ENTREVISTA COMO CHEFE DA EMBRAPA FLORESTAS

Entrevista com repórter da Revista Referência ao assumir a Chefia Geral da Embrapa Florestas

1 - Nome completo, onde nasceu e data de nascimento?

Moacir José Sales Medrado, nascido na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, em 11 de fevereiro de 1950.

2 - Qual seu grau de instrução/formação (Universitária)?

- Engenheiro-agrônomo, formado pela Escola de Agronomia da Universidade Federal do Ceará;

- Mestre e Doutor em Agricultura na área de Sistemas de Produção na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiróz" - ESALQ da Universidade de São Paulo - USP.

- Especialista em Planejamento Agrícola pela Secretária de Planejamento da Presidência da República - SEPLAN em convênio com a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM;

- Com formação em Manejo de Agroecossistemas pelo Centro de Desenvolvimento de Águas e Terras - CIDIAT na Venezuela;

3 - Desde quando possui ligação com a área florestal?

Desde 1972, quando trabalhei como Extensionista Agrícola da Associação de Crédito, Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia em um Programa de Plantio de seringueira, uma espécie produtora de borracha natural, financiado pela Superintendência da Borracha.

4 - Quais são seus planos profissionais para o momento?

Exercer a função de Chefe-Geral com dignidade. Pretendo contribuir com idéias e ações para formulação e/ou reformulação dos programas florestais dos estados brasileiros, em especial, o Estado do Paraná. Enfim, marcar passagem pelo setor como um profissional que aposta nas parcerias efetivas com empresários e produtores, diretamente ou através de suas entidades representativas e também nas parcerias "ganha-ganha" de empresários e produtores florestais em programas de fomento.

5 - Antes de assumir o cargo de Chefe-geral da Embrapa Florestas, qual era sua ocupação?

Atuei como Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Florestas até o final de 2003. Desde 1976, quando iniciei minhas atividades na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, após deixar o Serviço de Extensão Rural Brasileiro – SIBRATER, tive como principal ocupação a pesquisa na área de agrofloresta. Exerci algumas funções gerenciais nas áreas de gestão de atividades de Extensão Rural em Rondônia e de Ciência e Tecnologia, onde liderei projetos e coordenei subprojetos. Atuei também como Subchefe e Chefe-Geral da Embrapa em Rondônia.

6 - O processo de seleção para a escolha do Chefe-geral da Embrapa Florestas é bastante rigoroso. Conte as etapas pela qual passou para chegar a este posto.

O processo de Recrutamento e Avaliação de Candidatos ao Cargo de Chefe-Geral da Embrapa Florestas foi coordenado pelo Comitê de Avaliação de Perfil (CAP) e compreendeu as etapas a seguir:

a) avaliação de requisitos (ser brasileiro nato ou naturalizado; apresentar declaração assinada de que não foi condenado por sentença transitada em julgado em processo criminal, ou julgado culpado em inquérito administrativo, ou sindicância no âmbito da Embrapa ou de outros órgãos ou entidades da administração pública, tendo por objeto a prática de ato de improbidade administrativa, nos últimos três anos; possuir, pelo menos, curso de mestrado concluído, reconhecido pelo MEC e possuir, no mínimo, 10 (dez) anos de experiência em atividades de ciência e tecnologia relacionadas ao setor agropecuário/agroindustrial e/ou de desenvolvimento rural) - realizada pelo Comitê Técnico Interno da Unidade.

b) avaliação da proposta de trabalho - realizada pelo Comitê de Avaliação da Proposta de Trabalho – CAPT.

c) avaliação do perfil dos candidatos, considerando formação e experiência profissional, e capacidade e potencial gerencial - realizada pelo CAP.

Vale ressaltar que apenas os candidatos habilitados em cada fase de avaliação puderam participar das etapas subseqüentes.

7- Há quanto tempo este processo existe e quem elaborou esta fórmula? O método é aplicado a outras divisões do Embrapa?

O processo existe desde 1995 e vem sendo aperfeiçoado ao longo dos anos. A metodologia foi elaborada durante a gestão Dr. Alberto Duque Portugal, ex-presidente da Empresa. O atual Diretor-Presidente, Dr. Clayton Campanhola, tornou o processo ainda mais exigente ao introduzir uma etapa de avaliação de perfil gerencial e capacidade de gestão. Essa etapa é feita por uma empresa especializada em recrutamento de executivos. Todas as Unidades de Pesquisa da Embrapa (Centros Temáticos, Ecorregionais e de Produto) têm seus dirigentes selecionados por este instrumento.

8 - A princípio, o exercício do cargo de Chefe-geral tem prazo de dois anos, que pode ser prorrogado por igual período. De que forma isso é realizado?

Considero importante esclarecer que o processo de recrutamento e avaliação de candidatos a Chefe-Geral destina-se apenas a avaliar e indicar a habilitação dos candidatos, considerando ser este um cargo em comissão, de livre designação e dispensa pelo Diretor-Presidente, na forma prevista no Plano de Cargos e Salários – PCS da Embrapa, com designação pelo prazo de até 2 (dois) anos, prorrogável uma vez, por igual período. O desempenho do Chefe-Geral é avaliado, anualmente, de conformidade com as normas da Embrapa.

9 - A prorrogação do tempo do cargo é uma maneira de exigir o máximo do Chefe-geral, já que se ele não continuar o trabalho, após os dois anos, significa que o desempenho não foi satisfatório. Concorda com este ponto de vista?

Concordo em parte. Um desempenho insatisfatório nos dois primeiros anos fatalmente impedirá a continuidade no cargo. Todavia, há também a possibilidade de apesar dos dois primeiros anos terem sido exitosos o mandato ser interrompido pelo próprio ocupante do cargo por questões pessoais.

10 - O senhor está no comando da Embrapa Florestas há pouco tempo, desde o início de fevereiro, como se encontra a entidade (recursos financeiros, projetos em andamento, pessoal etc.)?

Certamente nossa Unidade está na mesma situação das demais Unidades da Embrapa e das Empresas Públicas Federais. Obviamente que qualquer administrador, inclusive eu, gostaria de poder contar com orçamentos e com quadros de pessoal maiores. A situação de arrocho financeiro e de pessoal, apesar de ser um aspecto negativo, vem nos ensinando não só a gerenciar a escassez de recursos, como também a estabelecer novas parcerias. A Embrapa Florestas vem incrementando, ao longo dos anos, o número de parcerias que têm apoiado nossa Unidade para implantação e condução dos experimentos em campo. Além disso, o orçamento da Embrapa para as despesas de custeio, em 2004, será de R$ 224 milhões, o que representa um aumento nominal da ordem de 36%. Espero que isto represente uma sinalização do governo federal no sentido de ampliar os recursos para a pesquisa.

Neste cenário, os Fundos Setoriais representarão uma proposta interessante de financiamento à infraestrutura e ao custeio da pesquisa científica e tecnológica e o CNPq uma opção de reforço de pessoal da pesquisa (pesquisadores visitantes, bolsistas, estagiários) juntamente com as empresas florestais de forma individual ou através de fundos como o FUNCEMA (profissionais liberais para apoio à pesquisa). Assim, a dificuldade maior ficará por conta de pessoal da área de administração e de apoio laboratorial. Acredito, no entanto que até o final do mandato do governo atual haverá a possibilidade de aumento de quadro na empresa.

Vale ressaltar que mesmo com alguma deficiência em recursos financeiros e pessoal, temos tido um avanço significativo tanto em projetos como em indicadores técnico-científicos (Artigos em periódicos-AP, Capítulos em livros-CL, Resumos em Anais de Congresso-RAC, Artigo em anais de Congresso -AAC, Orientação de Teses-OT, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento-BPD, Livros-L. (Figura 1) e indicadores técnicos de eficiência da transferência de tecnologia (Circulares Técnicas (CT), Comunicados , Instruções ou Recomendações Técnicas (CoT), Documentos (D) e Artigos de Divulgação na Mídia (ADM),

11 - Quais são as prioridades da Embrapa Floresta para os próximos dois anos?

As prioridades traçadas na minha proposta de trabalho contemplam um período de quatro anos e servirão de base para o estabelecimento do Plano Diretor da Unidade – PDU. O início dos trabalhos de elaboração do Plano Diretor da Embrapa Florestas está previsto para março e a conclusão ainda no primeiro semestre de 2004.

Do ponto de vista de gestão institucional as prioridades serão: 1. estabelecimento de parcerias através da participação em projetos de desenvolvimento territorial em arranjos institucionais; 2. maior associação entre ensino, pesquisa e organizações, governamentais ou não, para transferência do conhecimento e tecnologias; 3. estabelecimento de uma gestão ao modo das empresas modernas de aprendizado rápido e múltiplas lideranças; 4. seleção de mentores, através de um estudo de perfis de liderança, para serem preparados para iniciar um programa de "mentoring" e "coaching"; 5. aperfeiçoamento dos pesquisadores "sênior" através do incentivo ao treinamento em pós-doutorado e viagens científicas a programas de reconhecimento internacional nas diferentes áreas de atuação; 6. aperfeiçoamento dos supervisores das áreas de administração e apoio à pesquisa através de cursos de especialização.

Com relação à pesquisa, continuarei a prestigiar as linhas que propiciem o fortalecimento do agronegócio florestal brasileiro em especial as linhas de melhoramento, manejo de plantações florestais, restauração de ambientes ciliares e recuperação de áreas de reserva legal.

Tudo isto para que a Embrapa Florestas possa se consolidar como “braço-forte” do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA e do Programa Nacional de Florestas - PNF.

12 - Como a Embrapa Florestas define o sistema de atuação nas diferentes regiões brasileiras?

Apesar da Embrapa Florestas ter experimentos instalados em quase todas as regiões brasileiras a questão da definição da área de atuação é um ponto que vem sendo constantemente discutido. A pressão da sociedade é intensa e muito tem angustiado nossos pesquisadores, pois não temos estrutura para atender ao crescente número de demandas regionais.

No início a Embrapa Florestas instalou em parceria com o Centro de Pesquisa Agropecuária do Semiárido - CPATSA e com Centro de Pesquisas Agropecuárias do Trópico Úmido - CPATU dois grupos fortes de pesquisa florestal. Com o tempo o grupo do CPATU, por estar na Amazônia, e pela qualidade de seus técnicos, se fortaleceu ao ponto de tornar-se auto-suficiente. O grupo do CPATSA não pela qualidade de seus técnicos, mas por estar na região nordeste onde a visibilidade do trabalho florestal é menor, por incrível que pareça, perdeu a importância e se desfez quase que completamente. Esta tática, portanto, não parece ser a mais eficiente até porque não teríamos recursos humanos e financeiros para estabelecer "Embrapinhas Florestais" em cada uma das regiões brasileiras.

Entendemos que a Embrapa Florestas para chegar às diferentes regiões brasileiras terá que considerar uma estratégia com várias táticas como explicitado a seguir:

1. Aproveitar a estrutura atual da empresa que se constitui de Centros Ecorregionais (mais voltados para a organização do conhecimento dos recursos naturais e do zoneamento econômico e ecológico das regiões), de Centros Temáticos (cuidam de temas específicos como solo, meio ambiente, agroecologia, etc.), de centros de produtos (cuidam de produtos importantes como feijão, arroz, soja, florestas, dentre outros), Serviços Nacionais (como o Serviço de Negócios Tecnológicos e Transferência de Tecnologias - SNT) e Unidades de Execução de Pesquisa - UEPs (unidades de apoio à pesquisa instaladas em algumas regiões onde não há Centros de pesquisa da Embrapa). A Embrapa Florestas, portanto, deverá colocar seus produtos de acordo com os Centros Ecorregionais, apoiada cientificamente pelos Centros Temáticos e operacionalmente pelas UEPs, pelos escritórios do SNT e pelas UEPs;

2. Priorizar no Estado do Paraná ações de planejamento ou de pesquisa que possam servir de modelos para o resto do país. Assim, deveremos buscar nos intrometer no estabelecimento de seu programa florestal e buscar espaço em programas consistentes de gestão de microbacias onde estejam incluídas ações de restauração de florestas ciliares e de recuperação de áreas para reserva legal; com as empresas em atividades de sustentabilidade de suas plantações florestais e de restauração de suas florestas ciliares; com os programas do Instituto Nacional de Reforma Agrária e com os movimentos sociais em projetos de assentamento; com organizações não governamentais como agências de desenvolvimento territorial e outras que trabalhem fazendo uso de sistemas agroflorestais; com a extensão rural em programas florestais que tenham como base a agregação de valor à atividade florestal em propriedades familiares. Assim, pode-se partir do "local para o global".

3. Localizar em cada região brasileira as ONGs que estejam realizando um trabalho consistente utilizando práticas silviculturais e agrossilviculturais em seus programas e levantar através de workshops regionais as principais demandas que elas possuam. A partir daí elaborar programas de pesquisa onde a Embrapa Florestas entre com o conhecimento e/ou com o material genético quando for o caso e a ONG com a operacionalização da pesquisa.

4. Estabelecer em conjunto com o SNT, MAPA e MDA, com o apoio do Programa Nacional de Florestas um programa de produção de sementes florestais nacional e com base na rede de melhoramento que a Embrapa Florestas possui e em algumas áreas de reserva legal de assentamentos selecionados estrategicamente;

5. Levantar junto aos estados e as associações de reposição florestal as demanda por treinamentos em floresta e agrofloresta e estabelecer com eles convênios para treinamentos. Nos estados em que houver unidades da Embrapa e Universidades, fazer o treinamento em conjunto para criar amizades científicas.

Com estas táticas, certamente a Embrapa Florestas terá uma visibilidade nacional dentro de um prazo curto.

13 - Um de seus projetos, apresentados durante a seleção da chefia-geral, é fazer uso das tecnologias florestais e agroflorestais como forma de fortalecimento do agronegócio. Como pretende fazer isso?

Trabalhando nas prioridades do Programa Nacional de Florestas que foi elaborado com a participação da sociedade florestal, através de inúmeras reuniões técnicas, e que engloba ações nas áreas de plantações florestais empresariais, plantações florestais em propriedades familiares, restauração de florestas ciliares no sentido de transformar os empreendimentos florestais em atividade ambientalmente corretas e no manejo sustentado de áreas de reserva legal. Desta forma, será fundamental que a Embrapa Florestas cumpra fielmente sua missão que é “viabilizar soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio florestal por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos, em benefício da sociedade". Isto deverá ser feito através da transferência de tecnologias para as empresas florestais, para os programas de produção florestal e agroflorestal dos consórcios de prefeituras, para as cooperativas agropecuárias e florestais, para os comitês de bacia, para os assentamentos de agricultores familiares, em articulação com o serviço de assistência técnica nacional e com as organizações de assistência técnica não governamental,

14 - Qual a situação da silvicultura familiar (existe incentivo efetivo?) e de que maneira incentivar atividades que gerem renda para essas pessoas e conseqüentemente facilite a inclusão social?

A partir do início da década alguns programas de incentivo para a silvicultura em propriedades familiares têm sido elaborados e postos em prática. Como exemplo, o PRONAF FLORESTAL e o PROPFLORA. O problema é que a operacionalização de tais programas nem sempre é feita de forma correta tanto no que diz respeito à liberação dos recursos quanto à extensão florestal.

Para incentivar atividades que gerem renda para os agricultores familiares pretende-se: Fornecer uma base de conhecimentos e tecnologias florestais e agroflorestais já existentes; Apoiar-se em experiências de pesquisa participativa e implantar modelos de pesquisa integrada junto a comunidades, associações e arranjos locais visando, principalmente, a validação do conjunto atual de "tecnologias - plataformas" que servem tanto para grandes produtores florestais como para produtores familiares; Desenvolver abordagens e tecnologias para integrar o agricultor familiar e assentados, à cadeia produtiva florestal; Ampliar, através de parcerias com instituições de pesquisa, Universidades e ONGs, o esforço de pesquisa para ampliação do número de espécies arbóreas de uso múltiplo para composição de sistemas agroflorestais, pela agricultura familiar, nas diferentes regiões brasileiras; Desenvolver práticas e processos que agreguem valor aos produtos florestais visando nichos de mercado como no caso da erva-mate orgânica; Estabelecer modelos de produção de sementes florestais para comunidades de agricultores familiares, auxiliando inclusive na comercialização do excedente das sementes (as ortodoxas) através do BASEMFLOR; Colocar à disposição dos agricultores familiares informações sobre espécies arbóreas e arbustivas medicinais; apoiar com informações tecnológicas as ações de fomento florestal elaboradas pelas empresas florestais com a intermediação do serviço de extensão rural.

15 - De que maneira o governo, através da Embrapa, está atendendo a necessidade da produção de florestas, tendo em vista o apagão-florestal?

Inicialmente, orientando a Embrapa Florestas para que ela, como detentora de um mandato nacional para coordenação da pesquisa florestal, auxilie o setor florestal a mostrar ao setor público e à sociedade em geral a sua verdadeira importância. A Embrapa Florestas há cerca de quatro anos vem trabalhando nesse sentido. Não foram poucas as reuniões programadas e acompanhadas pela Embrapa Florestas junto ao Ministro Pratini de Morais e agora no governo Lula junto ao Ministro Roberto Rodrigues e a Ministra Marina Silva. O reconhecimento da importância socioeconômica e ambiental do setor florestal por parte do governo e da sociedade é fundamental para que recursos sejam injetados visando a expansão da base florestal e a modernização dos plantios. A Embrapa Florestas tem auxiliado o governo federal na tomada de decisão sobre programas de financiamento do setor como o PRONAF FLORESTAL e o PROPFLORA cuja participação da Embrapa Florestas, foi fundamental.

Vale ressaltar também o papel indutor da ampliação das formas de introdução do componente florestal em pequenas e médias propriedades através de práticas agroflorestais como plantio em aléias, plantio em múltiplos estratos, sombreamento de pastagens, dentre outros.

Finalmente, podemos citar a tecnologia para o aproveitamento, com plantios florestais de rápido crescimento, de áreas abandonadas pelos agricultores em função de perda de fertilidade e/ou de aumento de invasoras.

16 - Como funciona e quais são as vantagens dos sistemas silvipastoris?

Para responder esta questão temos que iniciar explicando o que é e como funciona a agrofloresta que é um termo utilizado por produtores e técnicos para definir os sistemas que integram árvores e arbustos de forma intencional a cultivos agrícolas, atividades pastoris. Quando fazemos a combinação de árvores com pastagens, se diz que é um sistema silvipastoril, quando combinamos árvores e/ou arbustos com cultivos agrícolas o sistema é silviagrícola. Ao combinarmos os três componentes, árvores, atividades pastoris e atividades agrícolas, o sistema passa a ser denominado agrossilvipastoril.

Os sistemas silvipastoris normalmente são desenhados com espécies arbóreas ou arbustivas de rápido crescimento enquanto que os agrossilvipastoris com tanto com essas espécies como com espécies de crescimento mais lento. Nesse caso, faz-se agricultura junto com as espécies arbóreas e/ou arbustivas nos primeiros anos colocando-se os animais apenas quando o componente florestal estiver num desenvolvimento que não mais possa ser prejudicado pelos animais.

Várias são as vantagens dos sistemas silvipastoris ou agrossilvipastoris. Porfírio, pesquisador da Embrapa Florestas com excelente experiência de campo, cita algumas: 1. A criação de gado associada com o cultivo de árvores, além dos benefícios como conforto dos animais e conservação do solo, pode trazer ganhos provenientes da produção de madeiras numa área que antes somente produzia carne e/ou leite e couro; 2. A pastagem adequadamente arborizada pode produzir de 150 a 300 metros cúbicos de madeira de tora, para laminação e/ou serraria, em turno de 14 a 20 anos, sem comprometer a produção animal e sem computar a madeira fina dos desbastes necessários ao manejo do sistema; 3. Junto com os benefícios diretos de produzir madeiras e de gerar empregos, os resultados de pesquisa demonstram que a forragem ganha qualidade para os animais, pois pode aumentar teores de proteína bruta e, o solo também responde de forma favorável melhorando a fertilidade e eliminando a erosão; 4. Há um aumento na biodiversidade; 5. Marketing ambiental da produção pecuária e de seus produtos.

Certamente existem outros benefícios, muitos deles citados na literatura como os que se seguem: melhorar a economia das propriedades através da diversificação; fixar carbono; manter ou aumentar o crescimento das árvores; melhorar a produção de gramíneas de clima frio; permitir a produção de gramíneas de clima quente mediante um manejo adequado do dossel; ajudar no controle da erosão; aumentar a população de espécies de vida silvestre; prover sombra par os animais e com isto aumentar o ganho de peso, a produção de leite e de lã; melhorar a reprodução e melhorar a taxa de sobrevivência dos terneiros.

Para estabelecer um sistema silvipastoril ou agrossilvipastoril a primeira coisa que se deve fazer é determinar se o solo que se vai usar paro o sistema é adequado parar se fazer agricultura e/ou pecuária. Em seguida selecione as espécies agrícolas e as espécies florestais considerando a compatibilidade entre as mesmas. Isto pode ser feito consultando técnicos do serviço de extensão rural e/ou consultando a literatura.

Feito isto, planeje um sistema de pasto com carga animal média, pois um pastoreio intensivo ou um superpastoreio pode danificar as árvores. Planeje um sistema de plantio de árvores que facilite a poda usando preferentemente plantio em fileiras ou um plantio em alta densidade com desbastes mais freqüentes.

Por último o produtor de posse dessas informações técnicas deverá fazer uma análise das implicações econômicas e de administração do sistema. O produtor só terá êxito se utilizar espécies adaptadas ao local e que tenham mercado para sua venda.

Os sistemas silvipastoris são usados não somente por produtores familiares sendo vários os exemplos de grandes empresas que o utiliza com sucesso.

17 - Como se encontra o desenvolvimento do Brasil nesta atividade?

No Sul do Brasil os sistemas silvipastoris ainda não são utilizados em grandes extensões como demonstra a tabela a seguir. No Estado do Paraná existem algumas experiências interessantes, com pecuária de corte e com pecuária leiteira, que inclusive foram visitadas, na semana de 19 a 23 de janeiro, pelo pesquisador Belissário Roncallo da Oficina Asesora de Educación y Extensión - Corpoica, da Colômbia.

No Brasil, talvez seja o noroeste de Minas Gerais a região com maior número de sistemas silvipastoris com eucalipto. Há exemplos também em São Paulo e no nordeste brasileiro onde se tem utilizado tanto espécies florestais introduzidas (algarobeira) como espécies nativas (faveira).

18 - Em cifras, quanto um pequeno proprietário pode lucrar aplicando o sistema silvipastoril?

É difícil falar em cifras para os pequenos produtores em função das dificuldades que existem de anotação de custos e receitas por parte dos mesmos. No entanto, no noroeste de Minas Gerais, professores do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa - UFV fizeram uma análise de um sistema silvipastoril de eucalipto incluindo vários indicadores econômicos (Valor Presente Líquido - VPL; Valor Esperado da Terra - VET; Custo Benefício Periódico Equivalente - (B(C) PE); Relação Custo- Benefício - B/C; e Taxa Interna de Retorno - TIR). Os estudos mostraram que para uma taxa de juros de 10 % ao ano e custo anual da terra de U$ 40,00.ha-1, o sistema silvipastoril teve VPL (US$ 363, 79.ha-1), VET (US$ 560,10.ha-1) e B(C) PE (US$ 56,01 .ha-1) positivos, B/C superior a 1 (1,20) e TIR superior a 10% (13,49%).

19 - Quais seus planos ou o que pretende colocar em prática durante a administração da Embrapa Florestas?

Do ponto de vista silvicultural pretendo contribuir com dois importantes aspectos: 1. conduzir a Embrapa Florestas de forma que ela auxilie o setor direta e indiretamente para que as plantações florestais de espécies de rápido crescimento sejam cada vez mais produtivas e sustentáveis e, portanto, importantes para a economia nacional; 2. incentivar a pesquisa em silvicultura conservacionista que entendo ser fundamental importância para o estabelecimento de modelos de propriedades agropecuárias sustentáveis do ponto de vista ambiental com suas florestas ciliares restauradas e suas áreas de reserva legal recuperadas e manejadas de forma sustentada. Só assim caminharemos para certificação de propriedades rurais no futuro. Com relação à gestão interna, pretendo fortalecer o objetivo de cada vez mais fazer com que Embrapa Florestas seja uma empresa de aprendizado rápido, com muitas lideranças e com um atendimento de excelência ao cidadão.

20 - Quais ações da entidade atendem as necessidades do setor produtivo madeireiro (pesquisas, projetos, estudos e outras formas de apoio)?

A missão da Embrapa Florestas é viabilizar soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio florestal por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos, em benefício da sociedade. Considero que o agronegócio florestal diz respeito ao conjunto de organizações governamentais ou privadas, com ou sem fins lucrativos, e os produtores que exercem atividades ligadas tanto a produção de produtos madeireiros como a de não-madeireiros com base na floresta incluindo, também, a recuperação de áreas degradadas por mau uso agrícola, a restauração de florestas ciliares e de áreas de reserva legal e a prestação de serviços ambientais, especialmente a captura de carbono.

Especificamente destinados ao setor produtivo madeireiro existem vários projetos em andamento financiados com recursos do tesouro nacional (Tabela 1), alguns dos quais concluídos em 2003 e cujos resultados estão sendo analisados para validação futura. Há também projetos financiados por outras fontes de recursos (Tabela 2). Da mesma forma, a Embrapa Florestas desenvolve vários projetos de interesse do setor florestal não-madeireiro, com recursos do tesouro nacional, alguns dos quais concluídos em 2003 e cujos resultados estão sendo analisados para validação futura. Há também projetos financiados por outras fontes de recursos (Tabela 4). Todos os projetos foram estabelecidos a partir de demandas levantadas por mecanismos estabelecidos pelo Governo Federal através de seus Ministérios (Agricultura; b) Desenvolvimento Agrário; c) Ciência e Tecnologia) e pelas entidades representativas do setor florestal.

21 - Como funciona o sistema de investimentos da Embrapa? Quem financia a entidade?

Na década de 90 a pesquisa florestal na Embrapa Florestas era quase que totalmente financiada pelos recursos do Tesouro Nacional via Ministério da Agricultura, salvo algumas exceções como o trabalho de melhoramento florestal em conjunto com diversas empresas do setor florestal e o Fundo de Combate à Vespa da Madeira - FUNCEMA cuja parceria com a Embrapa Florestas produziu um dos maiores programas de controle do mundo com reconhecimento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, o USDA.

A partir da primeira década do século XXI a situação vem se modificando sobremaneira. Hoje, além da diversificação das fontes dos recursos do tesouro (Ministérios da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, Ministério da Indústria e Comércio, Ministério do Meio Ambiente), as prefeituras, cooperativas e as empresas florestais diretamente ou via Fundos Competitivos ou Fundos empresariais já têm um peso importante. Em minha gestão pretendo estabelecer um programa de captação de recursos ainda mais forte. Para tal, discutirei um acordo com o Serviço de Negócios Tecnológicos da Embrapa - SNT visando ampliar a quantidade de investidores privados na Embrapa Florestas. Uma das estratégias será o fortalecimento do Núcleo de Assessoria a Projeto - NAP, para a participação e até mesmo a indução de editais junto aos Fundos Competitivos, a parceria com governos estaduais, associações de prefeituras e organizações não governamentais como as associações de reposição florestal e as agências ambientais.