O poema "Acrobata da Dor" de Cruz e Sousa apresenta uma imagem impactante de um personagem que encena sua própria dor como um acrobata em meio a uma plateia insensível.

 

O eu lírico descreve o acrobata, que ri de forma grotesca e absurda, como um palhaço cujo riso carrega consigo tanto ironia quanto uma dor profunda.Na primeira estrofe, o poema destaca a gargalhada do acrobata, comparando-a a uma tempestade e ressaltando a tensão presente em seu riso.

 

A imagem do palhaço desengonçado e nervoso transmite uma sensação de desespero e agonia.A segunda estrofe caracteriza o riso do acrobata como atroz e sanguinolento, ressaltando sua ironia e sua dor intensa. A referência a guizos e à agitação dos movimentos do palhaço cria uma atmosfera de caos e desespero.

 

Na terceira estrofe, o eu lírico utiliza termos relacionados ao circo para descrever o salto do acrobata, ressaltando o caráter trágico desse momento. O poema destaca a agonia lenta do personagem, enfatizando a intens

dade do sofrimento que ele encena.

 

A quarta estrofe faz uma alusão à continuidade da apresentação, onde pedem um bis, sugerindo que a plateia insensível deseja mais do espetáculo mesmo diante do evidente sofrimento do acrobata. A imagem das macabras piruetas de aço intensifica a ideia de um desempenho trágico e doloroso.A última estrofe conclui o poema com uma instrução para que o acrobata continue, mesmo que caia fremente e afogado em seu próprio sangue.

 

O coração é comparado a um palhaço tristíssimo, evidenciando a dualidade entre o riso externo e a tristeza interna.

 

"Acrobata da Dor" retrata de maneira intensa e simbólica a representação da dor, ironicamente, sob os holofotes do entretenimento. O poema questiona a natureza insensível da plateia diante do sofrimento real e visceral do artista.

 

Gargalha, ri, num riso de tormenta,

como um palhaço, que desengonçado,

nervoso, ri, num riso absurdo, inflado

de uma ironia e de uma dor violenta.

 

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,

agita os guizos, e convulsionado

Salta, gavroche, salta clown, varado

pelo estertor dessa agonia lenta...

 

Pedem-te bis e um bis não se despreza!

Vamos! reteza os músculos, reteza

nessas macabras piruetas d'aço...

 

E embora caias sobre o chão, fremente,

afogado em teu sangue estuoso e quente,

ri! Coração, tristíssimo palhaço.