Lenços ensopados (publicado originalmente em 27/3/2021)

Está em cartaz na Netflix há alguns meses um curta-metragem de animação chamado 'Se Algo Acontecer... Te amo' (2020). Dirigido e roteirizado por Michael Govier e Will McCormack, esta pequena obra de arte viralizou pelas redes sociais por um único motivo: ter a capacidade de fazer o espectador chorar litros e litros durante e depois da exibição.

A trama, óbvio, tem história tristíssima: um casal está afastado e frio por não conseguir parar de lembrar da filha, garota de seus 8 ou 9 anos, que foi assassinada num tiroteio dentro da escola. Mais atual impossível. Os traços são tão singelos que nossos olhos se enchem de água nos primeiros segundos.

Não há uma só palavra pronunciada, porém, sabemos das recordações, momentos felizes, brincadeiras, enfim, tudo o que os pais viveram ao lado da menina. A carga de emoção depositada na animação é incomensurável, para dizer o mínimo.

Parece que estamos sentados na cama do casal, ao lado deles, tentando convencê-los a se olharem de novo, darem as mãos e procurar alguma forma de seguir em frente, mesmo com o enorme buraco que se abriu em seus corações. Govier e McCormack exploram muito bem cada pequeno detalhe e deixam o público com vontade de entrar na tela e colocar no colo aquele pai e aquela mãe.

Os minutos vão passando e misturamos sentimentos - tristeza, raiva, culpa, comiseração, ternura, meiguice, companheirismo, finitude etc. Recomendo que você fique com um lenço e sinta-o ser molhado a cada nova cena, a cada novo movimento dos personagens.

A sensibilidade dos cineastas foi tamanha que não é necessário que tudo seja exibido, porque sabemos interpretar cada passo, angústia. 'Se Algo Acontecer... Te amo' nos hipnotiza de modo incomparável e não conseguimos nos desvencilhar quando termina. Os desenhos trabalhados com sombras é outro ingrediente que nos conquista de imediato.

Ali estão perigos, ameaças. Quando a garota está indo à escola e as sombras tentam, em vão, impedi-la, quase um grito saiu de minha garganta, dizendo: 'Não vá! Não entre aí!'. É a dor e a esperança - eis o que nos faz viver um dia de cada vez. Duração: 12 minutos. Cotação: excelente.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 20/04/2021
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