Adaptação fraca (publicado originalmente em 14/5/2022)

Para quem leu ‘A Revolução dos Bichos’, de George Orwell, assistir à adaptação televisiva lançada em 1999 como longa-metragem é uma baita decepção. A fita, disponível na íntegra no youtube, transfere as páginas de maneira ansiosa e sem se preocupar com alguns detalhes da obra literária que, aliás, tem muitas semelhanças com ‘1984’, do mesmo autor (tema deste espaço há duas semanas).

Dirigida por John Stephenson, que estreava no ramo (era do setor de efeitos especiais), ‘A Revolução dos Bichos’ na TV tem pelo menos um mérito: de conseguir cristalizar os animais em suas falas, com as bocas mexendo de maneira quase ‘verdadeira’, devido, claro, aos efeitos visuais organizados por Stephenson. A história mostra a revolta dos animais da Fazenda Solar com o dono, sr. Jones, beberrão que os maltrata diariamente.

Liderados pelos porcos Napoleão e Bola de Neve, os quadrúpedes tomam o local e começam a cuidar da fazenda. Aos poucos, porém, os vícios dos humanos se manifestam em Napoleão, que se transforma num impiedoso ditador e passa a morar no interior da fazenda, dormir numa cama e negociar com os humanos, descumprindo os mandamentos, que, aos poucos, são deturpados e reescritos.

Garganta, o porco fiel escudeiro, é o responsável por espalhar lorotas aos habitantes, enganando aos demais bichos com histórias mentirosas. A frase ‘todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros’, exposta no desfecho da trama, é a moral do livro. Há símbolos óbvios, críticas de Orwell ao socialismo soviético das décadas de 1940 e 1950, que flertam com o despotismo mais cruel, vide o genocídio promovido por Stalin e sua trupe.

Todavia, a adaptação da TV conclui o script de maneira brusca, dando uma esperança que não está presente nas páginas. O leitor, por exemplo, leva um choque na sequência em que os porcos conseguem andar com duas patas, virando espelho do homem, inclusive nas feições, fazendo de todos os ‘compatriotas’ seus eternos escravos, botando o medo de que, se não fosse isso, ‘o sr. Jones volta e, com ele, o terror’. No filme, 2 segundos disso. No mais, necas de pitibiriba. Duração: 91 minutos. Cotação: ruim.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 23/05/2022
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