NATAL - ENFEITES, PRESENTES E POLÊMICA

O Natal, principal celebração dos cristãos, não é unanimidade entre os evangélicos

Árvore de Natal, presépio, guirlanda, luzes piscantes... Você já imaginou como seria o Natal sem eles? Fim de ano é época de enfeitar casas e lojas e entrar no tal espírito natalino, que enche corações e mentes nessa época. Principal festa da cristandade, o nascimento de Cristo tem muitas formas, e foi adquirindo características diferentes em cada sociedade onde é celebrado. Mas o que é unanimidade entre as pessoas em geral gera algumas controvérsias no segmento evangélico. Não são todos os crentes que festejam o Natal – e muitos dos reticentes argumentam que todos esses adereços têm origem pagã, sendo impróprias, contudo, para uso em igrejas e lares cristãos. Por outro lado, muita gente argumenta que o Natal não é mencionado nas Escrituras, restando controvérsias até mesmo acerca da data do nascimento do Filho de Deus na terra. Consumismo, bebedeiras e outros exageros nos festejos são motivos mais do que suficientes para que muitos evangélicos prefiram manter-se à parte do clima natalino.

A bem da verdade, é preciso lembrar que o Natal que hoje conhecemos teve origem num festejo pagão, o do nascimento do Sol. Veio daí o mitraismo, espécie de culto instituído a partir do ano 274 pelo imperador romano Aureliano para fazer frente a uma festividade que já fazia parte do calendário cristão. A basear-se por teorias históricas, o argumento de determinados grupos de evangélicos em relação à “descristianização” do Natal é completamente desprovido. Contudo, há outros argumentos usados para tirar da data a importância que lhe é atribuída. Com o rigoroso inverno da Judéia, no mês de dezembro, os pastores costumavam, principalmente à noite, recolher seus rebanhos para as estribarias, a fim de protegê-los do frio. Logo, não poderiam estar em vigília nos campos, ao ar livre, conforme descreve o evangelho de Lucas 2.8-13.

De acordo com Joaquim de Andrade, professor de teologia e pastor da Igreja Missionária Evangélica Maranata na Tijuca, Rio de Janeiro, controvérsias em relação à data exata em que Jesus nasceu não invalidam o propósito do Natal. “O que importa é o propósito, não a data”, acredita o religioso, que também é apologista e presidente do Centro Religioso de Estudos e Informações Apologéticas (Creia). Para Andrade, são vários os motivos que, na opinião de alguns crentes, contribuem para a rejeição aos festejos natalinos, principalmente em relação à figura do chamado Bom Velhinho. “Papai Noel é um personagem místico com atributos divinos, incluindo onisciência e onipotência”, descreve. “Ele distrai a atenção de Cristo no Natal. As crianças perdem a fé nos pais quando descobrem que ele não é real, e sua presença ainda as ensina a serem materialistas”, enumera.

Contudo, o pesquisador defende que, independente das objeções impostas ao gorducho de roupa vermelha, é perfeitamente possível a celebração da data sem sua simbólica presença. “Retire Papai Noel e o Natal permanece intacto. No entanto, retire Cristo – e tudo que sobra é uma festa pagã”.

“Jesus não nasceu” – Se o tradicional pinheirinho é um adereço quase obrigatório nos ambientes familiares no mês de dezembro, crentes de diversos segmentos denominacionais o rejeitam, associando-o ao objeto descrito no livro do profeta Jeremias, cujos versículos 10.3-4 dizem o seguinte: “Pois os costumes dos povos são vaidades; corta-se do bosque um madeiro e se lavra com machado pelas mãos do artífice. Com prata e com ouro o enfeitam; com pregos e com martelos o firmam, para que não se movam”. “Certamente há uma semelhança entre a coisa descrita e a árvore de Natal; no entanto, semelhança não é igual a identidade”, pondera o pastor Joaquim de Andrade, defendendo a tese de que profeta se referia a um ídolo – a representação de um falso deus.

“Jesus não nasceu, ele é eterno, tomou carne sobre si e veio ao mundo para cumprir seu propósito de salvar o homem e levá-lo consigo para a eternidade. Por isso, respeito mas não comemoro o Natal”, comenta Ana Lúcia Barone de Santana, que é membro da Comunidade Evangélica em Vila Nova Cachoeirinha, bairro da zona norte de São Paulo. Embora concorde com o teólogo acerca do risco das interpretações literais das Escrituras – “Não podemos isolar um versículo do contexto bíblico” –, ela prefere passar o Natal longe de tudo aquilo que, para a maioria das pessoas, é a própria essência da festa: os enfeites, festas e presentes. De qualquer forma... feliz Natal a todos!

A trajetória de um mito

Conta-se que Nicolau foi um religioso muito querido pelos cristãos de seu tempo, por volta do século 4 da Era Cristã. Diz a tradição que ele era muito generoso, e tinha o costume de dar pequenos presentes às crianças carentes. Sua fama correu e, pelos milagres que lhe foram atribuídos, foi nomeado bispo da cidade de Mira, na Ásia Menor (hoje, a região compreendida pela Turquia). Após sua morte, a figura de Nicolau conquistou devotos. Além de artistas medievais que o reproduziam em suas artes, até o imperador romano Justianiano I rendeu-lhe homenagens, construindo uma igreja no século 6 em Constantinopla – atual Istambul, capital da Turquia.

Com a Reforma Protestante, o culto a São Nicolau praticamente minguou na Europa, restringindo-se somente à Holanda, tradição essa que os colonizadores levaram para a América no século 17. Em pouco tempo, o mito do Sinterklaas holandês conquistou os americanos, que começaram a chamá-lo de Santa Claus. Numa estratégia de marketing para conquistar o público infantil, a gigante dos refrigerantes Coca-Cola contratou cartunistas para dar novas feições ao personagem por volta dos anos 1930. O Papai Noel, como é conhecido hoje, com sua roupa vermelha e branca – alusiva às cores da empresa –, bochechas rosadas e pinta de vovô gentil, surgiu a partir dos esboços de um artista sueco chamado Haddon Sundblon. Detalhe – conta-se que o desenhista era um beberrão inveterado.

Fonte: Revista Eclésia - Edição 129

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 02/12/2008
Reeditado em 14/05/2010
Código do texto: T1315091
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