O livrão de Yamato

 

O LIVRÃO DE YAMATO

Miguel Carqueija

 

A New Pop tem feito edições espaciais gigantes de mangás. A “Patrulha Estelar” é antiga e se baseia numa série de tv. Existe a possibilidade da série por sua vez se inspirar em “Star trek”, de Gene Roddenberry.

Todavia, apesar de todo o prestígio, a saga é tosca e toscamente desenhada, fruto sem dúvida de um tempo em que essa arte não havia se aprimorado como depois vimos.

Leiji Matsumoto acaba de falecer (25/1/1938 a 13/2/2023). Apesar de todo o seu prestígio a obra “Patrulha Estelar” parece ter sido feita para acompanhar o animê e deixa de explicar muita coisa. Começa em torno do Almirante Okida, no ano 2199, encarregado de defender a Terra, tornada já quase inabitável pelas bombas do Império Gamilas, que com sua tecnologia superior quer conquistar o nosso planeta. Só que Gamilas fica em outra galáxia, o que já parece um exagero.

O fato é que o Almirante Juzo Okita pega o couraçado espacial Yamato, antigo porém reformado, e com sua tripulação parte para o planeta Iskandar, na Grande Nuvem de Magalhães (!) para buscar o dispositivo “cosmo cleaner”, que elimina radiações. A misteriosa Starsha, de Iskandar, enviara por sua irmã o recado aos terrestres. Assim Okita, com Kodai, Yuki, Shima, Tokugawa e demais auxiliares (inclusive um médico bêbado, Sakezo Sado, e um robô aloprado, Gênio, talvez inspirado no de “Perdidos no espaço”), parte para a outra galáxia ainda para pegar o aparelho que salvará a Terra, que já não tem nem oceanos, pois secaram com os ataques de Gamila! O pior é que a batalha final não é mostrada, na continuação a vitória da Terra é apenas recordada e Okita, já morto, é venerado em sua imensa estátua.

Detalhe curioso é a rápida aparição, sob disfarce, do Capitão Harlock, herói de outra série.

 

Resenha do volume gigante “Patrulha Estelar Yamato” (650 páginas), “Edição Histírica”. Editora New Pop, São Paulo-SP, 2020. Prefácio de Levi Trindade. Tradução: Thiago Nojiri. Título original japonês: “Uchu senkan Yamato” com os volumes 1, 2 e 3, respectivamente de 1975, 1979 e 1980. Akita Publishing Co., Ltda.

 

2199 D.C.... Enfim, o encouraçado espacial Yamato revela toda sua extensão e imponência, deixando o solo terráqeuo para trás e partindo rumo ao vasto espaço sideral, levando consigo toda a esperança da humanidade!

(Narração)

 

“A tecnologia humana, por mais avançada que fosse, reduzia-se a meros pedaços de ferro e concreto na falta de energia. As construções enormes que se erguiam para o céu, sem nada para iluminá-las, mais pareciam lápides da própria humanidade.”

(Narração)

 

“Ele vai sempre estar conosco, certo?”

(Dr. Sakezo Sado)

 

“O nosso Yamato... vai ser desmontado? Não... não pode ser!”

(Susumu Kodai)

 

Outro detalhe estranho é que as naves espaciais mais parecem navios. E o líder gamiliano, Dessler, é chamado “Führer” (?)

O álbum divide-se em três partes: a viagem para Iskandar, o drama da esposa e da filha de Dessler (no fim do volume) e o Cometa Império.

Existe o General Domel, braço-direito de Dessler. Ele chega a se comunicar — não sei em qual idioma — com Juzo Okita, que propõe a paz, mas a proposta é recusada, embora ambos se respeitem e admirem. Domel alega que Gamiles precisa ocupar a Terra, para que a raça gamiliana possa sobreviver.

É difícil aceitar a premissa, tendo em vista distância tão imensa. Com certeza os gamilianos poderiam se expandir pela Nuvem de Magalhães e colonizar e adaptar planetas por lá mesmo. Destruir uma raça de outra galáxia soa como uma loucura, mas a história toda é bem forçada.

Páginas e páginas são desperdiçadas com figuras de espaçonaves, Yamato e outras, na vastidão do espaço. Yamato, por sinal, é o nome de um encouraçado japonês do tempo da II Guerra Mundial.

O desenho deixa muito a desejar. Kodai e Shima apresentam traços humanos normais, embora toscos, mas o Dr. Sado, por exemplo, parece um macaco de tão deformado.

Eu já assisti “O Cometa Império”, animação de longa-metragem, há muitos anos, e o mangá dá vontade de assistir o seriado, já que o mesmo é sabidamente mais completo.

 

Rio de Janeiro, 21 e 23 de fevereiro de 2023.