A necessidade do oposto (publicado originalmente em 14/12/2010)

Nada temos de conhecimento sobre viver sem diferenças. Já se tentou, mas os resultados e as consequências desta teoria foram movimentos como o nazismo, por exemplo. Fora esta teoria toda, o filme 'Megamente' (2010) institui que isto não dá certo. O que seria do Corinthians se o São Paulo ou o Palmeiras não existissem? Ou será que o Batman teria o que combater se o Coringa ou o Pinguim fossem pessoas normais? A verdade teria pouca graça sem a mentira. Assim por diante. 'Megamente' é inspirado em várias fitas. Começa com 'Superman' (1978). Mas ao invés de um indivíduo ser posto na nove rumo à terra, são duas criaturas: Megamente e Metroman. O primeiro é rejeitado totalmente por ter aspecto estranho – cabeça grande e azul. O segundo é o contrário: jovial, bela aparência e de charme impecável para com as meninas. O destino é cruel com o azulado. Ele se transforma no vilão de um único objetivo. Quer aniquilar Metroman, protetor-mor de Metrocity, espécie de Metrópolis. Enfim, ele consegue e dá um sumiço no super-herói. Mas e agora? É somente reinar por reinar? Não.

Dirigido por Tom McGrath (dos dois 'Madagastar' – 2005 e 2008), 'Megamente' é a reflexão sobre as razões que nos fazem procurar pela contradição, a rivalidade, a disputa. Assim que derrota o mocinho Metroman, Megamente fica sem saber o que aprontar. 'Agora que tenho tudo, estou infeliz', diz ele ao escudeiro peixe. Em determinado instante, se cansa de destruir prédios, escravizar pessoas e roubar bancos. É na repórter Rosane Rocha que o malfeitor encontra sua consciência. Porém, antes, ele tem a ideia de fabricar um novo herói, para ter com quem brigar. O roteiro de Alan J. Schoolcraft e Brent Simons, ambos estreantes no script, enche os olhos porque aborda características de adultos e não de crianças. Quando 'nasce' Titan, o tal novo super-herói, algo dá errado e Megamente necessita proteger Rosane. A inversão de papéis é discreta e categórica. Megamente acaba se apaixonando pela jornalista. O que vem a seguir? Ele sucumbe ao bom-mocismo e resgata Rosane ou se alia a Titan e faz dele o novo parceiro de crimes? O desfecho pode parecer meio bobo, mas é pura ilusão de ótica.

Outra inspiração ou homenagem é Capitão Marvel. Os uniformes de Metroman e Megamente são vagas recordações do personagem da DC Comics. 'Meu Malvado Favorito' (2010) também tem a sua porção aqui, pois o protagonista é o vilão. Rosane, que poderia ser confundida com a Lois Lane por ser repórter, enxerida e estar sempre em perigo, é referência a Roxanne Simpson, de 'Motoqueiro Fantasma' (2007). Ela, aliás, é o alterego de Megamente, como escrevi antes. Por isso, influencia-o. O vilão tem medo, é iletrado e só faz burradas. Podemos afirmar ser isto uma lembrança a Chapolin, de Roberto Gomez Bolaños? Trata-se de herói, mas com predicados semelhantes. Assim sendo, por tudo, 'Megamente' torna-se favoritíssimo para levar o Oscar de melhor animação e não se espante se estiver ainda na lista dos indicados a melhor roteiro original. Vamos ver se esta aposta está correta, já que os indicados à estatueta serão divulgados dia 25 de janeiro. A festa da premiação está marcada para 27 de fevereiro,Teatro Kodack, Hollywood. É esperar. 'Megamente' provavelmente se dará bem.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 22/12/2010
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