TERROR OU RETRATOS DE UMA PSICANALISE

Prof. Leonardo Lisboa

PALAVRAS CHAVES: psicanálise – simbologia – transtornos comportamentais – imaginário.

A uma primeira vista, a julgar pelo título ou pelo cartaz do cinema o filme, O Anti Cristo, parece ser mais um destes de terror. Mas ao conhecer seu produtor, Lars Von Trier, e ao assistir ao filme ( se o expectador aficcionado em horror barato não desistir nos primeiros trinta minutos por se frustrar ao perceber que não se trata de mais um deste gênero, e persistir na densidade do enredo) notará que a temática é outra.

Trata-se de um drama psicanalítico onde sexualidade e culpa orquestram a história.

Questiona o “freudianismo” em falas onde se critica a análise humana baseada em sonhos em que a cultura desenvolvida, acumulada e vivida em suas práxis no mundo semita – cristão (prefiro este termo ao de judaico – cristão) carrega em seu imaginário e comportamento refletido e produzido ao longo do desenvolvimento da humanidade.

As personagens se resumem quase somente a duas, marido e mulher, paciente e analista. São interpretadas por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg.

Os dois perdem o filho que ao acordar sai de sua cama, sobe na janela e, encantado com a neve que caia, se descuida e despenca-se para a rua. Enquanto isto, o casal vivenciava uma ardente cópula ao fundo de um canto lírico.

A esposa é uma escritora que pesquisava os maus tratos sofridos pelas mulheres por homens durante todo o decorrer da historicidade da humanidade. Ela se envolve com suas pesquisas sentindo aquelas dores todas sofridas em séculos e milênios pelo gênero feminino. Ela sofre por ser mulher também.

Sempre ela trabalhava em uma propriedade, uma cabana, no meio da Floresta Éden.

Na ocasião da morte de seus filhos, seu trabalho de escritora estava interrompido.

O marido é um psicanalista que deixa de atender a outros para tratar a própria esposa, que se mortificava pela culpa da morte do filho.

Se a masculinidade gera tudo isto no outro gênero, qual o efeito do feminino em seu oposto? Há de se perguntar.

O filme é rico em simbologia, a citar exemplarmente o nome da referida propriedade (Éden).

O enredo se desenvolve dividido em seções ou segmentos. Temos as seguintes partes como é do feitio do cineasta:

Prólogo, que é a parte que retrata a cópula do casal e a morte do filho. É filmada em preto e branco. Tons acinzentados anunciando a densidade e a obscuridade do enredo.

O filme segue seccionado em quatro capítulos. O primeiro traz por título ‘O Sofrimento’. Reporta-se à tristeza, ansiedade, tremores e auto-flagelação da esposa se estendendo ao marido que a quer ajudar e é envolvido pela sua relação não só de esposo como também de analista. Situação difícil para ele que tem que agir como sujeito, enquanto homem e marido, e como profissional.

Depois, com o anúncio de ‘Dor – O Caos Reina’ a história se desenvolve seguindo para o terceiro momento, o ‘Desespero’. Antecedendo ao ‘Epílogo’, um desfecho surrealista, tem-se a quarta seção que retrata a paranóia da mulher identificada como ‘Os Três Mendigos’.

Desta maneira o espectador tem a missão de fazer suas leituras subjetivas e interpretações tentando desvendar aquele mistério, ajudar a conflituosa mulher, cooperar com o analista, sentir a dor do enredo e torcer por um final feliz que não irá ver.

É deste conjunto que traçamos então nossas conclusões abaixo.

A morte do filho, que até então estava tranqüilo em seu quarto – seu mundo aconchegante de criança – representaria a morte da inocência e da pureza.

Este momento reflete uma passagem onde há inúmeros elementos possibilitando várias subjetividades.

O menino já na janela olha para o alto observando de onde vem os flocos da neve com todo um encantamento no olhar. Com isto ele, como se estivesse almejado o alto, a sublimidade, parecendo querer voar, ele cai no vazio da rua.

O casal transa torridamente entregues ao prazer. Uma garrafa (de vinho?) é derrubada. No banheiro, lugar onde se dá o ato sexual, o vapor é sugado pelo exaustor ( a eteridade indo embora para dar lugar à carnalidade ?). Neste momento, antes de ir para a janela, o filho contempla o coito que está sendo realizado pelos pais.

O nome da floresta ‘Édem”, sugere a religiosidade e será onde o casal vai tentar se curar. Estariam atrás da remissão de suas culpas?

Seria esta sexualidade o anticristo, a antireligiosidade, a antisublimação do ser humano?

A mulher opta por não tomar tranqüilizantes e enfrentar aquela perda, culpa e sofrimento. O marido com sua psicanálise tentará trazê-la à razão.

A mulher passa a querer cada vez mais novos atos sexuais. Busca nestes instantes o sofrimento carnal, deseja que seu marido a machuque. Recusa um ato carnal regado à afetividade.

Ao chegar na propriedade atitudes adversas acontecem. O marido, paciente psicanalista, tenta desenvolver exercícios para buscar a sanidade da mulher. Ela, ao contrário, cada vez mais se entrega a sua loucura.

Em uma destas atividades psicanalíticas o marido se coloca como sendo os pensamentos que perturbam a mulher e se identifica também como a Natureza da Humanidade. A mulher reage dizendo que esta é a natureza que faz mal ao gênero feminino..

Após este diálogo ela copula com o marido e deseja, pede e implora para ser machucada masoquistamente. O marido recusa-se e ela, então, o acusa de não amá-la. Ela, nua, vai para fora da cabana e na relva se masturba alucinadamente para sentir o prazer buscando também a dor provocada pelas mãos em sua genitália. O marido então aceita a perversidade ansiada. Coabitam animalescamente.

Ao chegar na propriedade atitudes adversas acontecem. O marido, paciente psicanalista, tenta desenvolver exercícios para buscar a sanidade da mulher. Ela, ao contrário, cada vez mais se entrega a sua loucura.

Em uma destas atividades psicanalíticas o marido se coloca como sendo os pensamentos que perturbam a mulher e se identifica também como a Natureza da Humanidade. A mulher reage dizendo que esta é a natureza que faz mal ao gênero feminino..

Após este diálogo ela copula com o marido e deseja, pede e implora para ser machucada masoquistamente. O marido recusa-se e ela, então, o acusa de não amá-la. Ela, nua, vai para fora da cabana e na relva se masturba alucinadamente para sentir o prazer buscando também a dor provocada pelas mãos em sua genitália. O marido então aceita a perversidade ansiada. Coabitam animalescamente.

.momento depois, já na paz da cabana, é encontrado o resultado da necropsia do filho que comprova uma certa anormalidade nos pés da criança. Fotos são vistas demonstrando que a mãe calçava os sapatos no filho com os pés trocados para lhe causar desconforto. Isto responde aos resultados da necropsia.

Ela, em surto novamente, acusa ao marido temendo que ele a abandone. No meio do devaneio dela eles voltam a coabitar. Ela ataca a genitália do esposo provocando-lhe o desmaio. Ela o masturba levando-o a ejacular sêmen e sangue. Logo a seguir, aproveitando a inconsciência do marido provocada pela dor infligida, ela perfura a perna do marido e a prende em uma pedra do esmeril na região do membro perfurado para que ele não fugisse, não fosse embora. Ao acoredar ele se arrasta buscando esconderijo. Ela o agride com uma pá.

Momento depois, já na paz da cabana, é encontrado o resultado da necropsia do filho que comprova uma certa anormalidade nos pés da criança. Fotos são vistas demonstrando que a mãe calçava os sapatos no filho com os pés trocados para lhe causar desconforto. Isto responde aos resultados da necropsia.

Ela, em surto novamente, acusa ao marido temendo que ele a abandone. No meio do devaneio dela eles voltam a coabitar. Ela ataca a genitália do esposo provocando-lhe o desmaio. Ela o masturba levando-o a ejacular sêmen e sangue. Logo a seguir, aproveitando a inconsciência do marido provocada pela dor infligida, ela perfura a perna do marido e a prende em uma pedra do esmeril na região do membro perfurado para que ele não fugisse, não fosse embora. Ao acoredar ele se arrasta buscando esconderijo. Ela o agride com uma pá.

Ela pede perdão parecendo ter voltado à lucidez. Porém tem novos surtos.

Insana outra vez adverte que quando os Três Mendigos chegarem alguém deverá morrer..

Ela busca de novo o corpo do marido para excitar-se. Quando está pronta sexualmente, ela, com uma tesoura, corta o próprio clitóris.

Ele, na cabana, visualiza por entre a janela as estrelas no céu e infere que os ‘Três Mendigos’ seriam uma constelação que a mulher em seu imaginário perturbado acredita existir. Ele também agora transtornado associa a trindade a três animais que parecem estar na cabana e que já haviam sido mostrados no cenário do filme: o cervo, o corvo e a raposa.

Em seu frenesi, o marido, encontra a chave que o libertaria daquela pedra. Ela o ataca tentando impedir que ele tenha êxito. Ele consegue se livrar e vê-se obrigado a matar a esposa incinerando o corpo.

Já um pouco recuperado de seus machucados físicos ele tem visões surrealistas enxergando novamente os três animais e fantasmas de mulheres que passam por ele. Seu imaginário e sua psique estariam também doente agora com a experiência traumática vivenciada nos últimos tempos com sua mulher e paciente?

Uma vez que gostamos de classificar as coisas para entender o mundo que nos rodeia como ordenaríamos esta obra cinematográfica? Um filme Cult, de arte, um tratado psicanalítico, um drama surreal? Ou algo bizarro que foge ao senso comum?

Vale assistir ao filme à guisa de desafio ao nosso entendimento e leituras subjetivas que podemos extrair.

P.S. O filme é dedicado à memória de Andrei Tarkovsky (1932 – 1986), cineasta russo que vai para Paris em 1983 e que tem como base de suas obras o caráter intimista, conciso e detalhista.

L.L. Bcena, abril de 2011.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 17/06/2011
Reeditado em 17/06/2011
Código do texto: T3040997
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