O ator e o monstro (publicado originalmente em 6/3/2021)

Há um documentário francês na praça, disponível na Globoplay: 'Dr. Jack & Mr. Nicholson', dirigido e roteirizado por Emmanuelle Nobécourt. Gravado em 2018 e lançado em meados do ano passado, mostra trechos da carreira de pouco mais meio século do multipremiado intérprete americano, intercalados com entrevistas de amigos e cineastas.

'Sem os óculos escuros sou apenas um senhor quase careca, barrigudo e idoso, sem nenhuma graça. Com eles, sou Jack Nicholson'. A frase, proferida a um ex-colega de escola, define com eficácia a biografia do artista. Outra: 'Jack usa os óculos escuros para esconder sua alma. Ele não quer que saibamos seus sentimentos'.

Nicholson, fora das telonas há mais de 10 anos (a última participação foi no sofrível 'Como Você Sabe'), saiu de cena sem o alarde que sempre provocou a cada novo trabalho. Emmanuelle resgatou partes de entrevistas nas quais revela um profissional dedicado e perspicaz, fruto de antigos traumas familiares (a mãe que não era mãe, e por aí vai) e maus tratos na infância-adolescência.

Ao assistirmos a 'Dr. Jack & Mr. Nicholson' - título em alusão a 'Dr. Jekyll e Mr. Hyde', 'O Médico e o Monstro', livro clássico do século XIX, de Robert Louis Stevenson -, descobrimos que o eterno Coringa de 'Batman' (1989) foi rejeitado no início da carreira por ter 'voz anasalada', ser 'calvo demais à idade', além de 'estar acima do peso' e ter um 'rosto fora dos padrões de Hollywood'.

Quem diria. Depois disso, conquistou 3 Oscars, a estrela na Calçada da Fama e as mulheres que quis. Trabalhou com diretores que admirava, como Kubrick e Antonioni. Porém, o documentário descortina a grande frustração: não ser reconhecido como diretor. Tentou, mas os longas resultaram em fracassos retumbantes - 'O Amanhã Chega Cedo Demais' (1971), 'Com a Corda no Pescoço' (1978) e 'A Chave do Enigma' (1990), esta a sequência do noir 'Chinatown' (1974).

Já escrevi algumas colunas sobre Jack Nicholson e tive o prazer de vê-lo atuar no cinema menos vezes do que desejei, mas suficientes para detectar pitadas de genialidade, o que faz dele, ao meu ver, uma das estrelas da Sétima Arte dos últimos 50 anos. Duração: 54 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 21/03/2021
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