Sobre táquions

Meses atrás, um dos maiores laboratórios do mundo anunciou ter emitido neutrinos (minúsculas partículas) que teriam se deslocado com velocidade superior à da luz.

A relatividade proíbe que qualquer corpo seja acelerado até ultrapassar a velocidade da luz, cala-se, no entanto, acerca da possibilidade de que partículas nasçam já com velocidade superior à da luz.

Tais partículas, denominadas táquions, teriam massa em repouso imaginária, o que parece espantoso à primeira vista, mas natural se nos lembramos que um táquion nunca atinge o repouso.

De acordo com a relatividade, um táquion pode se mover em direção ao passado. Tal fato acarreta o seguinte paradoxo:

Imagine um circuito simples, equivalente a dois espelhos paralelos onde um sinal é emitido de A até B, e de lá reemitido de volta a A, onde refaz o ciclo indefinidas vezes. O resultado será a reemisão consecutiva de um mesmo sinal.

Suponha agora um circuito análogo a esse, construído com emissores taquiônicos. Nesse caso, a relatividade permite que o sinal viaje de A até B, e retorne até A, chegando em um instante anterior ao da emissão.

Agora imaginemos que um experimentador rabugento, ao receber de volta o sinal taquiônico, se recuse a cooperar e desista de emitir o sinal que acabou de receber! Nesse caso, a pergunta: quem emitiu o sinal recebido?, parece ficar sem resposta. O sinal fantasma parecerá não ter uma causa. Torna-se então mais razoável supor que tal sinal não possa ser transmitido, eliminando o paradoxo pela raiz. Essa consideração demonstraria a impossibilidade de transmissão de sinais para o passado, e, portanto, a impossibilidade de táquions.

Pode-se tentar eludir tal possibilidade tentando impor ao mundo uma causalidade total. Podemos tentar sustentar a impossibilidade de que o experimentador, de algum modo, seja impossibilitado de agir da maneira rabugenta aventada. É possível, no entanto, a construção de um aparato automático que se desarme ao receber o sinal em um tempo anterior ao da emissão do mesmo. Difícil sustentar tal impossibilidade.

Em todos os casos paira a pergunta: quem teria emitido o sinal recebido?

A admissão da hipótese dos muitos mundos, de Hugh Everett permite uma resposta simples à pergunta.

A solução do paradoxo consiste no seguinte:

Muitos mundos coexistem paralelamente em um mesmo conjunto de estados. Em alguns destes mundos, nenhum sinal taquiônico é recebido acionando assim o circuito emissor. O sinal taquiônico emitido chega apenas em alguns mundos, nos quais ele impede a emissão futura de sinais. Os aparatos situados em mundos onde não houve a recepção do sinal se encarregam da alimentação do sistema.

A resposta para a pergunta aventada anteriormente, portanto, é a seguinte:

Quem emitiu o sinal recebido foi um emissor situado em um mundo paralelo.

A confirmação da existência de táquions, portanto, não só confirmaria a hipótese de Everett, mas permitiria uma certa comunicação entre os universos paralelos, dispondo-os lado a lado, e fazendo-os coresponder assim, simplesmente, a uma nova dimensão.

PS: outra formulação:

Há muitos mundos exatamente no mesmo estado em T0.

Uns deles recebem o sinal taquiônico.

Esses não reemitem o sinal.

Outros mundos não recebem o sinal, e, portanto o emitem.

O sinal taquiônico chega em alguns dos passados com a configuração estipulada. A “ausência de sinal” chega em outros.

Alguns mundos recebem o sinal, outros não, os opostos os emitem.

O problema consiste apenas em saber em que mundo se está.

Relembrando o clássico do cinema “Vingador do futuro”, no qual um robô retorna ao passado para aniquilar o líder da resistência, sabemos como foi o passado, e mesmo que ele possa ter sido alterado em alguns mundos, no nosso o passado permanece sempre intacto, nossas lembranças correspondem, de fato, ao que se passou.