Este meu Corinthians centenário (texto-bônus ao Recanto das Letras)

Tem gente que diz que quanto mais se apanha mais se gosta de determinada situação. O corinthiano é assim. A prova é o substancial aumento de torcedores no momento da história do clube no qual não se ganhava um título há anos: entre 1955 e 1977, pipocaram ‘manos’ em São Paulo, principalmente, mas no Brasil também. Hoje pesquisas apontam 30 milhões, outras 25 milhões. Algumas falam em 35 milhões e até 40 milhões já ouvi. Não importa. Número não faz o preto-e-branco.

Eu mesmo me tornei corinthiano pelos quatro costados: pai, avô, bisavô e tio. Escapar era tarefa difícil. Nasci em 1982 e só em 1993 minha paixão pelo time foi parida. E que parto. Não disse que quanto mais se sofre mais se gosta? Pois bem. Aos 11 anos comecei o corinthianismo vendo a goleada do Palmeiras por 4 a 0 na final do Paulistão, tirando os verdes de uma fila de quase duas décadas. Pior: assisti à partida na casa de um palmeirense fanático. Tem dessas coisas vibrar por um clube cuja dramaticidade está nas veias e o amor ultrapassa o valor de tudo.

A partir daquele jogo, acompanho o time em todos os instantes. Sei de cor e salteado a história, seus principais protagonistas, datas de duelos inesquecíveis e tenho em minhas lembranças os gols que nem vi, os das cores do Corinthians, em preto-e-branco, por exemplo. Destes, o do limite da emoção é, para mim, o marcado em março de 1968 por Paulo Borges, fora da área, em um tiro lindo demais. Trata-se da quebra do tabu de 12 anos contra o Santos de Pelé e companhia.

O placar do jogo, 2 a 0, com o outro gol anotado por Flávio Minuano, calou aquela seleção brasileira do litoral de São Paulo. E o que dizer sobre a invasão do Maracanã em 1976, em plena semifinal do Campeonato Brasileiro, contra o Fluminense de Rivelino, o eterno ídolo da massa alvinegra que estava do outro lado? Cerca de 70 mil corinthianos lotaram os ônibus, caminhões, carros, peruas, motos, aviões etc. Por fim, viram o tento de meia bicicleta de Ruço, o beijinho doce de Osmar Santos. O Corinthians ganhou a partida na disputa de penalidades máximas. Haja emoção!

Como disse o jornalista Celso Unzelte, o jogador para atuar no Corinthians tem de ser trabalhador, isto é, se dedicar, ter raça na pele. Não precisa ser o talentoso, até porque estes, com raras exceções, nem dão certo no Parque São Jorge. O mesmo pode ser aplicado aos torcedores: não necessitamos ter gala e elegância extrema; se tivermos a paixão, empolgação e alegria, com qualquer roupa, em vermos o time, na vitória ou na derrota, já é o suficiente. Sofrer pelo Corinthians é o nosso cotidiano, nosso ganha pão. A emoção de comemorar um gol do Timão é inigualável. Aliás, que outro clube tem esta alcunha de Timão?

Hoje o Sport Club Corinthians Paulista completa 100 anos de vida. Que poesia maior poderíamos ter na festa do que 120 mil fanáticos no Anhangabaú gritando ‘Corinthians, meu amor!’? O meu maior ídolo, desde 1993, é Neto. Isto sem vê-lo levantar a taça de campeão brasileiro em 1990. E olhe que considero este título mais imponente se comparado aos outros três torneios que conquistamos: 1998, 1999 e 2005. Assim ainda gostaria de ter visto a final do Paulistão de 1988, contra o Guarani, por exemplo.

A sensação do corinthianismo se sente no ar. Cores simples, preto e branco no uniforme. Qualquer camisa branca é a do Timão. Os remos e a âncora, antes remetidas ao esporte náutico, hoje se pode dizer que são eles que sustentam a equipe, de qual modalidade for. São remos que servem para fazer avançar o Corinthians, sempre em frente. E âncora para fincar o clube nos momentos felizes, sorridentes na história.

Se já chorei pelo Corinthians? Já sim, mas vendo fitas antigas. Como não ter lágrimas com Osmar Santos narrando o gol de Basílio em 1977, aquelas bandeiras tremulando, como ele dizia? Segundos após o gol, ele deixou só o barulho do estádio, torcedores, rojões, gritos etc. Recentemente, como não ter os olhos úmidos ao ver aquele golaço de Elivelton na final do Campeonato Paulista de 1995, depois de sucessivas derrotas para o Palmeiras, em 1993 e 1994? Lembram-se de Luciano do Valle narrando o título de 1990? Nunca chorei por derrotas, só por vitórias, e por poucas. Estas que citei. Delas, só vi a de 1995.

Atualmente parece que tudo ficou certinho, careta, sem graça. Não pode isto, não pode aquilo. A violência superou tudo. Ver Mauro chutando a bola para a torcida nos gols de 1990 a gente não vê mais. Ídolos são exceções à regra. Hoje, Ronaldo? Não sei. Talvez estejamos exagerando. O outro sim, o goleiro. Nasceu no Corinthians, assim como centenas que podem até não ter nascido, mas suaram com a camisa corinthiana: Neco, Oreco, Cabeção, Cláudio Cristóvão de Pinho, Luizinho Pequeno Polegar, Baltazar Cabecinha de Ouro, Tobias, Gilmar dos Santos Neves, Roberto Rivelino, Roberto Belangero, Dino Sani, Paulo Borges, Super Zé Maria, Palhinha, Vaguinho, Geraldão, Wladimir, Doutor Sócrates, Casagrande, Neto, Viola, Ronaldo, Tupãzinho, Marcelino Carioca, Gamarra, Rincón, Edílson etc.

Parabéns Corinthians! Tudo de bom, para sempre. Espero poder comemorar os 150 anos agora!

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 01/09/2010
Reeditado em 01/09/2010
Código do texto: T2471941
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.