O filme que Bergman rejeitou (publicado originalmente em 15/1/2022)

Não era segredo que o diretor Ingmar Bergman odiava ter feito 'Isso Não Aconteceria Aqui' (1950), filme sobre um espião nazista. Encarou a trama apenas por dinheiro e minutos após dizer seu último 'corta' estava arrependido. A empreitada, anticomunista, não é ruim em seu todo.

O começo, de tendência noir, mostra a chegada de Atkä Natas (Ulf Palme) à Suécia. Ele é agente secreto do regime opressivo de Liquidatzia, país fictício da Europa que faz referência às nações bálticas que sofriam nas mãos dos soviéticos quanto nas dos suecos, finlandeses. Atkä visita a esposa Vera (Signe Hasso), química que é do grupo rebelde comprometido a retirar ilegalmente pessoas da ditadura de Liquidatzia.

O processo de criação do medo, sugestões políticas, conversas sobre revoluções vitoriosas e derrotadas e provocações entre capitalismo e socialismo abundam. A fita ganha com intrigas, mas perde com a forma confusa com que o grupo antirrevolucionário é exposto e qual é a intenção de cada lado da moeda.

Para completar, entra em cena Almkvist (Alf Kjellin), policial honesto, antigo amante de Vera. Ele se reaproxima dela durante uma investigação. O problema da pátria receptora, atitudes xenofóbicas de alguns e enfrentamentos de refugiados com a polícia são elementos que, embrulhados em ideologias, resistem ao tempo e assombram o mundo contemporâneo, incluindo a Suécia.

Em dado ponto, boas sequências dão lugar a confusas redes de agentes secretos perguntando coisas, torturando Atkä e nos distraindo, destoando da temática principal, retomada no fim, com ótima exploração do espaço aberto pelo fotógrafo Gunnar Fischer e boa criação da atmosfera de suspense por Bergman.

É compreensível que o diretor não tenha gostado da fita, pois não era o que o cineasta estava acostumado a fazer. Apesar das muitas trapalhadas, 'Isto Não Aconteceria Aqui' tem conotação estelar. Há muitos elementos históricos, sociais e ideológicos que, se contextualizados de maneira fidalga, podem gerar os debates, ainda mais nesta época em que vivemos numa outra ditadura, bem pior, a do politicamente correto, dos mimimis, essa chaga e praga que nos assola há anos por meio de uma patrulha tosca, sem-noção e sem talento para nada. Duração: 84 minutos. Cotação: regular.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 28/01/2022
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