade de segurança, do conhecimento e da generosidade do educador para que tenha autoridade, competência e liberdade na condução de suas aulas. Homens e mulheres são seres programados, mas, programados para aprender. 3.1 Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. A segurança da autoridade docente implica numa outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar a altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe; a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor.

Epistemologia:conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, ou sociais, sejam lógicos, matemáticos, ou lingüísticos), sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos, e avaliar os seus resultados e aplicações. Dic. Aurélio.

O caráter formador do espaço pedagógico é autenticado pelo clima de respeito existente. Este clima nasce de relações sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente. O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do professor. É impossível separar o ensino dos conteúdos da formação ética dos educandos, a teoria da prática, a autoridade da liberdade, a ignorância do saber, o respeito ao professor do respeito aos alunos, o ensinar do aprender. Como professor, não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha. Defende a necessidade de se exercer a autoridade com a segurança fundada na competência profissional, junto à generosidade. 3.2 Ensinar exige comprometimento Freire ressalta aqui a importância de aproximar o discurso do desempenho, o discurso teórico à prática pois afinal o professor é o exemplo para os alunos. O docente pode desconhecer algumas coisas mas tem que saber muito sobre seu trabalho, deve estar sempre preparado. Ensinar exige comprometimento, sendo necessário que se aproxime cada vez mais os discursos das ações. Sendo professor, é necessário conhecer o que ocorre no espaço escolar e estar ciente de que a sua presença nesse espaço não passa desapercebida pelos alunos.

3.3 Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no Mundo. A educação jamais é neutra, ela pode implicar tanto o esforço da reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Para Freire, a Pedagogia da Autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão, da responsabilidade, ou seja, em experiência respeitosas da liberdade. Para isso, ao ensinar, o professor deve ter liberdade e autoridade, em que a liberdade deve ser vivida em coerência com a autoridade. O professor como ser político, emotivo, pensante não pode ser imparcial em suas atitudes, deve sempre mostrar o que pensa, apontando diferentes caminhos, evitando conclusões, para que o aluno procure a qual acredita, com suas explicações, se responsabilizando pelas conseqüências e construindo assim sua autonomia. Para que isso ocorra deve haver um balanço entre autoridade e liberdade. Deste modo, destaca-se que somente quem sabe escutar é que aprende a falar com os alunos. Finaliza dizendo que a atividade docente é uma atividade alegre por natureza, mas com uma formação científica séria e com a clareza política dos educadores. Foi somente a percepção de que homens e mulheres são seres “programados, mas para aprender” e conseqüentemente para ensinar, conhecer e intervir, que faz o autor entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos, não somente transmitindo conteúdos, mas redescobrindo, construindo e ressignificando, ou seja, dando um novo significado a estes conhecimentos, além de transcenderem e participarem de suas realidades históricas, pessoais, sociais e existenciais. Mesmo com todas as dificuldades para se educar, isto é, condições de trabalho,salários baixos, descasos, formas de avaliação, ainda há muitos professores exercendo sua função de maneira eficaz. Com certeza, isso se deve ao que o autor chama de vocação, que significa ter afetividade, gostar do que faz, ter competência para uma determinada função, com isso muita coisa pode ser mudada através da prática educativa.

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAG2wAL/resumo-pedagogia-autonomia-paulo-freire

 

Pesquisas da WEB