A injusta luta por uma brava sobrevivência (publicado originalmente em 21/1/2004)

Não era para ser assim. Mas, enfim, a vida nos coloca problemas e questões sérias para resolvermos. Às vezes, um grave acidente nos faz dar valor àquilo que chamávamos de “rotina”. Claro, o taumaturgo não surge de uma hora para outra. Nunca acreditei em milagres até observar com precaução todo o horror pelo qual passou o ator Christopher Reeve, o eterno Superman.

Reeve era um ator de talento pouco reconhecido quando foi convidado para interpretar o herói mais famoso de todos os tempos. Corria o ano de 1977, e ele, então com 25 anos recém completados, iniciava as filmagens, simultaneamente, dos dois primeiros longas-metragens do paladino da capa vermelha. Tudo durou exatos 19 meses. O lançamento ocorreu em dezembro de 1978 e o sucesso não poderia ter sido maior. Pouco tempo depois, vestiu de novo o uniforme, e filmou “Superman III” (1983) e “Superman IV” (1987).

Christopher Reeve, então, passou a ser reconhecido mundialmente e venerado pela maioria dos fãs do Homem de Aço. Além disso, firmava uma carreira promissora no teatro. Chegou a contracenar, por exemplo, com as atrizes Vanessa Redgrave, Emma Thompson e Katharine Hepburn e com o ator Anthony Hopkins. Reeve melhorava a cada projeto. O destino, desgraçadamente, lhe imporia uma terrível e trágica barreira.

Em 27 de maio de 1995, feriado nacional nos Estados Unidos, Reeve participava de um campeonato amador de hipismo. Com seu cavalo Buck, Christopher se preparava para um salto comum. Não exigiria do animal demasiado esforço. Buck, no entanto, parou em frente ao obstáculo. O super-herói indestrutível das telonas foi arremessado contra a cerca que o cavalo deveria pular. A cabeça foi atingida em cheio. “Não caí de uma altura muito grande, mas esmaguei a primeira vértebra cervical”, explicou no livro “Ainda Sou Eu”, lançado em 1998.

No momento do acidente, Reeve lutava para respirar como uma pessoa que está se afogando. “Quando os para-médicos entraram em cena, estava sem respirar havia três minutos”, lembrou. A lesão foi tão grave que os médicos compararam ao sofrimento de um enforcado, segundos após ter aberto o cadafalso. Até hoje não se sabe como ele pôde sobreviver. Os movimentos, Christopher só consegue do pescoço para cima. Muito raramente, move alguns milímetros um dos dedos das mãos. Com 1,93 metro e 98 quilos, está condenado a viver até a morte em uma cadeira de rodas. É como se a cabeça estivesse separada do resto do corpo.

Do acidente à saída do hospital e a volta para a casa, um intervalo de sete meses. As sucessivas angústias retratadas por ele no livro chegam a ser desesperadoras. Em um dos momentos mais dramáticos, sua própria mãe pede aos médicos para desligar os aparelhos que mantinham o filho vivo. Outra passagem revela a tentativa de suicídio do ator.

Ele saiu do hospital. Prometeu, em discurso feito na festa do Oscar de 1996, andar antes de completar 50 anos (em setembro de 2002). Não conseguiu cumprir.

Atualmente, já bastante afetado pelos inúmeros remédios, raspou totalmente os cabelos. Os únicos resquícios dos filmes onde esteve presente são os olhos azuis, tão marcantes e dissimulados. Transformou-se em diretor de cinema. Criou uma fundação para estudar e ajudar pessoas como ele. Em 2003, curiosamente, participou de um capítulo da série “Smallville”, cujo ponto de partida é a vida do super-homem antes de Clark Kent descobrir os tais poderes. Ele, com certeza, já descobriu os dele. E eu passei a crer nos milagres fulgurantes desta vida.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 02/05/2009
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