Os mitos nunca morreram (publicado originalmente em 14/2/2004)

Quatro artistas alcançaram a cândida honraria de, após a morte, se transformarem em figuras mitológicas do cinema: Carmen Miranda, Elvis Presley, James Dean e Marilyn Monroe. Destes, quem morreu com mais idade foi a portuguesa abrasileirada Carmen Miranda, aos 46 anos. Dean desapareceu aos 24. Presley (42) e Monroe (36) ficaram na média. A pequena notável foi a única a não falecer tragicamente. O dia-a-dia deles sugeria ou previa como seriam essas respectivas mortes.

Miranda nasceu na pequena cidade de Freguesia de Várzea da Ovelha em nove de fevereiro de 1909. Um ano depois, estava no Brasil. Aos 19 anos, os brasileiros se derreteram simplesmente ao movimento dos lábios dela ao cantar “Taí”, uma marchinha de carnaval. Logo, o ainda precário cinema brasileiro a convidou para estrelar suas obras. Em 1932, fez “A Voz do Carnaval”. Teve a irmã, Aurora Miranda, parceira de cena em “Faz Alô Alô Brasil” e “Estudantes” (ambos de 1935). Foi apenas um pulo para a consagração na Broadway. Era a cultura do Brasil em exportação.

Rodou ao todo 14 filmes na terra do Tio Sam. Levada pelo empresário Lee Schubert, regozijou, já em Hollywood, platéias atônitas ao seu ritmo contagiante e supremo. Em 1939 usou pela primeira vez a roupa de baiana com as cores refinadas que a tornaria famosa até a eternidade. Radicada totalmente nos Estados Unidos, não deixou os conterrâneos à míngua. Retornou ao Brasil duas vezes. A maior embaixatriz brasileira de todos os tempos morreu em 1955, pouco tempo depois de se sentir mal na gravação de um programa. Sofreu, em casa, um fulminante ataque cardíaco.

O cantor-ator Elvis Presley veio ao mundo acompanhado de um irmão gêmeo, que não sobreviveu a um difícil parto. De uma família pobre da cidade de Tupelo, no Mississipi, ele teve, assim como Carmen, ascensão meteórica. Aos 21 anos, protagonizou “Love me Tender” (1956). A carreira prometia. Porém, foi interrompida entre 1958 e 1960, período em que serviu ao exército. O afastamento não foi de todo mal. Lá, conheceu Priscila, uma estonteante jovem de olhos azuis. Casaram-se. Daí para frente nada mais o parou. Apenas o vício em bebidas e drogas o derrubou.

Não era considerado um exemplo de ator. As histórias que protagonizava tinham sempre o mesmo enredo, composto por música e mulheres. No fim da década de 1960, já não era o mesmo. O rebolado e voz sensual que faziam meninas suspirarem não tinham iguais impactos. Engordou muito e suas aparições na TV eram motivo de piada. Em 16 de agosto de 1977, já completamente drogado, teve um ataque cardíaco. Não resistiu. Após a morte uma legião de jovens que o desconheciam passaram a admirá-lo postumamente. A frase “Elvis não morreu” ficaria marcada para sempre.

Com James Dean a trajetória foi bem mais curta. Nos pouco mais de quatro anos de carreira, trabalhou em bastantes filmes. Três deles trouxeram-lhe sucesso absoluto: “Vidas Amargas”, “Juventude Transviada” (os dois de 1955) e “Assim Caminha a Humanidade” (lançado em 1956, meses depois da morte dele). No trio, refletiam-se as sensações juvenis tão condescendentes com a realidade em que viviam. Personagens rebeles, neuróticos até, eram o forte de Dean. Fez pontas em pequenos filmes e alguns comerciais de TV antes de ser descoberto pelos estúdios Actors.

Nascido em 1931 no Meio-Oeste americano, James não demorou em partir junto com uma companhia de teatro. Quando foi contratado pela Actors, interpretou, na Broadway, um homossexual árabe em “O Imoral”. Seguiu rumo a Warner, onde ficou até bater sem dó com seu Porshe em uma estrada dos Estados Unidos em setembro de 1955. Saia de cena precocemente. Bastava isso para ser, então, tratado como mito. Seu rosto virou obsessão para ascetas. Recebeu durante a vida indicações ao Oscar. Depois de morto, foi apontado novamente pela Academia, que teimava em não esquecê-lo.

Desses quatro famigerados aducentes, quem mais sofreu angústias e tristezas foi Marilyn Monroe, curiosamente a que menos aparentava tal estado. Seu nome verdadeiro era Norma Jean Mortenson e sustentou durante muitos anos a status de “a mais sensual” ou “a mais ousada” mulher do mundo. Antes dos 20 anos, casou-se, trabalhou em uma fábrica de munições, posou para uma revista, fez testes de cinema, foi contratada para papéis rasos e dispensada pela 20 Century Fox. Ela desejava subir ao degrau mais alto de quaisquer objetivos perseguidos sem esmorecer.

Atingiu fama aos 27 anos, em “Os Homens Preferem as Loiras” (1953). Era a apoteose nas mãos. Prosseguem aí “O Pecado Mora ao Lado” (1955) e “Quanto Mais Quente Melhor” (1959). Dirigiu-se ao altar outras duas vezes. Juntou ao longo da vida amantes, como o presidente John Kennedy. Seu corpo era querido por 10 em cada 10 homens àquela altura. Em 1962, ingeriu dezenas de barbitúricos e morreu. Pareceu ser a conseqüência inevitável para um cotidiano infeliz de quem uma vez declamou utilizar somente uma gota do perfume Channel número cinco quando ia dormir.

Assim são os mitos intrépidos. A vida deu chances a eles. Souberam aproveitar como poucos. Talvez porque sabiam que viveriam pouco. Muito pouco.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/05/2009
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