Entrevista de André Sturm (publicada originalmente em 16/10/2008)

“Hollywood pensa que temos 18 anos”, diz Sturm

Como é produzir e rodar um filme no Brasil, sobretudo em relação à distribuição? Quais são as maiores dificuldades?

Hoje a maior dificuldade é levantar recursos necessários. Existem muitos projetos disputando os mesmos recursos. Demora dois ou três anos para fechar o orçamento. Outros problemas são a queda de público e conseguir colocar gente dentro do cinema. [‘Bodas de Papel’ foi filmada entre meados de 2005 e início de 2006 e só estreou em maio de 2008, para se ter uma idéia]

Como se deu a adaptação de Helena Ranaldi, uma atriz especializada em TV, ao cinema? E qual a razão de você a ter escolhido para protagonizar o filme?

Estava escrevendo o roteiro e queria decidir a atriz do filme. Pensei em muitas, mas nenhuma me deixava entusiasmado. Uma amiga falou da Helena. Na mesma semana ela estava na capa de uma revista que vi na banca. E ela era a Nina que eu imaginava. A gente conversou e ela entrou no filme. Trabalhar com Helena Ranaldi foi ótimo. É muito profissional e dedicada.

‘Bodas de Papel’ tem excelente fotografia. Queria saber como foi a escalação das locações.

Procuramos a cidade pequena que pudesse servir. Achamos Monte Alegre do Sul, perto de Amparo e Serra Negra, no interior de São Paulo. Por ser no começo da montanha tem um clima perfeito, com pouca chuva, sol e frio. Isso propiciou uma bela luz.

Cleyde Yáconis, Walmor Chagas e Antônio Petrin fazem as participações especiais no filme. Muitas críticas afirmaram que o trio sustenta o roteiro, mais até que o casal protagonista. Qual a sua opinião sobre isto?

Eles são ótimos, mas a afirmação de que sustentam o filme é exagerada. A Helena está ótima e o Darío Grandinetti também.

Você, por ser um diretor e produtor jovem, provavelmente se espelhou ou se espelha em alguém do seu ramo. Quem são seus ídolos brasileiros e estrangeiros na sétima arte?

‘Bodas de Papel’ é bastante pessoal. Mas com certeza meu jeito de filmar e de trabalhar é resultado de muitas influências, pois sou antes de tudo cinéfilo. Meus diretores preferidos são muitos, mas eu destacaria Billy Wilder [diretor polonês que comandou sucessos como ‘Crepúsculo dos Deuses’ – 1950, ‘A Montanha dos Sete Abutres’ – 1951, ‘Quanto Mais Quente Melhor’ – 1959 e ‘Se meu Apartamento Falasse’ – 1960], Friedrich Wilhelm Murnau [diretor alemão de ‘Nosferatu’ – 1922], Francis Ford Coppola e Pedro Almodóvar.

Em 2009, a Pandora Filmes completa 20 anos. Quais foram os principais feitos da empresa: seus relançamentos nos cinemas com cópias novas, a distribuição de filmes estrangeiros ou as mostras de arte, as retrospectivas?

Em todas essas áreas teve eventos importantes. Trazer a versão integral de ‘O Leopardo’ [direção de Luchino Visconti, com Claudia Cardinali, Burt Lancaster e Alain Delon – 1963] foi bacana. Ter lançado ‘Paisagem na Neblina’ (1988) e ‘Não Amarás’ (1988), primeiros filmes de, respectivamente, Theo Angelopoulos [diretor grego – dirigiu ‘A Eternidade e um Dia’, de 1998, com Bruno Ganz] e Krzysztof Kieslowski [diretor polonês que esteve à frente da trilogia das cores: ‘A Igualdade é Azul’ e ‘A Liberdade é Azul’, ambas de 1993, e ‘A Fraternidade é Vermelha’ – 1994] no Brasil também foi muito bom. A retrospectiva do cinema russo que fizemos no Centro Cultural Banco do Brasil ou a retrospectiva completa de Orson Welles e Andrei Tarkovisky [realizador russo] na sala Cinemateca foram outros feitos.

A Pandora tem produções novas que já receberam elogios, como ‘Ainda Orangotangos’, do crítico de cinema Rubens Ewald Filho. Você, particularmente, como lida com as críticas? Qual a sua análise sobre elas?

É parte do trabalho. Fico chateado quando são ‘achismos’ gratuitos.

Em seu primeiro longa-metragem, ‘Sonhos Tropicais’ (2001), teve como um dos roteiristas o escritor Moacyr Scliar e trabalhou com atores do quilate de José Lewgoy e Hugo Carvana. Qual a importância desta bagagem para você, que na época tinha pouco mais de 30 anos?

Foi muito bacana. Moacyr deu muitas informações importantes e acreditou no meu potencial. E trabalhar com atores que eram meus ídolos foi uma experiência extraordinária.

Qual o motivo de atualmente os filmes de ação, aqueles cujo personagem principal é o efeito especial, terem mais público e renda? Em quais aspectos o público de cinema mudou nas últimas décadas?

Aumentou o público jovem. Eles gostam deste tipo de filme. Mas filme adulto também tem sucesso. Porém, parece que principalmente em Hollywood as pessoas do cinema acreditam que temos, todos nós, só 18 anos.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/10/2009
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