À moda antiga (publicado originalmente em 19/5/2018)

Baseado no livro de Hillary Jordan, ‘Lágrimas Sobre o Mississipi’ (2017) concorreu a 4 categorias no Oscar – fotografia, canção, roteiro adaptado e atriz coadjuvante (Mary J. Blige), mas não levou nada. Produzida pela Netflix, é um drama racial épico, que lembra bastante os trabalhos que envolviam as sagas, como ‘Assim Caminha a Humanidade’ (1956), com as devidas comparações.

A direção de arte e a fotografia estão impecáveis. Na história, que se passa logo após o fim da Segunda Guerra, vemos a Florence, que se muda com o marido a uma fazenda no Mississipi. Eles são negros e no Estado as leis ainda são regidas por Jim Crow, que estabelecia limites entre brancos e negros.

Na verdade, 2 tramas paralelas se juntam. Henry e a sua esposa Laura vão pra o Mississipi pensando numa vida melhor. O trabalho é árduo e as recompensas são poucas. Enquanto isso, o irmão de Henry, Jaime, combate no confronto bélico assim como Ronsel, filho de Florence (Mary

J. Blige), esposa de Hap, arrendatário de Henry.

Quando a dupla de soldados retorna do front, tem de lidar com preconceito dos homens e mulheres locais, e precisam lutar com os fantasmas da guerra. A atuação de Mary é gigantesca. Como a leoa que cuida dos filhotes, as feições de sua personagem captam o sofrimento e a dilaceração desta vida que leva e com as decepções que tem.

É curioso analisar como a diretora Dee Rees e o roteirista Virgil Williams costuram o script: é por meio da lama, presente em quase toda a fita, que ‘Lágrimas Sobre o Mississipi’ caminha, um símbolo do aprisionamento e da existência paralisada de todos ali.

O pai de Henry, Pappy (Jonathan Banks), esconde segredos inimagináveis e foi outro tiro bem dado pelos produtores do elenco. A relação entre Ronsel e Jamie é ponto de fuga das tensões que povoam o longa e há até determinadas sequências que conseguem arrancar um leve sorriso.

Cada um voltou da guerra diferente – Jamie, o branco, é um profundo arrependido, e o pai o provoca perguntando-o quantos matou nas trincheiras; já Ronsel, o negro, é o oposto: está orgulhoso de seu papel e tem suas dúvidas acerca da vida que vai levar com a família. Enfim, um trabalho bem estruturado, que deixará as marcas devidas. Duração: 135 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 28/05/2018
Código do texto: T6348618
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