Corman e o corvo (publicado originalmente em 24/11/2015)

Muito tempo atrás escrevi sobre Roger Corman neste espaço. Sou fã. Trata-se dum gênio do cinema e aficionado por narrar histórias. Ícone dos anos 60, fez filmes baseados em contos lúgubres, nefastos. Bebia de Edgar Allan Poe, principalmente. Corman se baseou numa poesia de Poe e rodou ‘O Corvo’ (1963). No elenco, os veteranos Boris Karloff (76 anos) Vicent Price (54) e Peter Lorre (59 – morreu meses após o lançamento, em março de 1964), e o novato Jack Nicholson (25 anos – o seu 7º filme).

A trama é até boba, mas vale a pena por todo o entorno. Mistura comédia, drama e terror, mas mais para a primeira categoria. O feiticeiro Craven (trocadilho com Raven, corvo em inglês, título original do poema e da fita) vive recluso em um castelo. Está de luto pela esposa Lenore (Hazel Court), para o desgosto da filha Estelle (Olive Sturgess). Numa noite, o corvo aparece. Na verdade, é Bedlo (Lorre), outro feiticeiro. Foi transformado na ave por Scarabus (Karloff) durante um duelo de magia. Craven (Price) faz Bedlo voltar ao normal. Ambos vão ao castelo por motivos distintos: Bedlo quer revanche; Craven quer rever a amada (suspeita-se que o fantasma esteja preso lá). Junto vão Estelle e Rexford (Nicholson), filho de Bedlo. Começa um festival de efeitos especiais de quinta categoria misturado ao roteiro risível de Richard Matheson (de ‘Eu Sou a Lenda’, 2007). E são estes ingredientes que fazem do filme um entretenimento especial, recheado de momentos de alegoria, de poesia e cenas caricatas.

A tarefa de Corman era a de dar chance aos novos, recuperar esquecidos e, com dinheiro minguado, confeccionar longas marcantes, inclusive com locações repetidas. A maioria de seus filmes tem esta característica. Dois deles, ‘A Pequena Loja dos Horrores’ (1960) e ‘Sombras do Terror’ (1963), nadam conforme este estilo. Em abril o cineasta completa 90 anos. Durante 15, entre 1955 e 1970, dirigiu praticamente 100% das películas. Apenas ‘Frankenstein: O Monstro das Trevas’ é d’outra época (90).

Ver Lorre, Karloff e Price é um deleite. Mostram que são o que são porque têm carisma estupendo e talento fora de curva. Lorre, dos clássicos cults ‘M: O Vampiro de Dusseldorf’ (31), ‘O Falcão Maltês (1941) e ‘Casablanca’ (42). Price e B.Karloff, com mais de uma centena de longas no currículo de cada um. Assisti-los a todos em cores é fazer parte da História... São lendas da sétima arte eternizadas nas imagens. Não se resiste! Se você é doente por cinema precisa recuperar as obras-primas de Corman.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 24/11/2015
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