Títulos muito loucos, nomes do barulho, o pesado Eddie Murphy & cia. (publicado originalmente em 18/2/2004)

Como se diz vampiro em alemão? Aposto que menos de um por cento dos leitores desta coluna saberão responder corretamente. Para quem definia os títulos dos filmes aqui no Brasil, anos atrás, vampiro em alemão era somente a letra “M”. Fritz Lang, se estivesse vivo, preferiria morrer ao ver “Vampiro de Düsseldorff” colocado nas prateleiras das locadoras desse país. O título original é simplesmente “M” (1931), mas, para “melhorar” a exposição no Brasil, optou-se por este nome maluco e quase sem nexo, pois na história em si não há sanguessugas com capas pretas esvoaçantes.

Receber e transformar títulos de filmes vindos de outros países são um duro desafio para pessoas especializadas nesse tipo de setor ao longo dos anos. É ultra comum ver nomes batizados com as palavras “barulho”, “louco” e “pesada”, sobretudo no Brasil. Assistir “Um Hóspede do Barulho”, “Uma Escola Muito Louca” ou “Um Tira da Pesada” são, cá para nós, um desgaste terrível. Além das histórias serem de fracas para horríveis e com piadas frouxas, o público em geral já se encheu até as narinas. Crianças de hoje em dia viram a cara quando esse tipo de distração vai para a televisão.

“Meu Primeiro Amor” (1991, “Minha Garota” na tradução simultânea), com o sumido Macaulay Culkin, conta como dois pré-adolescentes se conhecem e iniciam um tímido namoro. Bem sentimental e agradável para os admiradores do ator dos dois engraçados “Esqueceram de Mim” (1990 e 1992, que, no nome verdadeiro, é “Sozinho em Casa” – muito parecido, não?). Em filmes cujos títulos não comprometem, por o número dois quando se trata de continuações nos enlatados é normal (“A Hora do Pesadelo II” etc...). No primeiro amor de Culkin, porém, isso não vale.

Mas, para variar, complicaram de novo. Colocaram “Meu Primeiro Amor II”. Um primeiro amor duas vezes. Isso vai para a coleção de piadas dos nossos patrícios portugueses. Medalha de ouro indiscutível. Outro exemplo (medalha de prata) é aplicado em um dos clássicos de Alfred Hitchcock. Em “Um Corpo que Cai” (1958), o nome em português já explica todo o enredo. Perde a graça. No inglês, “Vertigo” (vertigem), reflete o problema psicológico do protagonista, que sofre por não lidar corajosamente com altura. “Um Corpo que Cai”, além de pouco criativo, é denunciador.

Os sem-graça – Perto desses títulos imbecis, está o ator (será que podemos chamá-lo assim?) Eddie Murphy. Alguém aí já riu de algo feito por este personagem ridículo? Eu, sincera e honestamente, não. E provavelmente nunca o farei. O motivo é fulminante: ele é sem-graça. Muito sem-graça. Quase aos 43 anos, Murphy começou a carreira em Nova Iorque, onde apresentava eventos e fazia, dessa maneira, seu showzinho solo. Antes dos 20 anos, foi contratado pelo programa de TV americano “Sábado à Noite Ao Vivo” e ficou conhecido por seus personagens bizarros.

A estréia no cinema aconteceu em 1982, no ruim e enganador “48 Horas”. Um estouro de bilheteria. As mais notadas interpretações do ator vieram pouco depois, com “Trocando as Bolas” (1983) e “Um Tira da Pesada” (1984). Ambos da mesma péssima categoria, mas com sucesso idêntico ou maior ao primeiro. Em 1989, tentou ser diretor em “Harlem Nights”. Recebeu cachoeiras de críticas. Nos projetos seguintes, mais filmes horrorosos. O público pareceu perceber a “tragédia” das “comédias” dele e a rejeição despretensiosa incomodou Eddie. Ele nada pôde fazer.

Com aquele bigode chinfrim, Eddie não mede toda a pilhéria falsa e desprovida de talento que possui. Um autêntico bugio, para não escrever outras palavras. Significa uma enorme patranha toda a carreira desse sujeito. Atores como ele não são raros. Ao contrário, vêm montados em nossas pobres e já arrasadas paciências. Steve Martin e Leslie Nielsen são exemplos práticos de um humor fracassado. Mais um. Estão em boníssima companhia ao lado de Murphy. Não à toa o reconhecimento da desgraça veio da boca do próprio Martin ano passado, no Oscar. Ele havia, enfim, descoberto porque nunca foi sequer indicado ao Oscar de melhor ator. Faz filmes trocistas.

O ator, de cabelos brancos celestiais e 78 anos, se apegou a comédias de um mau gosto insuportável. Porque estúdios cinematográficos renomados se atraem por tipos tão desprezíveis? A resposta (bilheteria alta – o dinheiro manda nisso, infelizmente), se não salta à vista, poderia dar um empurrãozinho a esse trio de pascácios. O empurrão seria para uma aposentadoria regrada, onde poderiam usufruir todo conforto. Aproveitar cada toque de valiosa folga, sem trabalhos para importuná-los. Longe dos sets de filmagens. Bem longe. Eles não iriam querer mais. Por favor, não insistam.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/05/2009
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