Homem x Bactéria: uma Luta sem Fim

Homem x Bactéria: uma Luta sem Fim

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Professor Titular de Biologia/Fatea/Lorena/SP

A relação Homem x Bactéria historicamente nunca foi das melhores para nós humanos, mas ultimamente até que estávamos nos saindo bem, por conta de passarmos a entender um pouco mais das Bactérias. No passado, a imagem que a Humanidade tinha das Bactérias era de que esses microorganismos, que nós não podíamos ver, só nos faziam mal, pois produziam doenças, as quais eram praticamente incuráveis. Muitos dos grandes flagelos da Humanidade foram produzidos por Bactérias. Só a espécie Mycobacterium tuberculosis (“Bacilo de Koch”), que causa a Tuberculose, matou tanto quanto a 2ª Guerra Mundial ou mais, ao longo dos tempos.

A imagem ruim das Bactérias começou a mudar quando, acidentalmente Alexander Fleming por volta de 1928/9, pode observar que o extrato de um determinado Fungo (Penincillium sp.) impedia o crescimento das colônias de Bactérias. A partir desse momento foi desenvolvido o Primeiro Antibiótico, a Penicilina. Daí em diante, as Bactérias passaram a ser, progressivamente, menos temidas pela humanidade, pois já podiam ser combatidas, suas mazelas tratadas e assim novos antibióticos também começaram a ser produzidos.

Entretanto, a possibilidade do homem conhecer melhor e ver as Bactérias só ocorreu alguns anos depois de Fleming, com o advento da Microscopia Eletrônica. No final da década de 1950, a maioria das Bactérias Patogênicas conhecidas estava sob controle, pois havia praticamente um antibiótico para cada uma delas. Nesse período a relação Homem x Bactéria, tornou-se mais próxima e o entendimento dos mecanismos de alimentação desses organismos fez com que a humanidade vislumbrasse um novo mundo a partir da colaboração que as Bactérias poderiam prestar.

De repente, as Bactérias passaram de inimigas mortais à amigas inseparáveis, pois a humanidade descobriu a grande importância e a dependência desses microrganismos para a manutenção da vida no planeta. E mais, a humanidade descobriu também, a possibilidade de utilizar as Bactérias em benefício do próprio Homem.

Do ponto de vista Biológico e Naturalístico, as Bactérias são os primeiros organismos vivos, dos quais evoluíram todos os demais. Além disso, as Bactérias são os principais responsáveis pelo processo de decomposição da matéria orgânica no planeta. E ainda, se considerarmos as Algas Cianofíceas (Cianobactérias) genericamente como sendo um tipo de Bactéria, temos que lembrar que esses microrganismos foram também os principais responsáveis pela produção de oxigênio na atmosfera terrestre. Cabe ressaltar, que a vida no planeta hoje e quase totalmente depende do oxigênio e se não fosse as Cianobactérias esse gás nem existiria na atmosfera do planeta. Se não bastasse isso, as Bactérias e as Cianofíceas são os únicos organismos capazes de fixar o Nitrogênio Atmosférico diretamente. É bom lembrar que o Nitrogênio é a matéria prima das Proteínas e que sem proteínas não haveria vida na Terra. Pelo menos, a vida como entendemos.

Além de toda a importância planetária, nós começamos a entender um pouco mais de alguns processos químicos e passamos a utilizar as Bactérias na produção de álcool, de alimentos de remédios e mais modernamente na Engenharia Genética. A palavra da moda hoje se chama Biotecnologia, mas sem Bactérias não existe Biotecnologia. Muitas coisas passaram a ser desenvolvidas a partir das Bactérias.

As coisas pareciam estar indo perfeitamente na nossa relação com as Bactérias, até que o homem começou a abusar do uso de Antibióticos e esqueceu-se que as Bactérias são microrganismos e, como tal, extremamente mutáveis e adaptáveis. Assim, as novas linhagens de Bactérias, resistentes aos antibióticos conhecidos, foram gradativamente selecionadas ao longo do tempo. Dessa maneira, muitos antibióticos simplesmente não fazem mais efeito sobre essas linhagens resistentes. Por conta disso, doenças totalmente curáveis até bem pouco tempo atrás, passaram a não mais terem cura garantida e algumas moléstias que já não matavam, voltaram a poder matar os humanos.

Hoje, o grande medo da humanidade é a chamada “Infecção Hospitalar”, um conjunto de moléstias pouco conhecidas e de difícil tratamento causadas por Bactérias, denominadas de “superbactérias”. As Bactérias mais resistentes estão exatamente dentro dos hospitais e têm causado sérios problemas, pois suas infecções têm causado mortes a um número cada vez mais significativo de pessoas. Nossa briga contra as Bactérias Patogênicas continua. Elas venceram as primeiras rodadas, nós vencemos em certo momento, mas ultimamente elas voltaram a levar vantagem e parece que estão gradativa e efetivamente ganhando briga.

Ainda é cedo para assumirmos uma derrota, mas corremos sério risco de que isso venha a acontecer. Nossa possibilidade de desenvolver novos antibióticos tem sido menor do que a velocidade das Bactérias sofrerem mutações, adaptando-se e resistindo as ações dos antibióticos que produzimos. Entretanto, sempre será possível que nossa espécie desenvolva novas tecnologias e novas drogas que poderão nos colocar em vantagem outra vez. Vamos aguardar e torcer para que os acontecimentos futuros sejam favoráveis para nós. Mas, vamos, principalmente, nos educar em relação ao uso dos antibióticos, para evitar problemas maiores no futuro.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (55) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Escritor e Ambientalista;

Membro Fundador da Academia Caçapavense de Letras – Cadeira 25;

Ex-Vereador e Ex-Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.

Esse artigo foi, no ano de 2006, originalmente publicado nos sites www.vejosaojose.com.br e www.aproesp.com.br, sendo especialmente modificado e atualizado para essa nova publicação.