Química

Por mais que se pareça com bizarrice ou esquisitice, o que chama-se comumente de Química, é uma das mais importantes ciências estudadas pelo ser humano. Disse 'uma das' pois não quis colocá-la em primeiro lugar, já que para isso seria necessário elucidar o ponto científico da Química. Infelizmente essa ciência (e talvez muitas outras) são relegadas ao descaso no senso comum e escolar.

Desde crianças a Química não faz parte da vida humana como uma coisa a ser descoberta, nem sequer existe o sentimento de ensinar, explicar ou despertar a curiosidade e a vontade de saber sobre o modo de organização do cosmo. Acontece isso pela falta de informação da geração anterior, que passou por problemas semelhantes.

Levando-se em conta a origem da Química, remontaremos à Filosofia clássica, antes de Sócrates, onde os filósofos gregos tentavam explicar o que era o mundo. Observe que a tentativa de explicar o sentido da vida, o porquê estamos aqui, quem somos, de onde viemos e para onde vamos, deu origem à Química e à praticamente todo o pensamento científico que permeia a humanidade.

O ato de buscar o sentido da vida é tão antigo quanto o ócio humano. Quando os primatas da família 'hominidae' formaram seus primeiros meandros de sociedade, e essa espécie de organização deu-lhes tempo para algo mais do que a simples necessidade de sobrevivência, sobreveio o primórdio da cultura. As características, os modos de arranjo, os hábitos, costumes, elementos formadores do grupo, isso tudo é o que chamamos de cultura de um povo. Passada geração à geração, incorporada, miscigenada à sobrevivência, ao espaço, ao comportamento e ao pensamento quanto ao todo. Esses caracteres, desenvolvidos e perpetrados durante gerações deram origem ao pensamento desses indivíduos - à sua cultura individual.

O fato de ter tempo para pensar permitiu ao homem a curiosidade sobre coisas que não estavam relacionadas à necessidade de reprodução e sobrevivência. A filosofia nada mais é do que o questionamento a partir da consciência do 'eu'. Ou seja, assim que o homem percebe que é alguém, que existe de fato e que, possivelmente, existem outros, ele se pergunta 'afinal, que sou

eu e de onde vim?': eis o início de seus mitos, fábulas, histórias e filosofias.

A escrita surge como a necessidade de compartilhar a gama de conhecimentos adquirida em razão do tempo. Esses conhecimentos ajudam (se reunidos em um só lugar) a sobrevivência e facilitam o ensino dos novos membros. A escrita, primeiramente desenhos e símbolos, surge como necessidade de sobrevivência. Seu aperfeiçoamento se dá pela mistura de várias culturas quando essas começam a interagir, seja pelo espaço físico, por comércio ou por guerras. E neste contexto, temos a sociedade e os párias. O escravo contribui para a ciência na medida em que exerce a função de 'desprender energia' para que os dominantes possam dedicar-se ao ócio. O escravo era funcional e pragmático, servindo como uma espécie de 'pacote de energia'. Toda a evolução do pensamento científico humano está ligado ao tempo que o ser gasta dispendiando sua energia para sobreviver. Se toda sua energia é gasta na sobrevivência, não lhe resta tempo para a cultura ou lazer. Este é o estado animal de natureza. O modo como as engenhocas são adaptadas, permitem ao homem gastar menos energia e a engenhoca mais bem sucedida, aquela que contribuirá inclusive para o advento de novas e aperfeiçoadas engenhocas e políticas sociais, é o escravo, na medida em que desempenha o trabalho de natureza e deixa livre o uso do encéfalo do dominante para este aprimorar seu modo de vida.

Neste contexto, a Química, como qualquer outra ciência, não é encarada uma coisa à parte, desligada de um sistema funcional da sociedade (como muitos a encaram hoje em dia). A ciência na pólis era uma coisa única, era o resultado da Filosofia, essa sim, encarada como uma sublime arte. A Filosofia englobava todo o conhecimento que se existia na época, a própria palavra Filosofia quer dizer a busca incessante pela sabedoria.

Matemáticas, estudos sobre o civil e a sociedade, Arte, Composição do cosmo, Navegação, Humanidades e Lógica. Toda essa gama de conhecimento e estudos estavam presentes nas escolas da Eléia. O estudo da composição do cosmo, tido como a tentativa de decifrar do que era feito o universo foi o que deu origem à Ciência mais precisamente como concebemos hoje. Da escola de Abdera vieram Leucipo e seu aluno Demócrito, o sábio. Essa alcunha lhe deram por conceituar o que na época se chamava de partícula fundamental, ou seja, o universo e tudo o que existe deveria ser formado por alguma coisa, então que coisa será essa? Era esta a pergunta que os gregos procuravam responder neste conceito filosófico. Daí vem a teoria dos quatro elementos fundamentais, que posteriormente virou mito: água, terra, ar e fogo, eles seriam os formadores de tudo o que existe. Tales de Mileto foi o primeiro a tentar explicar esse conceito com sua célebre frase 'tudo é água'. Daí, independente do que Tales tenha escolhido para componente, o importante é notar a incrível visão desses homens em elucidar o universo como sendo uma e única coisa, o mesmo arranjado de diversas formas. Uma visão apaixonante, tamanha sua tenebrosidade e seu mistério. Alguns levaram esse conceito muito adiante, como Empédocles, filósofo que dizia que tudo era formado de fogo e que para provar sua teoria se jogou dentro do vulcão Etna, na Itália. Não se sabe se conseguiu...

Entretanto, Demócrito formulou um dos conceitos mais inteligentes da Ciência, dizendo que não era importante qual partícula o universo era formado, pois ela era tão minúscula que não chegava a ser nada, mas se arranjava de diferentes formas, formando tudo e o infinito. A essa partícula ele chamou átomo (do grego A:"não", TOMO:"divisão"), ou seja o indivisível. Conceito que perdura até hoje, graças também à Dalton, um britânico que deu normas científicas à teoria atomista.

Deste campo de pesquisas, como já é fácil perceber, nasceu a Química, a ciência que estuda as partículas fundamentais e as reações entre elas. Este é o mais importante ponto para entendermos tudo o que é formado e se forma no universo. Entender o

porque de todas as coisas. A Química acaba descendendo da Filosofia e se destina a explicar a própria Filosofia, pois também da Química rebentou a Física e todos os seus estudos sobre o modo de comportamento universal. E em termos mais específicos, a Química nos traz todos os avanços e entendimentos sobre a natureza em geral e, em sua mais sublime instância, da Medicina do ser humano. Sublime não por qualquer razão antropocêntrica, mas porquê nós somos tudo o que podemos ter de parâmetro para aprendermos e aperfeiçoarmos nesta busca de conhecimento sem fim. De nós partem as teorias, de nós vertem os conceitos, em nós reside a imaginação, e tudo isso, fazemos para que nós possamos nos beneficiar e continuar a buscar. O ser humano estuda para estudar-se para continuar estudando.

DoctorD
Enviado por DoctorD em 11/05/2008
Reeditado em 10/08/2016
Código do texto: T984694
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