A hora da estrela (publicado originalmente em 12/12/2020)

As minhas retinas ainda guardam, espantadas, a imagem da entrevista de Clarice Lispector a um programa da TV Cultura em 1977, poucos meses antes de sua morte. Vi-a em 2004 numa dessas reprises que a emissora felizmente exibe.

Agora, neste dezembro de 2020, quando a escritora ucraniana-brasileira chega ao centenário, comento aqui sobre 'A Hora da Estrela' (1985), longa-metragem baseado no best seller de Clarice e que revelou a atriz Marcélia Cartaxo ao mundo.

Dirigido por Suzana Amaral, que por sinal morreu em junho deste 2020 infindável, a fita reproduz de modo fiel o trágico destino de Macabéa, a nordestina de 19 anos, semianalfabeta, órfã, que vai a São Paulo em busca de emprego. Vai morar uma pensão bem pobre e é indiferente às emoções.

Ao conhecer o conterrâneo Olímpio, um metalúrgico, começa a namorá-lo. Mas a relação dura pouco porque Glória rouba o amado da protagonista, por recomendação de uma cartomante. A amiga indica a adivinha a Macabéa, que decide saber sobre o seu futuro. A 'paranormal' revela que a vida da moça mudará para melhor. 'Você ganhará uma grande fortuna e se casará com um gringo lindo'.

Porém, ao sair da consulta, é atropelada por uma Mercedes e morre instantaneamente. No elenco, além de Marcélia, estão José Dumont (Olímpio), Fernanda Montenegro (cartomante) e Tamara Taxman (Glória).

É a segunda vez que escrevo sobre 'A Hora da Estrela' neste espaço - a primeira foi em 2013. Resolvi emprestar o título do filme para homenagear Clarice, figura tão doce e capaz de se doar ao máximo por uma obra.

Apontado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 melhores filmes nacionais do século 20, a fita ganhou vários prêmios, como o Urso de Prata e atriz no Festival de Berlim - recebeu também o prêmio da crítica. Suzana levou o troféu de diretora no Festival de Havana e conquistou 6 taças no Festival de Brasília.

O emblema da película é a fatal pergunta de Macabéa a Olímpio em uma de suas discussões sobre a vida. Ela o indaga: 'Ser feliz serve para quê?'. Basta esta questão para resumirmos muita coisa na nossa singela existência. Duração: 96 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 05/01/2021
Código do texto: T7152558
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