Ode à perfeição (publicado originalmente em 28/4/2018)

‘Trama Fantasma’ saiu de mãos abanando da festa do Oscar, há um mês, mas sem qualquer sombra de dúvida foi o grande filme de 2017.

Estreou no Brasil em fevereiro, ficou cerca de 3, 4 semanas em cartaz, e quem o assistiu ficou impactado pela profundidade psicológica do enredo

(ponto 1), todas as expectativas de perfeição atingidas no todo – direção, interpretação, trilha sonora etc (ponto 2) e as referências a duas histórias da literatura universal: ‘Pigmalião’ e ‘Édipo Rei’ (ponto 3).

Paul Thomas Anderson, o diretor de ‘Trama Fantasma’, e Daniel Day-Lewis, o protagonista, compõem o universo de elegância, compulsão e mediocridade, simultaneamente. Lewis é Reynolds Woodycock, costureiro da alta corte inglesa dos anos 1950.

Metódico, rotineiro e irônico, ele ainda não se conformou com a morte da mãe. Leva uma mecha do cabelo dela no paletó. A figura da defunta alimenta os sonhos do estilista, o atormenta de forma avassaladora. Certo dia, Reynolds encontra Alma (Vicky Krieps), uma garçonete. Vê nela a modelo ideal para seguir nas agulhas e linhas. Leva-a à casa (dele, Reynolds).

E o cotidiano promete alterações. Ele tem na irmã, Cyril (Lesley Manville, indicada a coadjuvante), seu espelho materno. Ela tem força sobre ele, por exemplo. Barulhos irritam e incomodam Reynolds. Os minutos em que o som deve ser bem representado, Anderson eleva o

volume e faz com que o exagero possível do personagem de Lewis nos soe recalcitrante.

A dupla Anderson-Lewis, aliás, é famosa no mundo da sétima arte por suas convicções na perfeição. Se há um retoque de 0,01% a se fazer numa determinada cena ou sequência, ambos não economizam e refazem quantas vezes por necessário. Os espectadores de ‘Sangue Negro’ (2007), onde os dois trabalharam juntos, demonstra bastante isto.

A fita possui um ritmo alucinante e simultaneamente bem confeccionado. Tudo se encaixa de maneira avassaladora até. Em ‘Trama Fantasma’ estas características são igualmente caras. É deveras algo um tanto estafante, e eles sabem disto. Lewis, ganhador de 3 Oscars (‘Meu Pé Esquerdo’, 1989, ‘Sangue Negro’ e ‘Lincoln’, 2012) prometeu se aposentar a partir de 2018.

Tomara que repita alguns de seus vários colegas de set e volte atrás. As telonas precisam de mais profissionais como ele, determinados e objetivos. Seu Reynolds em ‘Trama Fantasma’ detém a magia do cinema dos anos 1940. Todo o seu script parece ter sido redigido naquela época. Ótimo para nós, amantes dos bons filmes. Duração: 130 minutos. Cotação: excelente.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 10/05/2018
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