Os irmãos Lumière e os outros pioneiros do cinema (publicado originalmente em 7/4/2004)

Dia 28 de dezembro o cinema completará 108 anos. Neste tempo teve de tudo: épicos, comédias, dramas, aventuras, guerras, suspenses etc. Dois irmãos franceses destemidos, Louis e Auguste Lumière, iniciaram uma garimpagem sem rumo e encontraram o cinema em suas vidas. Ambos criaram, na noite de 28 de dezembro de 1895, a sétima arte. Mas Louis considerava o meio tão efêmero que voltou a explorar novos avanços da fotografia, outra paixão dele. Filhos de um fabricante de suprimentos fotográficos, a dupla deu vida a um cinematógrafo e combinou nele funções de câmera e projetor. Este objeto foi utilizado para projetar os primeiros filmes de Louis, tais como “A Saída dos Operários das Usinas Lumière” e “A Chegada do Trem na Estação de la Ciotat”, ambos de 1895. Os irmãos atraíram público pagante em Paris para assistir suas obras magníficas e inovadoras.

A platéia ficou assombrada. O susto, claro, tinha motivo: as imagens exibidas se mexiam, como se fossem fotos ou slides vivos, um verdadeiro espanto para a sociedade do fim do século 19. O prodigioso Louis ainda dirigiu a ficção “O Regador Regado”, do mesmo ano dos outros. Não demorou muito para os dois começarem a enviar operários de câmera para gravar notícias pelo mundo afora. Entretanto, quando o mais velho (Louis nascera em 1864 e Auguste, 1862) abjurou do cinema, as pessoas estavam exigentes e havia concorrência de duas novas empresas, Gaumont e Pathé. Este prélio, porém, só ajudou a melhorar as técnicas cinematográficas e, no fim, todos ganharam. Quando Auguste e Louis morreram, respectivamente em 1954 e 1948, o palco estava consolidado e o planeta caía derretido com histórias espetaculares e grandiosas. Outros pioneiros também fizeram parte desta enorme categoria da invenção.

William George Barker, um ex-caixeiro viajante, agarrou a coragem e organizou pérolas à sala de cinema. Primeiro, adquiriu duas casas em uma cidade perto de Londres e iniciou a rodagem dos longas no próprio jardim. Em 1907, construiu um estúdio coberto, semelhante a uma estufa, e logo ergueu outros “sets”. George fazia filmes amadores com uma câmera (da marca Lumière) comprada em 1896 por 40 libras. Profissionalizou-se em 1901. Possuía aptidões para espetáculos e geralmente seus enredos eram de aventuras. Outro detalhe: tinha ambição. Para fazer “Henrique VIII” (1911), levou uma companhia inteira ao município onde estavam os dois estúdios. Pagou mil libras a eles. Todo o dinheiro era emprestado de credores. No ano seguinte, realizou “Hamlet”. As 22 cenas do filme (os chamados “longas” daquele tempo tinham poucos minutos de duração) foram gravadas num só dia. Um desespero.

Outro pioneiro, Cecil Hepworth, inventou equipamentos de projeção. É até hoje uma das figuras mais inovadoras e criativas da indústria do ecrã. Escreveu o primeiro manual britânico sobre filmes de ficção e documentários em 1899, onde aparecia como ator. Ele experimentou o som bem antes da Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Já Charles Pathé (aquele concorrente que, digamos assim, fez Louis Lumière “desistir” do cinema) criou uma empresa cujo nome era o dele próprio. Este dirigente empreendedor abocanhou boa parte das façanhas a partir de 1900. Vendeu, junto com seus irmãos (Emile, Jacques e Théophile), projetores de filmes e fonógrafos de bom estado. Construiu um estúdio na França e dirigiu muitos dramas, entre eles “História de um Crime” (1901) e “As Vítimas do Alcoolismo” (1902). Aumentou a produção com mais locais de gravação e lançou o “Pathé Journal”, primeiro jornal cinematográfico do mundo.

Muitos arrecadaram dinheiro às custas de outros. Charles mesmo vendia fonógrafos feitos por Thomas Edison. Robert Paul, engenheiro e fabricante de instrumentos científicos, copiou o cinemascópio de Edison em 1894 e criou uma câmera para filmar películas junto com Birt Acres, seu parceiro na empreitada. Em 1896, no mesmo dia em que os irmãos Lumière fizeram a primeira exibição pública na Grã-Bretanha, Paul projetou filmezinhos em Olympia para pagantes. Algumas de suas histórias duravam apenas um minuto. Os tempos andaram depressa demais para ele. Teve de gastar todo dinheiro para pagar dívidas e voltou a fazer instrumentos científicos. A vida dá voltas. Nada é estático. O sucesso é impostor tanto quanto o fracasso... George Pearson, morto aos 98 anos, teve esse sucesso porque agradava os emergentes da classe operaria da década de 1920. Retratou isso em “As Pequenas Pessoas”, de 1926.

Era diretor de escola quando largou o ofício para trabalhar com Pathé. Aposentou-se aos 81 anos e escreveu sua autobiografia: “Flashback”. Edwin Porter deixou um legado de filmes de importância estratosférica. “O Grande Roubo do Trem” (1903), um faroeste de 11 minutos, fez cair o queixo de vários diretores e roteiristas da primeira década do século passado. Possuía tomadas sucessivas e panorâmicas, além do famoso “close up”. Em outubro de 1929, a crise da Bolsa de Nova Iorque o deixou quebrado financeiramente. Doze anos mais tarde morreu no ostracismo. George Albert Smith e Adolph Zukor foram outros pioneiros. Zukor, um magnata do cinema, trabalhou sem descanso até os 103 anos, completados em 1976, quando faleceu. Smith obteve a sonhada cor nas telonas. Patenteou o “Kinemacolor” junto com Charles Urban. Aperfeiçoou técnicas de imagens reversas e desenvolveu os close ups de Porter.

Notem a parceria deles. Irmãos, amigos... A maioria falida. Deram mais que fiapos por uma cena. Se não fossem eles, outros teriam inventado o cinema. Para o bem ou para o mal, são coisas passadas. O cinema, queiram ou não, gostem ou não, é parte integrante da nossa vida.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/05/2009
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