Dossiê Jango

Estou ciente de que não sou um colunista especializado em dicas para o fim de semana. Mas gostaria de fazer uma indicação: se você quiser ver um excelente filme, assista ao documentário “Dossiê Jango”, de Paulo Henrique Fontenelle. Segundo a sinopse da revista Festival do Rio 2012, o filme “traz à tona o conturbado período em que o ex-presidente João Goulart viveu no exílio e as nebulosas circunstâncias de sua morte”. O filme é desse ano.

Trata-se de uma boa chance de você ficar conhecendo uma parte importante da recente História brasileira – a que se refere ao “período negro de nossa História: a era das ditaduras militares latino-americanas”.

Também de você ficar sabendo como os Estados Unidos interferiram diretamente na precipitação do fim do regime democrático brasileiro em 1964 e na implantação da sanguinária ditadura que ocorreu a seguir. De você ficar conhecendo a figura de um estancieiro rico e carismático que, com o apoio incontestável da maior parte da nação, iria transformar o Brasil num país mais forte e desenvolvido com as suas Reformas de Base. E conhecendo muitos outros detalhes capazes de contribuir para o enriquecimento da sua formação política e moral.

Em 1964 Jango já falava em Reforma Agrária. O que, quase 50 anos depois, ainda não se concretizou. Nem com um partido dito dos trabalhadores ou de esquerda. Reatava relações com a extinta URSS e estabelecia entendimentos comerciais com a China de Mao, o que lhe valeu a preconceituosa rotulação de comunista, muito ao sabor da propaganda dirigida pelos Estados Unidos aos países da América Latina.

Que socialista/comunista era esse que pretendia, dentro do exeqüível, dar um título de propriedade a cada família que não tivesse onde morar? Quando sabemos que comunismo e propriedade privada, em princípio, são coisas que não se coadunam.

Preocupados à época com o engrandecimento do nosso país, os Estados Unidos colaboraram decisivamente para a retirada de Jango do poder, contando com o auxílio subserviente de nossos generais. Tendo por objetivo impedir que o exemplo de Cuba, a partir do Brasil, se alastrasse pela América Latina. Para esse fim, segundo a película, não faltaram atos terroristas, de concepção e materialização americanas, em que perderam a vida algumas personalidades e lideranças sul-americanas. O próprio Jango, conforme a sinopse referida, não teve a sua morte plenamente esclarecida, assim como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-governador Carlos Lacerda.

O filme nos coloca também diante de uma questão atual, que é a da constituição da Comissão da Verdade. Com a qual se pretende esclarecer o desaparecimento ou assassinato de inúmeros brasileiros vitimados pelas forças militares. E a partir da qual esperamos que os responsáveis pelos crimes cometidos sejam punidos. A exemplo do que aconteceu na Argentina em 1985! Quando o general Videla e outros foram condenados à prisão perpétua. Apesar de que existam ainda entre nós aqueles que, como o ex-presidente Collor, preferem que os segredos não sejam revelados. Esquecendo-se de que “o segredo de Estado contribui para a formação de um Estado secreto”.

Por tudo isso, ressalto a importância do “Dossiê Jango” como um potencial agente politizador, devendo ser visto por todos os brasileiros que não tenham ainda vergonha de terem nascido neste país incomparável.

Rio, 10/10/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 19/10/2012
Reeditado em 19/10/2012
Código do texto: T3940593
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