“Oh, captain, my captain!”

Ainda está difícil acreditar que Robin Williams tenha partido por escolha própria. A morte, mesmo sendo a nossa única certeza em vida, é sempre muito arrebatadora, principalmente na perspectiva do suicídio.

Quando um artista morre é como se deixasse um legado que ultrapassa a sua própria existência. No caso de Robin Williams, um legado de mais de quatro décadas com personagens carismáticos, fascinantes e de profundo valor existencial.

Apesar da sua brilhante carreira como comediante e da sua veia cômica como ator, foi nos dramas que ele mais me tocou. Nesta linha, o primeiro filme que assisti foi “Bom dia, Vietnã” (de 1987), no qual interpreta o DJ Adrian Cronauer, que durante a Guerra do Vietnã é recrutado para comandar um programa de rádio em pleno front. Ali eu vi um brilho nos olhos de um ator que sabia como poucos tocar no âmago da essência humana.

Talvez pela história de rompimento de valores conservadores, sempre tão instigante para mim, “Sociedade dos Poetas Mortos” (1990) é a atuação mais marcante de Robin Williams. O seu professor John Keating foi vivido com tanta verdade e profundidade que, em todas as inúmeras vezes que assisti ao filme, sempre fui tomado de grande emoção e muitas lágrimas. Ele foi (na trama e fora dela) o educador e filósofo que tanto me inspiram, capaz de instigar o amadurecimento em todas as nuances.

Sem querer estragar o prazer de quem não viu essa fantástica obra cinematográfica, digo apenas o quão forte é a cena do “Oh, captain, my captain!”, uma referência ao poeta estadunidense Walt Whitman e à ousadia proposta aos alunos para ultrapassarem a fronteira que separava o professor de uma escola tradicional do verdadeiro mestre da vida.

Reencontrei a mesma genialidade do ator de Sociedade dos Poetas Mortos no Chris Nielsen de “Amor Além da Vida” (1998) e no Hunter Adams de “Patch Adam – O Amor é Contagioso” (1998). Nos dois filmes suas personagens lidam diretamente com a sombra do suicídio. Em ambos prevalece a superação e a alegria de viver. Será por isso eu guardei a imagem de alguém capaz do mesmo na vida real? As notícias que circulam desde a sua morte mencionam um homem em profunda depressão, atormentado pelos fantasmas do álcool e das drogas.

Nos rápidos momentos em que imaginei um final diferente para Robin Williams, busquei duas opções em filmes nos quais ele também atuou nos papeis principais. A primeira é a meteórica, mas sublime, existência de Jack (obra com o mesmo nome, de 1996), um menino que nasce com um metabolismo quatro vezes mais acelerado que uma pessoa comum e se vê, por isso, tendo que degustar o bom da vida com toda intensidade. A segunda é a sábia longevidade quase humana do robô Andrew em “O Homem Bicentenário” (1999), um ser que teve tempo para aprender a se conhecer e a conhecer o melhor da humanidade. Em ambas o apagar da vida se dá com tamanha serenidade que é impossível se pensar em qualquer dor, em qualquer sofrimento.