Aguardem: Silvio Santos vai virar filme (publicado originalmente em 11/8/2004)

Ainda não se sabe quando e em qual lugar começarão as filmagens. São desconhecidos também os atores que comporão o elenco, conseqüentemente a definição de quem fará quem está muito longe de ficar acertada. A única informação concreta realmente é que a vida do carioca Senor Abravanel, o Silvio Santos, virará longa-metragem. Os primeiros indícios foram ventilados ano passado, quando o provável diretor da fita, Guga de Oliveira (irmão de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-Rede Globo; responsável pelo documentário “O Brasil na Segunda Guerra”, de 2003), anunciou todo o projeto em polvorosa. Inicialmente, estavam escalados Edson Celulari para o papel-título e Tony Ramos para interpretar Lombardi, locutor invisível que está ao lado do animador há mais de 35 anos. Depois de alguns meses, não se falou mais no assunto. Pouco tempo atrás, a notícia voltou a figurar nas manchetes. Desta vez, quem encarnaria o dono do SBT seria (pasmem) o namorado da filha dele, Silvia Abravanel, cujo nome ninguém sabe até hoje. Claro, não daria de jeito nenhum certo isto aí.

Ao lançar a biografia não-autorizada “A Fantástica História de Silvio Santos”, em meados de 2000, o jornalista e ex-assessor de imprensa de Silvio, Arlindo Silva, imaginava tamanha repercussão sobre as polêmicas páginas. Arlindo colocou na obra várias fotos do apresentador, entre elas algumas bastante raras, como as dele criança e na época na qual trabalhava na Rede Globo. No último capítulo do livro, o repórter surpreendeu e colocou a entrevista concedida por Manoel da Nóbrega (criador do programa “A Praça da Alegria” e parceiro de Santos na transferência do Baú da Felicidade) a jovens estudantes poucos anos antes da morte de Manoel, em 1976. Por se tratar de um personagem público que mal aparece e fala com a imprensa (Silvio repudia jornalistas), “A Fantástica História de Silvio Santos” vendeu como água. Arlindo participou de várias atrações de televisão, esteve em diversas noites de autógrafos e revelou para os (as) fãs de Silvio fatos curiosos do “Homem do Baú”, como no dia em que a mãe dele, Rebeca, não o deixou ir à matinê do cinema e este sofreu grave incêndio.

A biografia deste corinthiano nascido no bairro da Lapa à 0h15 de 12 de dezembro de 1930 se iguala àquelas novelas mexicanas que ele insiste em exibir no seu canal. Teve vida difícil quando era guri, vendeu bugigangas (canetas, brinquedos, capas para título de eleitor) nas ruas do Rio de Janeiro para ganhar trocados a mais, atraiu fregueses com truques de mágica e, como todo camelô, fugia do rapa. A sorte dele começou a mudar quando um desses rapas, percebendo a voz potente do vendedor adolescente, o levou para uma emissora de rádio para fazer testes. Dessa forma, livrou o garoto da cadeia. O esperto Abravanel foi aprovado e iniciava a carreira vitoriosa de Silvio Santos. Achar que a fortuna dele brotou de uma hora para outra é puro engano. Em determinado momento, Senor preferiu retornar aos palcos dos camelôs, pois assim, pensava, ganharia mais dinheiro que fazendo locuções de comerciais nas estações radiofônicas. Mas seu sangue de comunicador popular ferveu e ele bateu à porta do rádio novamente. Agora, jamais sairia dele. Só para se aventurar nas garras da televisão.

A estréia na TV aconteceu em 1958, quando comprou horários para anunciar o recém fundado Baú da Felicidade. A idéia era simples demais: o cliente pagava mensalidades o ano todo e, no Natal, poderia retirar uma recheada cesta de brinquedos. Com o passar das décadas, Silvio Santos promoveu programas cujo patrocinador era o Baú e os contribuintes tinham a chance de ganhar prêmios de alto valor, como carros ou quantias em dinheiro. Na película de Guga de Oliveira este mote empresarial será explorado, pois foi daí que saíram possibilidades para Santos almejar possuir seu próprio canal de TV. O primogênito foi a TV Studios. Senor Abravanel, tendo Nóbrega como superintendente, em dezembro de 1975 se dirigiu a Brasília para assinar a concessão do canal 11 do Rio de Janeiro. Seis anos e meio depois, a 19 de agosto de 1981, ao vivo, era fundado o Sistema Brasileiro de Televisão, canal quatro de São Paulo, no lugar da falida e ultrapassada TV Tupi. O “Programa Silvio Santos” puxava a audiência aos domingos. No restante da semana, filmes e desenhos preenchiam a grade.

E quem convenceria como Silvio Santos? Edson Celulari seria realmente opção boa? Sempre quando se vai interpretar uma pessoa que existiu, a escolhido gera discussão. Dráuzio Varela, por exemplo, foi pessimamente representado por Luís Carlos Vasconcelos em “Carandiru” (2003). Com avantajado sotaque nordestino e demasiadamente apático na relação com detentos, Vasconcelos não agradou. Já Daniel de Oliveira convenceu como Cazuza em “Cazuza – O Tempo Não Pára” (2004). Principalmente pela aparência magra e gestos, Daniel surpreendeu. Ben Kingsley, em “Gandhi” (1982) foi extraordinário... Isto se comprovou com o Oscar a ele e à fita. Cinco anos atrás, Denzel Washington interpretou Hurricane, famoso lutador de boxe que ficou preso. Seu trabalho lhe valeu indicação à estatueta. Russel Crowe, ao fazer John Nash, matemático esquizofrênico em “Uma Mente Brilhante” (2001), deixou surpresos críticos por abandonar fama de encrenqueiro e carregar emocionalmente o papel. Outra indicação válida. Reproduzir alguém na pele de outra é delicado.

Silvio Santos tem hoje poucos programas no SBT. Diz estar cansado da correria das gravações. Porém, como nenhuma de suas filhas consegue se adaptar à rotina dos negócios das tantas empresas do pai, ele segue em frente. A escola de samba Tradição o homenageou no carnaval de 2001. Silvio aceitou desfilar e esteve no primeiro carro. Apesar da agremiação ter ficado somente na oitava posição, o animador chamou para si toda atenção da imprensa em geral. Como faz sempre. No lançamento da fita, sabe-se lá quando, ocorrerá a mesma coisa.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 28/05/2009
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