Amado Jorge (publicado originalmente em 9/5/2020)

A revista Veja, ao publicar a reportagem sobre a morte do cineasta Glauber Rocha, em agosto de 1981, informou que o diretor e roteirista estava praticamente contratado pela TV Globo para elaborar ideias ao programa Globo Repórter, criado na década de 1970, quando o documentarista Eduardo Coutinho era o responsável pelas histórias e filmagens.

Mas já a partir do fim destes anos 70, Glauber vivia bem imerso em viagens não necessariamente de lugares para lugares. Consumia drogas como a maconha e o LSD em doses cada vez maiores. Estava paranoico com um leão que o perseguia em todo canto (?!) e residia em Sintra, cidade portuguesa.

Em 1979 finalizou o seu último média-metragem, 'Jorjamado no Cinema', onde, à maneira glauberiana– câmeras sem tripé, edição sem nexo, imagens descompassadas – entrevista o escritor Jorge Amado e o acompanha na noite de autógrafos de 'Tieta', livro que depois de alguns anos foi transportado à telinha, na novela de Aguinaldo Silva (1989), e à telona, sob direção de Cacá Diegues (1996).

Glauber era muito amigo de Jorge, as famílias se frequentavam e por diversas vezes o autor de 'Capitães de Areia' auxiliou o diretor de 'Terra em Transe' (1967) em situações onde o dinheiro faltava a Glauber, que queria ganhar seu salário, antes de mais nada.

Por encomenda, rodou, por exemplo, 'Amazonas, Amazonas' (1965) e 'Maranhão 66' (1966). 'Jorjamado no Cinema' não está nesta categoria, mas sim na de homenagem a um companheiro de vida e ídolo, como ocorreu em 'Di – Glauber' (1976), onde o cineasta filmou o velório do pintor Di Cavalcanti e levou no Festival de Cannes o Prêmio Especial do Júri de Curta-Metragem.

Jorge dá depoimento a Glauber sobre o seu processo de construção dos livros, criatividade, o pensamento acerca do Brasil, e as perspectivas ao futuro. Na sala de casa, o escritor está à vontade e com disponibilidade e paciência cumpre as orientações de Glauber.

O documentário de Silvio Tendler, 'Glauber: Labirinto do Brasil' (2004), mostra o quanto era preciso ter serenidade para suportar as loucuras dele. Duração: 50 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/05/2020
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