A Farsa Programa: Ratinho

Vida nem tão real:

Boa parte do circo de Ratinho é uma farsa montada pela produção de seu programa.

Ratinho e a produtora Rosemeire Regina Ramalho será que ele é tão

ingênuo assim?.

Dono de um bigode de fazer inveja aos de Mickey Mouse e Topo Gigio, o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, viu seu nariz crescer mais do que os focinhos dos dois roedores somados. Na semana passada, confirmou-se algo de que muitos desconfiavam: seu programa é, em boa parte, uma farsa. Ele foi apanhado na mentira pelo jornal Folha de S. Paulo, que publicou no domingo 18 uma reportagem na qual o pedreiro Sebastião José de Oliveira dizia ter recebido 100 reais para participar de uma fraude exibida na televisão. Ele fingiu ser um marido traído que gravou em vídeo cenas da mulher na cama com o amante. Motivadas pela denúncia de Sebastião, várias outras pessoas apareceram contando histórias parecidas. Pelos mesmos 100 reais, Roseli Soares, de 45 anos, e Angela Maria, de 37, amigas há vinte anos, digladiaram-se no ar como vizinhas que se odiavam por causa de um problema de esgoto. Detalhe: elas nem moram no mesmo bairro. A modelo Glória Rodrigues, ex-miss Mato Grosso do Sul, recebeu 500 reais para desempenhar o papel de uma integrante da platéia que ameaçava tirar a roupa. Se consumasse essa intenção, ganharia mais 500 reais. A reportagem de VEJA ouviu, na semana passada, mais sete casos além desses. A maioria envolvendo pessoas humildes, para quem o valor de 100 reais, quase um salário mínimo, faz diferença na hora de pagar as contas no final do mês.

Acuado, Ratinho invocou uma mirabolante teoria conspiratória: "A imprensa quer acabar comigo. Se coloco doença, sou sensacionalista. Se coloco mulher bonita, sou baixaria". Depois, tentou posar de marido traído. "Fui enganado, não sabia que era uma farsa", disse, para logo após desfiar um argumento que mostra a porcentagem de sua cara-de-pau: "Dos 1.500 casos que já apresentei em meu programa, uns 150 devem ter sido falsos, o que significa que ainda tenho 90% de credibilidade".

É difícil acreditar que o apresentador não soubesse das falcatruas. O pedreiro Sebastião foi o grande chamariz de seu programa de estréia no SBT. Ele e vários outros moradores do município de Mauá, a 30 quilômetros de São Paulo, foram arregimentados para participar de farsas do programa pela produtora Rosemeire Regina Ramalho. Ratinho poderia alegar que a produtora agiu de má-fé, mas tanto o pedreiro Sebastião quanto a modelo Glória, a moça que iria tirar a roupa, dizem ter sido orientados nos bastidores pelos dois diretores do programa, Américo Ribeiro e Fábio Furiatti. Ou seja: se Ratinho foi realmente enganado por todo mundo, ele é mais ingênuo do que as misses de antigamente que tinham O Pequeno Príncipe como livro de cabeceira.

Circo — Apesar das denúncias, a audiência do programa de Ratinho se mantém na faixa dos 20 pontos. Isso corrobora a velha teoria de que o público que assiste a programas populares não se preocupa com a veracidade do que é exibido — sabe que a coisa é um grande circo e não se importa com isso. Se assim não fosse, shows de horrores como o de Ratinho já teriam acabado. Nos Estados Unidos, onde prolifera esse tipo de programa, o asqueroso apresentador Jerry Springer foi vítima de denúncias semelhantes — e nem assim perdeu sua audiência. No Brasil, o programa de Márcia Goldschmidt não sofreu nenhum arranhão mesmo quando se descobriu que os participantes de seu "show" eram instruídos nos bastidores a brigar no ar. Gugu também não perdeu prestígio quando VEJA provou que seu táxi era uma armação. Programa popular é mesmo sinônimo de fraude, e ninguém parece se importar muito com isso. O problema de Ratinho é que ele transfere a pecha de mentiroso para os produtos anunciados nos comerciais. Segundo se comentava no mercado publicitário, ele pode perder muitos deles por causa das denúncias. Sem anunciantes, quem irá bancar o salário de 800.000 reais mensais que fazem dele a falcatrua mais bem paga da televisão brasileira?.

[Fonte: http://veja.abril.com.br/281098/p_147.html]

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Desempregados viram atores de falsos dramas do ‘Ratinho’:

Intrigas, palavrões e lutas corporais que diariamente alavancam a audiência do "Programa do Ratinho", no SBT, são, muitas vezes, farsas.

A Folha descobriu em Mauá, na Grande São Paulo, um esquema que fabrica histórias e transforma desempregados em "atores" do programa. O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, diz desconhecer o esquema (leia abaixo).

Em troca de cachês de R$ 80 a R$ 150 por dia e, às vezes sob pressão, essas pessoas se sujeitam a interpretar, ao vivo e no horário nobre, papéis de marido traído, de pai-de-santo e de travesti, entre inúmeros outros. Chegam até a brigar, mas na vida real seus dramas são outros _e não menos delicados.

É o caso, por exemplo, do pedreiro desempregado Sebastião José de Oliveira, 33. Anunciado como atração da estréia do "Programa do Ratinho" no SBT, em 8 de setembro, Oliveira fez "o papel de corno" e "exibiu" uma fita em que "flagrava" sua mulher na cama com outro homem.

Só que Oliveira nunca manipulou uma câmera de vídeo, e a mulher que aparecia na fita não era a sua. "A reputação da minha mulher, que é uma serva de Deus, foi lá embaixo", diz, arrependido. "Eu só topei fazer o trabalho porque meus filhos estavam sem leite. Há quatro anos eu só faço bicos."

O pedreiro diz ter sido levado ao SBT pela produtora free-lancer Rosemeire Regina Ramalho _conhecida apenas por Regina_, colaboradora diária do "Programa do Ratinho".

A Folha apurou que Regina recruta desempregados em Mauá, lota uma van Towner e os leva para o SBT, em Osasco, a mais de 60 quilômetros do ponto de origem.

Em pelo menos dois casos, Regina, em parceria com seu marido, o fotógrafo Rogério (não revelou sobrenome), filmou, usando uma câmera doméstica, falsos flagrantes de adultério e de prostituição _as imagens do "flagrante" do pedreiro Oliveira e o "trottoir" de um falso travesti.

Muitas vezes, como no caso de Oliveira, as pessoas que participam da farsa só ficam sabendo do "papel" que irão desempenhar a caminho do SBT.

Oliveira, ao tomar conhecimento de seu personagem, pediu um "papel mais leve". "Se você não fizer o papel de chifrudo, não vai ganhar nada", teria lhe dito Regina, já no estúdio 6 do SBT, onde o programa é gravado.

A produtora nega ter conhecimento de que as histórias são falsas.

A ponte: A "ponte" de Regina na emissora é Américo Ribeiro, diretor do núcleo de ação do "Programa do Ratinho".

Antes de encenarem, os protagonistas desse mundo-cão de faz-de-conta fariam um pequeno ensaio, na presença de Ribeiro. Pessoas ouvidas pela Folha dizem que, nesse ensaio, são instruídas a trocarem agressões físicas e verbais. Alguns preparam frases de efeito. Tudo pronto, assinam um termo de cessão de imagem.

"O Américo (Ribeiro) falou para a gente fingir direitinho", afirma a dona-de-casa C.P.L., 22, que interpretou o "papel" de uma cunhada que denunciava à irmã que o marido dela era travesti à noite.

Segundo C.P.L., um primeiro candidato a falso travesti teria sido reprovado pela produção.

No ar, é comum também os "atores" usarem nomes fictícios. O balconista Josmar Ramos, 24, que acabou fazendo o papel de travesti, virou Miguel.

Leia abaixo a defesa das pessoas envolvidas e, nas duas páginas seguintes, cinco histórias de farsa na televisão.

‘Todos pensam que eu sou gay’

Ratinho admite farsas e teme pelo fim de programa no SBT:

A revelação feita pela Folha no último domingo _de que o "Programa do Ratinho" exibiu histórias fictícias como se fossem verdadeiras, utilizando desempregados como atores_ pode levar a atração do SBT a sair do ar.

É o que teme o apresentador Carlos Massa, o Ratinho. "Eu vou sair do ar, o Silvio Santos (dono do SBT) já está me ameaçando! O cara (Santos) não vai agüentar", disse ontem à Folha, já sabendo que o "Jornal Nacional", da Globo, também iria apresentar a notícia sobre as farsas.

Na reportagem de domingo, a Folha mostrava a existência de um esquema, em Mauá, que fabricava "casos" para o "Programa do Ratinho". Uma produtora free-lancer transformava pessoas comuns em atores do programa.

Ratinho admite que as farsas reveladas pela Folha são inquestionáveis. "O jornal está certo", diz. Mas ameaça: "Eu vou sair do ar, só que vai sair muita gente comigo". Leia a seguir os principais trechos de entrevista concedida pelo apresentador:

Folha - Tudo bom, Ratinho?

Ratinho - Tudo bom, nada. Graças a vocês, a Globo está crescendo. Hoje (ontem) eles vão me dar um pau no "Jornal Nacional". Tenho que agüentar.

Folha - Mas a reportagem da Folha foi correta, concorda?

Ratinho - A manchete ("A Farsa do Ratinho") que vocês fizeram não. Se a Folha fosse um jornal de país de primeiro mundo, eu estava f... Que farsa? Nesses casos eu não tenho culpa nenhuma. Eu apresentei 1.500 casos e tem meia dúzia de bobagens. A Folha, tudo bem, a gente contornou, mas agora vem a Globo!

Só que é o seguinte: eu já peguei a Escola Base e já mandei levantar o caso das bicicletas do Alceni Guerra. Domingo, a Globo meteu uma matéria falsa, dos alemães pelados no Pará. É mentira, vou meter no ar também. Não vou ficar quieto! Eu vou sair do ar, o Silvio Santos já está me ameaçando!

Folha - Sério?

Ratinho - Eu vou sair do ar, só que vai sair muita gente comigo.

Folha - Silvio Santos já te ameaçou?

Ratinho - Não, mas vai. O cara não vai agüentar.

Folha - O Silvio já falou contigo?

Ratinho - Não, mas eu estou imaginando, p... O cara não vai agüentar a pressão.

Folha - O Ministério Público prepara uma ação...

Ratinho - Isso não vai dar em nada, em b... nenhuma. Só vai dar barulho, vai tirar minha audiência de 20 pontos em cima da novela (das oito) da Globo. E a Globo vai continuar mandando no país. É isso que todo mundo quer, na verdade, que a Folha e a Globo continuem mandando no país.

Folha - Mas, voltando um pouco, você realmente teme sair do ar?

Ratinho - Espera aí? Você acha que eu vou ficar a vida inteira levando paulada? Eu não. Desde que vocês colocaram aquela p... no ar, eu não durmo mais (se refere à reportagem publicada pela Folha no domingo). É jornal do Brasil inteiro, é rádio. Todo mundo falando que as matérias que colocava no ar eram falsificadas. Como? Isso não existe no meu programa!

Folha - Você anunciou em seu programa na semana passada que iria fazer uma investigação...

Ratinho - Estou mandando fazer, mas, p..., leva um mês para fazer essa investigação. Levo um mês para descobrir tudo.

Folha - No caso das quatro histórias de farsas que publicamos, você já chegou a alguma conclusão?

Ratinho - Não, porque eu tive de colocar detetive para checar isso, para ver se alguém aqui dentro está envolvido, se tem alguém aqui dentro levando dinheiro. Tenho de fazer tudo correto, porque terei de mandar gente embora por justa causa. Não é uma matéria de jornal. Tem de ter provas materiais.

Folha - Você cortou os produtores free-lancers?

Ratinho - Aqui não tem mais produtor independente, todas as matérias agora passam por mim.

Primeiro o cara faz a denúncia, e eu mando investigar se a história é verdadeira. Se não for, não vai ao ar. Tanto que foram ao ar umas quatro brigas depois que você denunciou e todas elas eram verdadeiras. Aqui não tem mais Mandrake (personagem de quadrinhos e que, na gíria jornalística, designa reportagens falsas). Se teve até aquele momento que você falou comigo, agora não tem mais.

Folha - Você ainda tem dúvidas de que as histórias que relatamos eram mesmo montagens?

Ratinho - Não tenho. O jornal está certo. Não tenho dúvidas. Mas o "Jornal Nacional" entrou no caso não pelas histórias, mas porque tiro 20 pontos da novela da Globo.

Pedreiros envolvem programa ‘Leão Livre’, da Record, em farsas:

Em depoimentos ontem ao Ministério Público Estadual, os pedreiros desempregados Sebastião José de Oliveira, 33, e Geraldo Barbosa de Sousa, 34, envolveram o programa "Leão Livre", da Record, no esquema que fabricava histórias para o "Programa do Ratinho", do SBT.

Oliveira e Sousa confirmaram ao Ministério Público as informações publicadas pela Folha no último domingo. A reportagem revelava esquema em que desempregados de Mauá, na Grande São Paulo, atuavam como atores no "Programa do Ratinho".

Os pedreiros disseram ao Ministério Público que a produtora free-lancer Rosemeire Regina Ramalho também levava pessoas para o "Leão Livre". Os dois afirmaram que, nos mesmos dias em que estiveram no SBT, a produtora também levou pessoas para "fazerem papéis" na Record.

À Folha, Rosemeire disse que já trabalhou para o "Leão Livre". "Não trabalho mais." Kátia Gardin, supervisora do "Leão Livre", negou que Rosemeire tenha trabalhado para o programa. "Os casos do ‘Leão’ são verdadeiros."

O Ministério Público deve encaminhar três ações contra Carlos Massa, o Ratinho: uma pedindo indenização de R$ 35 milhões para um fundo comum, outra pedindo indenizações individuais para os falsos atores e uma terceira por crime de racismo _Ratinho chamou o pedreiro Oliveira de "neguinho vagabundo".

O pedreiro Sousa também disse em seu depoimento que teria recebido uma oferta de R$ 30 mil para não dar entrevistas. Ele disse ter recebido a oferta anteontem de uma pessoa chamada Beth, que, segundo ele, trabalharia para a produtora free-lancer Rosemeire Regina Ramalho. A mulher teria dito que pagaria a mesma quantia a Oliveira.

O supervisor do "Programa do Ratinho", Fábio Furiatti, não quis comentar a acusação.

Perna quebrada: A dona-de-casa Helena Silveira Lima Lopes, 44, fraturou a perna direita durante uma briga verdadeira com seu ex-genro, anteontem, no "Programa do Ratinho", e deve ficar pelo menos quatro meses sem andar. O SBT pagou o tratamento.

[Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/ jd051198a1.htm]